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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Governos desesperados injetam dinheiro às cegas no mercado


Nada garante que a medida será bem sucedida

O governo Bush, os países europeus e o Japão, principalmente, adotaram a tática meio cega de empanturrar os mercados com muita moeda líquida. Um empirismo desesperado para ver se estanca a corrida inabalável para o fundo do poço, cuja fundura ninguém sabe qual é.

Hoje, o Japão está injetando mais 32 bilhões de dólares para ver como a coisa fica. Uma temeridade. Trinta e dois bilhões de dólares de papel pintado, emitido pelos banqueiros norte-americanos, sem qualquer lastro na economia produtiva e criadora de riqueza. Papel de boa qualidade, com tinta de boa qualidade, nada mais que isso.

Dinheiro é o equivalente geral, a representação de valor por excelência. Nas hipertrofias do neoliberalismo, o dinheiro ascende à condição de mercadoria central e privilegiada do sistema, desbancando a mercadoria-trabalho, aviltada pelo crescente exército industrial de reserva, pelas mecanizações e tecnologias do trabalho-morto, etc.

Todas as demais mercadorias quiseram "imitar" a capacidade de valorização do dinheiro. Mas o papel-pintado é somente "a vida do que está morto [força de trabalho alienada na mercadoria, e esta transformada em moeda] se movendo em si mesma", na genial e primorosa síntese de Hegel.

Dias atrás, eu vi um dado que é estarrecedor: os Estados Unidos estão comprometendo em consumo cerca de 350% do seu PIB, hoje. Isso explica parcialmente o buraco no qual se meteram. Entre as décadas de 1950 e 1980, portanto, no período que precedeu a hipertrofia financeira, o comprometimento em consumo jamais passou de 180% do PIB. [Somente a título de curiosidade, hoje, o Brasil compromete em consumo cerca de 70% do PIB. Comércio de milhares de bugigangas, de automóveis de luxo a bolachinha recheada cancerígena, tudo embalado no papel-celofane dos juros para pagar os “sócios” da banca.]

A crise atual é como um trem-bala que viaja a 400 km por hora e breca bruscamente para velocidades bem menores, alguns vagões ficarão desgovernados e sairão dos trilhos rumo ao abismo, outros, muito poucos, conseguirão manter a linha, mas em deslocamento reduzido e sem saber que rumo tomar. Atulhar dinheiro nisso pode ser um erro do tamanho dos recursos que estão sendo injetados.

Coisas da vida.

19 comentários:

Anônimo disse...

muito bom, cara

Anônimo disse...

O que é impressionante nisso tudo, é a força feita pelos defensores do capitalismo-neoliberal para justificar o injustificável.

Se você busca entre os articulistas de "direita", uma análise crítica, vê que eles ainda não se deram por vencidos nesta batalha. Continuam culpando o Estado, o comunismo, Marx, entre outras causas para esta "crise".

Este derrame de notas "pintadas", não vai nem fazer cósegas no deus mercado. Sua voracidade (dos capitalistas/especuladores) não tem medida.

O pior (dizem que desgraça pouca é bobagem) que a crise financeira dos mercados, vem acompanhada de uma crise que foge do controle do mercado: a crise ambiental. Esta sim, a pior crise.

No último século, nós (humanos em geral) fomos protagonistas de uma sanha de usurpação e destruição dos recursos naturais e da natureza, respectivamente. Agora, estamos colhendo o que plantamos.

Como tu dizes Feil: Coisas da vida!

Anônimo disse...

Nós humanos, não. Os humanos donos do capital, os gananciosos, especuladores, os rentistas, os parasitas do dinheiro. Esses sim são os responsáveis diretos pelo extermínio do planeta e pela degradação da natureza.
Me inclui fora dessa, Mario.

Anônimo disse...

Pois é, Feil, na fotografia de cima, eles procuravam um publicitário. Devem ter achado aos montes. Promoveram o consumismo desenfreado e 50 anos depois deram com os burros n'água.
Agora botam um negro e uma mulher pra ver se enrolam por mais um tempo.

Anônimo disse...

Não adianta tirar o corpo fora, Juarez. Nós também fazemos parte da humanidade e da sociedade. Cosumimos, também, mesmo que
indiretamente, as benesses do capitalismo.

