É preciso chamar a atenção para a volta do movimento estudantil às ruas. E saudá-los pela demonstração de desprendimento, consciência política e espírito de inconformidade.
Refiro-me às recentes mobilizações de rua onde jovens do ensino médio e universitário protagonizam um papel relevante na luta contra os desmandos éticos e administrativos do arranjo de direita instalado no Palácio Piratini, sede do Poder Executivo do Rio Grande do Sul.
O comentado fenômeno do refluxo dos movimentos sociais no Brasil, que já dura bem duas décadas, para esses jovens parece estar chegando ao fim, se é que não estamos fazendo um juízo precipitado destas primeiras atividades públicas.
Os estudantes estão constatando – ainda em processo de racionalização – que a crise do governo Yeda é mais extensa e mais profunda do que pode parecer ao primeiro exame. É uma crise mesmo da legitimidade das elites provincianas, aditivada pelo esgotamento do modelo liberal-representativo e o colapso das lideranças tradicionais em oferecer projetos que contemplem a coesão social e o consenso político.
No Rio Grande do Sul – o primeiro e único Estado da Federação brasileira a realizar uma revolução burguesa clássica – o pacto das elites regionais está sendo erodido há anos por fatores internacionais e nacionais, combinados. Agora, apenas recebe um forte empurrão da subjetividade bizantina (no pior sentido do termo) e pré-política da governadora em exercício.
Quarenta anos depois das jornadas de 1968, os jovens sul-rio-grandenses dão mostras de estarem no contrafluxo da cultura mainstream, dos moralismos e dos mitos pós-modernos. Os mobilizados de hoje não se deixam carimbar com os clichês da juventude filha do neoliberalismo, a saber:
a) indiferença com o mundo que o cerca;
b) narcisismo deformante e alienador;
c) adesão incondicional ao pseudo-consenso pós-liberal;
d) refúgio no ressentimento (segundo Lacan, este ressentimento seria uma das formas atuais do chamado mal-estar na civilização).
É de notar, também, o caráter espontâneo das atuais mobilizações estudantis, considerando que “espontâneo” é o que não é orgânico, ou por fora das organizações político-partidárias da forma representativo-burguesa.
Mas isto tem uma explicação, ainda que provisória: nas atuais jornadas, estão ausentes os partidos políticos com as quais se identificavam as esquerdas, especialmente o PT. Como este abdicou da sua condição de intelectual orgânico do movimento de massa, para se refugiar no conforto cálido e nas doces facilidades dos embates meramente eleitoral-institucionais, os estudantes fazem da necessidade, virtude – no bom sentido empregado por Rosa de Luxembourg.
Ou, como diz outro Rosa, o João Guimarães, em Sagarana: “sapo não pula por boniteza, mas por precisão”.
10 comentários:
Eu pago um ônibus para levar estudantes à Brasilia.
No ponto Herr Feil.O Brasil sempre me foi surpreendente.Per se muove!Nestes meninos estão a esperança e não nas páginas imbecilizantes de ZH quando trata dos jovens.E fazem muito bem em não ir para Brasília, pois empiricamente já distinguem os reais inimigos, apesar de todos limites do Governo Lula.Cada coisa a seu tempo e lugar.
É muito raro e muito difícil aparecer um "caráter espontâneo" nas mobilizações. Houve duas na história recente brasileira: o "Diretas Já" e o "Fora Collor". Em ambas eu participei - de forma espontânea. Até pode acontecer de haver um comparecimento espontâneo dos gaúchos no "Fora Yeda". Mas acho muiiiito difícil isso acontecer. Primeiro, porque não existe uma prova contundente da participação dela nos episódios. Segundo, porque não existe clima para isso, por enquanto. Terceiro, porque o principal partido que organiza essas manifestações tem o rabo preso em histórias de corrupção.
O fim deste governo de mafiosos esta se aproximando, pois ja esta mais que desmantelado, só não ve quem não quer e esta se iludindo e negando a realidade a frente de seus olhos. Um desgoverno que demite todo o secretariado admite culpa e se enterra até a cabeça. Só os pseudo-ideólogos da elite orgânica não aceitam reconhecer, preferem a ilusão que tudo vai bem, tal qual dona yedinha!
Não interessa a oposição e nem interessa aos partidos aliados que o governo Yeda termine. O que interessa a oposição é que o governo Yeda fique eternamente na impopularidade para que ela possa, até que enfim, ganhar uma eleição. A grande saída de Yeda é fazer uma boa gestão administrativa para entregar o Estado ao seu sucessor (duvido hoje que ela queira concorrer à reeleição) um Estado mais eficiente. E isso ela está fazendo, apesar daqueles que defendem o status quo. Mas politicamente o governo tucano de Yeda é um caos generalizado. E a culpa é dela.
Cade o seu Jair Krischke???
Parabéns Feil, é realmente uma fina análise! Eu acrescentaria entre os cliches da juventude neoliberal o reducionismo, que impede a visao de sistema. Esses se atêm nos seus argumentos a fatos isolados e partem pra generalizacao, como o fulano que ganha o bolsa família e tem um salário adicional, ou o manifestante que chutou uma cerca e por ai vai...
Faz um tempo o fato da foto. Coitado do Estevan...
O reducionismo existe também, Marcelo, na sua própria afirmação, de chamar a juventude dos nossos tempos de "juventude neoliberal". A questão é simples como água morna, o discurso reducionista de esquerda não cativa mais a nossa juventude. A esquerda tem que trocar o disco do explorado e do explorador. Bota outro com batida techno ou dub.
Ô Maia, o Canalha, a esquerda tem de trocar o disco de explorado e explorador. E botar que disco?O do PIG sfado o o teu que ninguem quer ler.
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