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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sábado, 28 de junho de 2008


Tema para um painel de tapeçaria


O general tem somente oitenta homens, e o inimigo, cinco mil. Em sua tenda de campanha o general blasfema e chora. Então escreve um manifesto inspirado, que pombos correios despejam sobre o acampamento inimigo. Duzentos soldados se bandeiam para o general. Segue-se uma escaramuça, que o general vence facilmente, e dois regimentos aderem ao seu lado. Três dias depois o inimigo tem somente oitenta homens e o general cinco mil. Então o general escreve outro manifesto, e setenta e nove homens se passam para o seu lado. Só resta um inimigo, sitiado pelo exército do general, que espera em silêncio. Transcorre a noite e o inimigo não passou para o seu lado. O general blasfema e chora em sua tenda de campanha. Ao amanhecer o inimigo desembainha lentamente a espada e avança até a tenda do general. Entra e o examina. O exército do general se dispersa. Sai o sol.


Julio Cortázar


8 comentários:

Um Serrano a vela disse...

E a região foi inoculada por meio da imposição de tiranos assassinos: Suharto na Indonésia, Marcos nas Filipinas, etc. O golpe militar de Suharto, em 1965, foi particularmente importante, e foi descrito com toda precisão: o New York Times afirmou que se tratava de um “assassinato massivo horripilante” –e também como “um raio de luz na Ásia”–, em momentos em que o exército do ditador assassinava um número estimado em um milhão de pessoas, em sua maior parte camponeses sem terras; destruía o único partido político popular de massas do país, um partido dos pobres, como foi descrito pelo especialista australiano Harold Crouch, e abria a porta dos ricos recursos do país para sua exploração pelas corporações ocidentais.

Anônimo disse...

¿Che, se tem tantas rolhas vadias, onde estará o vinho do qual elas já foram guardiñas?

Anônimo disse...

E o Trotsky quando será homenageado?

Ricardo Mainieri disse...

Maravilhoso, Cortázar.
Magistralmente, mostra a instabilidade dos desejos humanos, que se bandeam de lado, conforme suas convicções manipuladas por aparelhos ideológicos, repressivos, como já situava Althusser.
Apenas um, manteve sua coerência...

Abraço.

Ricardo Mainieri

Anônimo disse...

O sociólogo Zander Navarro desautorizou o MP do RS por tê-lo usado fora do contexto, assim como ratificou apoio ao MST. Muito bom e digno. Assim, aos poucos podemos isolar o levantar da cabeça da hidra pró-fascista.

armando

Anônimo disse...

A viúva do Paulo Freire já esculhambou com esses caras. Agora só falta o movimento negro pedir explicações sobre a citação do Zumbi naquela muxórdia.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Mas Zander Navarro tocou num ponto extremamente importante e que é a raiz de tudo isso: "Ao optar pela reiteração de uma forma de existência semiclandestina, o MST arrisca-se a perder apelo popular e, especialmente, a legitimidade de suas ações e formas de pressão tornam-se igualmente reduzidas."
Assino embaixo.

Anônimo disse...

Aquela manifestação com milhares de pessoas (pais, mães, trabalhadores), barbaramente atacada pelos fascinoras comandados pelo Mendes, deve uma forma de existência semi clandestina.

É tanto cinismo que até arranha pela ignorância.

Claudio Dode

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