Vivemos no mundo, consumimos energia, poluimos o ar, a água, deamatamos florestas, ect.

Somos individualmente responsáveis pelo todo, mesmo não querendo.

Infelizmente

Anônimo disse...

Bravo, Cristóvão.

Anônimo disse...

Desculpe mudar a pauta, mas a condenação do bandido banqueiro é um fato alvissarieiro. Isso se deve à hombridade do Juiz De Sanctis, mas também à rede da internet que lutou até o fim contra o PIG.

O povo está de parabéns. Grade para os canalhas.


armando

Carlos Eduardo da Maia disse...

Essa crise, volto a dizer, tem seu lado extremamente positivo. Foi para o espaço, para as cucuias da vida, o pensamento irresponsável de que os mercados devem circular, flutuar, voar livremente por ai. E os Estados nacionais têm que se aparelhar para realizar a devida e necessária fiscalização sobre o mercado. Outro ponto interessante e contraditório é que o DG quer que os juros básicos baixem, mas para quê? Para aumentar o consumo? Mas não é exatamente esse consumo, esse fetiche da mercadoria, que está a se criticar por aqui???

Carlos Eduardo da Maia disse...

Armando, qual PIG defendeu Daniel Dantas? Nem ZH, nem Folha, nem Globo e nem Estadão. A própria Veja - eu li a matéria - saudou a prisão de Dantas na época, mas revelou que o inquérito do Protógenes estava mal feito, porque atabalhoado. E, de fato, teve de ser refeito.

Anônimo disse...

Texto forte, denso e repleto de significados.
Ótimo.

Anônimo disse...

Carlos "certa esquerda" Maia, deves acreditar no caipora, no saci, no fogo fátuo e no papai noel, não é? Qual PIG apoiou DD? Estas a gozar, gajo?

armando

Anônimo disse...

Cala a boca Maia!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Armando, vocês têm fé num mundo que não existe, como se todos os capitalistas de nosso tempo estivessem unidos e amarrados em torno de um objetivo monolítico comum: explorar o povo brasileiro. Não acredito que a religião da esquerda brasileira ainda acredite em idéias tão simplórias....
Sei, sei, a ética só existe no coração de certa esquerda. E depois criticam os papais noéis da vida.

Anônimo disse...

Papai Noel não precisa criticar. Ele é um boboca autoexplicativo e autodepreciativo.
É só olhar e começar a rir.

Anônimo disse...

Exatamente: esse é o objetivo de um capitalista que se preze, pois se não for assim estará na atividade errada. Explorar é o motor do capitalismo, seja a natureza ou seja a força de trabalho. Ingenuidade é achar que os capitalistas são formados no Colégio dos Franciscanos Descalços. Seu engano se deve que nessa categoria, existem graduações, ou seja, canalhões, canalhas, menos canalhas, canalhinhas e aprendizes de canalhices. Simples como a vida, meu caro.

armando

Anônimo disse...

Armando,

Esquecestes os canalhas periféricos, e os canalhas sabujos que vivem do sonho, a louvação do "sucesso" dos outros. A adoração aos dominadores.

Claudio Dode

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pois é, a exploração canalha hipnotiza a humanidade que só pensa em consumir e ter mais e mais e mais. Os únicos conscientes são aqueles que acreditam que enriquescer é burrice. São esses os que tem fé na religião de certa esquerda. Isso é fanatismo de crente.

Anônimo disse...

Todos estes presidentes de bancos centrais dos países capitalistas desenvolvidos são seguidores fanáticos da religião monetarista criada por milton friedman (pai intelectual do neoliberalismo, conselheiro de reagan). friedman deve estar revolvendo-se na sepultura, ao ver seus discípulos esparramarem bilhões e bilhões de dólares no mercado. Esta atitude tresloucada é mais uma prova de que o capitalismo neoliberal desmoronou completamente e os dogmas monetaristas de friedman não passavam de história para boi dormir e para enganar os trouxas dos países subdesenvolvidos. Na hora do aperto apelam para a maquininha de fazer dinheiro, aquilo que pouco tempo atrás condenavam veementemente...

Anônimo disse...

A canalhice não está em enriquecer, mas sim no modo que muitos utilizam, tipo o tal "arreglo" do Pontal.

E há quem defenda. E coloque todos os gatos no mesmo saco para confundir e enganar.

Claudio Dode

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