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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 23 de abril de 2008


A natureza é contínua, e o espírito, descontínuo

O que significa o “perspectivismo amazônico” do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro (conforme ele próprio explica na excelente entrevista abaixo indicada)?


”Fiz um trabalho teórico que não é só meu, é dos meus alunos também. Faço uma experiência filosófica que no fundo é muito simples. Temos uma antropologia ocidental, montada para estudar os outros povos, certo? O que aconteceria se vocês imaginassem uma antropologia feita do lado de lá, ou seja, do ponto de vista indígena? Foi isso que me levou a entender que, para os índios, a natureza é contínua, e o espírito, descontínuo.

Os índios entendem assim: há uma natureza comum e o que varia é a cultura, a maneira como me apresento. Daí a preocupação de se distinguir pela caracterização dos corpos. E as onças, como se vêem? Como gente. Só que elas não nos vêem como gente, mas como porcos selvagens. Por isso nos comem. Enfim, para os indígenas, cada ser é um centro de perspectivas no universo. Se eles fizessem ciência, certamente seria muito diferente da nossa, que de tão inquestionável nos direciona a Deus, ao absoluto, a algo que não podemos refutar, só temos de obedecer. Os índios não acreditam na idéia de crer, são indiferentes a ela, por isso nos parecem tão pouco confiáveis (risos).

No sermão do Espírito Santo, padre Antonio Vieira diz que seria mais fácil evangelizar um chinês ou um indiano do que o selvagem brasileiro. Os primeiros seriam como estátuas de mármore, que dão trabalho para fazer, mas a forma não muda. O índio brasileiro, em compensação, seria como a estátua de murta. Quando você pensa que ela está pronta, lá vem um galho novo revirando a forma.”

8 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Outro dia na feira do Bom Fim em Porto Alegre, comprei um artesanato de uma índia e que custava 15 reais. Dei uma nota de 50 e a índia não entendia, não sabia que troco dar. Tentava contar com os dedos e o resultado não saia. Tive que trocar os 50 e dar os 15 bem contadinho. Ela ficou tri agradecida. Por isso concordo integralmente com Viveiros de Castro. O índio brasileiro faz parte de um outro mundo, de um outro contexto, de uma outra cultura, de uma outra ciência. E é realmente uma imensa violência impôr a eles a nossa cultura, o nosso contexto, a ciência do homem branco "civilizado". Eis ai o choque de civilizações. Interessante é que o índio norte-americano sabe contar, tem espírito empreendedor. Em diversas reservas indígenas norte-americana os índios administram cassinos e o fruto dessa preciosa graninha serve para pagar as contas e melhorar a qualidade de vida de toda a tribo.

Anônimo disse...

Eu acho muito engraçado este Maia, volta e meia ele fala em reducionismo, que para ele nada mais é que uma palavra de defesa, para desqualificar o outro. Senão vejam...

Ele diz:

Interessante é que o índio norte-americano sabe contar, tem espírito empreendedor"

Parece que são todos os indios americanos e que aqui nenhum sabe contar.

No Brasil teve até indio deputado que por lá nunca vai existir. nem em filme.

O envolvimento do jogo organizado, ou crime organizado, é bem um exemplo do empreendedorismo que a direita neoliberal prega.

Que o dinheirinho que entra (Lei da Oferta & Procura dos EUA: quando o dinheiro roubado entra em casa, é sempre bemvindo) realmente dá para pagar as contas, ah! isto dá!
Agora melhorar a qualidade de vida já não é para todos, já que nem vou avaliar o que julgas por qualidade de vida.

Claudio Dode

Carlos Eduardo da Maia disse...

Não estou generalizando, Cláudio, apenas constatando. Là nos EUA os índios são donos de casino aqui os índios vendem o mesmo artesanato de sempre e moram em barracas de lonas de plástico.

Anônimo disse...

Pois é o Maia,

Mas já pensastes que eles moram em barracas de lona porque membros do Agronegócio terroristas roubam suas terras.

Pense nisso.

E ter Cassino não é mérito para ninguém.


Claudio Dode

Anônimo disse...

Meio iluminista esta "nova perspectiva antropológica", não? Antropólogo adora ficar de lero.

Katarina Peixoto disse...

Natureza contínua é a vovozinha. Coisa mais atrasada, essa. A natureza é finita, destrói-se, ninguém consegue entender isso, diabos?!! Troço mais terceira internacional, eu, hein.

Katarina Peixoto disse...

Natureza contínua é a vovozinha. Coisa mais atrasada, essa. A natureza é finita, destrói-se, ninguém consegue entender isso, diabos?!! Troço mais terceira internacional, eu, hein.

Anônimo disse...

kkkkkkkkkk
desse jeito minha véia vc mostra duas coisas, que é uma branquela fdp e que é um etnocêntrica fudida.

não vê que o Viveiros está interpretando, lendo a cultura e a cosmologia dos índios?
ele não está endossando o que os índios pensam. e depois vc está entendendo errado. o "contínuo" neste caso não é sinônimo de infinito, nem biologicamente, nem geologicamente, nem cosmologicamente.
larga de mão dessa cabeça de pizarro, veste a mentalidade do cabeza de vaca.

reginaldo cavalcanti

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