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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A resposta da Articulação de Esquerda, uma tendência “revolucionária”


Folha sempre picante

A Folha de S. Paulo publicou, na edição de 4 de dezembro, a seguinte nota: "a Articulação de Esquerda, ala petista do ministro da Pesca, Altemir Gregolin, questiona a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. 'BC e ministérios continuarão sob o controle da centro-direita e do grande capital?', pergunta o Página 13, jornal da corrente".

A Folha poderia ter escrito assim: jornal de tendência petista apresenta várias questões acerca da candidatura de Dilma Roussef. Mas como o negócio é criar confusão, preferem dizer que "ala do ministro questiona Dilma". Assim, um debate partidário vira conflito entre ministros e a discussão política é fulanizada.

Vejamos o que diz a respeito o texto original, assinado pela direção nacional da Articulação de Esquerda e intitulado "Acumular forças para 2010": A eleição presidencial de 2010 terá profundos desdobramentos para o povo brasileiro, para a América Latina e para a esquerda, nesta ordem.

Ao contrário do que diz o prefeito Pimentel, a vitória de Serra seria um desastre para as camadas populares, enfraqueceria os governos de esquerda e progressistas em nosso continente, criminalizando os movimentos sociais e os partidos de esquerda, a começar pelo PT (...)

Caberá ao IV Congresso do Partido definir nossa candidatura presidencial, as diretrizes de programa de governo 2011-2014, a política de alianças e a tática de campanha, tanto nacional quanto estaduais (os encontros estaduais ocorrerão depois do IV Congresso e com base nas diretrizes debatidas neste).
Entretanto, como é sabido, algumas destas decisões já estão sendo tomadas desde agora, basicamente por Lula, com maior ou menor consenso no Partido.

Isto ocorre por dois motivos fundamentais: a antecipação da disputa presidencial e a relativa incapacidade da direção nacional do PT, de antecipar-se e de fazer prevalecer uma dinâmica coletiva e partidária. Seja como for, algumas variáveis já estão bastante claras.

A eleição de 2008 confirmou a polarização PT versus PSDB, que deve repetir-se em 2010, tendo Dilma Rouseff e José Serra como prováveis e respectivos candidatos. Ambos buscarão apoios no chamado "centro", que inclui desde setores sociais até partidos políticos que oscilam entre os dois competidores.
A candidatura do PT terá, ademais, o desafio de ganhar o apoio do eleitorado petista e lulista, bem como o apoio da militância de esquerda e democrático-popular.

O engajamento de Lula ajudará nisto, mas a candidata terá um papel crescente e determinante, não apenas em termos de desempenho individual, mas principalmente em termos de programa de governo, no sentido amplo da palavra.

Isto será tão mais importante, quanto mais a conjuntura da disputa presidencial seja influenciada pelos impactos da crise internacional, impactos que serão mediados (econômica e politicamente) pela reação do governo brasileiro, do grande empresariado e das camadas populares. (...)

Enfrentamos as eleições de 2008 num cenário ainda favorável e obtivemos um resultado aquém do necessário. Enfrentaremos as eleições 2010 num cenário diferente e pior, pois mesmo que tenhamos total êxito na administração da economia, ainda assim haverá desaceleração, com todas as conseqüências derivadas.
O que quer dizer que teremos que "compensar", no terreno da política (debate ideológico, mobilização social e partidária, medidas legislativas e de governo), os prejuízos decorrentes da crise. E só venceremos as eleições presidenciais de 2010, se conseguirmos conduzir desde agora uma disputa de projetos, semelhante ao que fizemos no segundo turno de 2006.

Se para a América Latina e para o Brasil está claro o que significaria uma vitória de Serra e de Dilma, por outro lado ainda não está definido o que significará, para o projeto estratégico do PT, a eleição de Dilma Rouseff para a presidência da República.

Um governo Dilma se aproximará mais ou se afastará mais do programa e da estratégia do Partido? Os temas sociais, democráticos e nacionais terão que prioridade e velocidade de implementação? Em particular, que tipo de desenvolvimento será implementado: mais pró-monopolista ou mais democrático-popular? O Banco Central e importantes ministérios continuarão sobre controle de partidos de centro-direita e de quadros ligados ao grande capital? A relação com o Partido, com as esquerdas e com os movimentos sociais será mais ou menos orgânica?

Seja em caso de vitória, seja em caso de derrota, o PT será chamado a cumprir um papel superior ao que cumpre hoje. Atualmente, o centro de formulação e direção estratégica foi transferido para o governo federal (vale dizer que o mesmo ocorre, em geral, naqueles estados e municípios onde o executivo é encabeçado por um petista).

Em caso de vitória, estaremos diante de uma presidência da República muito forte, mas sem a mesma autoridade política que o atual presidente desfruta junto a amplos setores sociais. Neste cenário, ou bem o Partido ganha maior protagonismo, ou a oposição ganhará mais espaços do que possui hoje. (,,,)
O PED deve debater estas questões, inclusive os temas político-organizativos e o balanço do governo Lula. É fundamental dialogar com as preocupações do maior número possível de petistas, debater com quem não está no dia-a-dia do Partido, com quem está dentro e fora do Partido".

