Um personagem de Steinbeck
Ontem, assistindo parte do depoimento do senhor Antonio Dornéu Cardoso Maciel (ele próprio pronunciava Dornéu, ontem), réu no processo judicial originado da Operação Rodin, aos deputados da CPI do Detran, lembrei de John Steinbeck (1902-1968).
Antes de explicar o motivo de tão extravagante nexo, devo dizer que Steinbeck, para mim, é um gigante da literatura universal, foi e é o meu mestre nas dificuldades da escrita e da narrativa.
Mas porque mesmo eu fiz a conexão entre o grande Steinbeck e o réu Dornéu? É que ao ouvir o senhor Dornéu Maciel fiquei tentado a definir que tipo de pessoa estava ali. Me pareceu de plano, um sujeito repulsivo, quase visguento. Um tipo que interrompia a inquirição de um deputado para fazer mesuras retóricas com algum parlamentar que chegasse à sala de reuniões – expressando uma cordialidade postiça, exagerada e xaroposa, enfim, manifestações sensíveis de uma “alma deformada”.
Um breve trecho do magistral A Leste do Éden (1952), penso que desenha um vulto do indigitado líder da direita guasca, este:
Creio que há monstros nascidos no mundo de pais humanos. Pode-se ver alguns, disformes e horrendos, com enormes cabeças ou corpos minúsculos; alguns nascem sem braços, sem pernas, outros com três braços, com caudas ou bocas nos lugares mais estranhos. São acidentes e ninguém tem culpa, ao contrário do que se costumava pensar antes. Houve um tempo em que eram consideradas punições visíveis a pecados ocultos.
Assim como há monstros físicos, não é possível que nasçam também monstros mentais ou psíquicos? O rosto e o corpo podem ser perfeitos, mas se um gene adulterado ou um óvulo disforme podem produzir monstros físicos, o mesmo processo não poderia gerar uma alma deformada? [...]
E por aí vai. Steinbeck faz esse preâmbulo para anunciar a entrada em cena de uma personagem forte deste romance extraordinário, que é Cathy Ames, uma pessoa – como Dornéu Maciel – nada exemplar.
3 comentários:
é o PC Farias guasca
E se dão bem, às vezes!
Aí está o protótipo do homem 100% capitalista! Até os seus desejos estão capturados pela lógica do mercado. Ele não consegue nem pensar que existe vida além do mercado. Pra esse "humano" o que importa é ser consumidor de mercadorias e demonstar isso para o seu círculo. Outros valores além do econômico não fazem parte do seu universo capitalista. Valores como ética, estética, solidariedade, respeito aos direitos, deveres de cidadãos, sociabilidades, práticas democráticas, justiça social...todos esses valores ele não deve ter vivenciado...pobre criança!?
^CAndida
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