Essa árvore é perfeita
pena que as folhas são verdes
e caem, sujando minha ignorância
pena que as raízes são subterrâneas
e profundas - e eu tão superficial
pena que o tronco tem casca externa
pena que as flores não combinam
com a cor do novo carro que comprei
pena que, um dia, insatisfeito,
terei que cortá-la e não plantar outra no lugar
pena que os frutos são comestíveis demais
e atraem pássaros barulhentos e indesejáveis
pena que não dê sombra à noite
pena que não abane o rabinho
quando chego em casa
pena que cresça para cima
pena que produza oxigênio
pena que não seja de ferro, plástico e papel celofane
pena que o perfume das flores seja apenas aroma
pena que seja apenas uma árvore
Nicolas Behr
Um comentário:
Nícolas Behr é um grande poeta, vindo lá dos loucos anos setenta e da geração-mimeógrafo.
Contemporâneo de Cacaso, Leminski, do pessoal do Nuvem Cigana, traz, agora, a marca da maturidade.
Consciente e consistente.
Valeu, Feil!
Ricardo Mainieri
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