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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 22 de junho de 2008


Essa árvore é perfeita

pena que as folhas são verdes
e caem, sujando minha ignorância


pena que as raízes são subterrâneas
e profundas - e eu tão superficial

pena que o tronco tem casca externa

pena que as flores não combinam
com a cor do novo carro que comprei


pena que, um dia, insatisfeito,

terei que cortá-la e não plantar outra no lugar
pena que os frutos são comestíveis demais
e atraem pássaros barulhentos e indesejáveis


pena que não dê sombra à noite

pena que não abane o rabinho
quando chego em casa
pena que cresça para cima

pena que produza oxigênio


pena que não seja de ferro, plástico e papel celofane
pena que o perfume das flores seja apenas aroma

pena que seja apenas uma árvore


Nicolas Behr


Um comentário:

Ricardo Mainieri disse...

Nícolas Behr é um grande poeta, vindo lá dos loucos anos setenta e da geração-mimeógrafo.
Contemporâneo de Cacaso, Leminski, do pessoal do Nuvem Cigana, traz, agora, a marca da maturidade.
Consciente e consistente.
Valeu, Feil!

Ricardo Mainieri

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