Quem tiver interesse em conhecer a versão integral do texto, é só procurar no www.pagina13.com.br

Artigo de Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, e dirigente nacional da Articulação de Esquerda, tendência interna do PT.

..............

Estou publicando o artigo de Valter Pomar atendendo a um pedido educado de dirigente da AE/RS. Semana passada, este blog reproduziu a pequena nota da Folha, referida no artigo acima, e que motivou o artigo da AE.

A meu juízo, a Folha pegou leve com a AE, reproduziu um trecho ameno do documento da tendência petista. Quando reproduzi a nota da Folha, eu já havia lido o documento da AE, no seu portal Página 13. Optei por colocar no ar a nota do jornal dos Frias. Se fosse comentar outros trechos, a coisa ficaria menos barata.

É curioso que uma tendência político-partidária que se diz “revolucionária” (acreditem!, está lá no portal) tenha uma visão tão estreita e bisonha sobre o próprio terreno onde fincou suas raízes militantes. Chama a atenção este trecho do texto dos “revolucionários”: “Um governo Dilma se aproximará mais ou se afastará mais do programa e da estratégia do Partido?” – pergunta a AE.

Agora, quem pergunta é este blog DG:

1) Que programa, cara pálida?
2) Que estratégia, cara pálida?
3) Que Partido, cara pálida?

Quanto à reprodução de documentos de tendências petistas – revolucionárias e não-revolucionárias – aqui no blog, tenho a declarar o seguinte:

1) Este blog DG não é democrático, tem soluços democráticos, o que é diferente, por isso estamos abrindo esta exceção à tendência “revolucionária” petista. O correto seria publicar o artigo de Pomar na parte de comentários do blog, como fazem dezenas de gentis leitoras e leitores diariamente.

2) Nenhum blog unipessoal, como este, pode ser democrático em si, deve sim, propugnar pela democracia nas relações sociais, mas não pode contemplar/publicar as múltiplas vozes e polissemias da sociedade, sob pena de tornar-se esquizofrênico, populista, e anular a sua própria voz e personalidade política. Um blog não é um serviço público.

3) O soluço já passou.

16 comentários:

Anônimo disse...

Excelente, Cristóvão.

Anônimo disse...

Falou bem e não guspiu ninguém!

Anônimo disse...

A posição dessa tendência é triste assim como são tristes os personagens a ela pertencentes.

Anônimo disse...

O que o prof Neumann pensa sobre essa corrente "revolucionária" se ele ainda pensa?

Anônimo disse...

Caramba amigo. Vou abrir outra garrafa verde e esperar pelo "soluço". Abração.

Robert Snows disse...

Esses revolucionários perdidos no PT me lembram o Pedro Simon chamando o PMDB de MDB.

Anônimo disse...

o professor está amando, ainda que tardiamente

Anônimo disse...

Tenho acompanhado com algum interesse o destino do PT, que se encontra devidamente pasteurizado como bem diz Frei Beto em artigo no último Le Monde Diplomatique.Revolucionário? No máximo o PT é hoje uma espécie de PTB (o velho) reciclado.Cumpre algum papel civilizador face à barbárie das elites brasileiras. Mas a médio prazo estaremos todos mortos - eu antes dada a idade avançada - como espécie ouso dizer dada a crise ecológica. Saudações eco-socialistas do quase além-túmulo.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Franz Neumann continua espartaquista. 1918 já passou, professor!
Outra coisa, Serra e Dilma estão localizados no mesmo pólo político ideológico, mas o governador é muito mais experiente e arejado.

Anônimo disse...

O Serra está no mesmo campo da Yeda e do Busatto. Aliás mesmo campo, mesmo partido, e o mesmo "arejamento".

Claudio Dode

Anônimo disse...

Serra, Yeda, Busato... todos querem queijo, muito queijo!

Anônimo disse...

O FHC já definiu, Serra é centro direita.

Fabrício Nunes disse...

Hehehe... Minha única dúvida é sobre Serra ser mais experiente do que Dilma.
O resto, Feil deixou "peremptório".

Anônimo disse...

Faço minhas as palavras do Marcelo! Boa, Feil!

Anônimo disse...

Muito bom Feil, vc colocou a AE no lugar dela, ou seja, na medíocre insignificancia da demagogia de onde nunca saiu.

rodrigo sm disse...

Parabens feil, essa tendencia que se diz revolucionaria na verdade é uma catastrofe na esquerda com suas praticas confusas que deseducam o povo , sao antipedagogicos, e demagogos, pois suas praticas ja deixaram de ser revolucionarias faz tempo.
E esse pomar ai ta louco o cara puxou a AE na defesa da governabilidade, a luta de classe hoje esta fora do alcançe petista, chega dessas relaçoes promiscuas que ele fazem... Devem ser combatidos em todos os cantos pois seus valores, principios e praxis eganam o povo e nao sao revoluconarios. tenho dito

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