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quinta-feira, 17 de abril de 2008

O aumento de juros no momento é transtorno sim. E dos grandes.

Juros: teoria e prática

A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) [...] foi precedida por um debate que se limitou a intervenções especializadas. É como se fosse uma discussão estritamente econômica.

Em economia, a teoria dominante se auto-intitula "a melhor teoria". Ela permite ver o que ninguém mais vê e embasa a "atuação preventiva" da "autoridade monetária". Mas essa posição privilegiada é mantida também com muito poder político. O próprio Lula veio a público declarar que o eventual aumento da taxa não causaria transtorno.

O Copom conta também com o poder de importantes instituições internacionais. Os presidentes do FMI e do Banco Mundial se apressaram em dar declarações alarmistas sobre a inflação nos chamados países emergentes. E já deram a senha para justificar "aumentos inevitáveis" das taxas de juros: quem sofre com a inflação são os mais pobres.

O Banco Mundial sabe muito bem como fazer uma discussão política de temas econômicos intrincados. A foto de seu presidente, Robert Zoellick (foto), segurando um saco de arroz em uma mão e um pão na outra não poderia mais ilustrativa.

Já no Brasil, a restrição do debate público a especialistas costuma ser saudado por muitos como sinal de maturidade do sistema político. No vocabulário da violência brasileira se diz que a economia estaria "blindada".

O estranho é que nada disso é estritamente falso. É o resultado de a estabilização brasileira alcançada com o Plano Real ter sido mesmo conservadora. O controle da inflação ao custo de uma explosão da dívida pública concedeu enorme poder de chantagem aos chamados "mercados", entidade abstrata que, muito concretamente, financia a dívida pública brasileira.

Os limites da política se tornaram bem mais estreitos desde 1994, com certeza. Mas, no caso da taxa de juros, esses limites não são hoje nem sequer debatidos, muito menos explorados.

Blindar a economia significa aqui excluir a política e bloquear um debate público mais amplo.

E, no entanto, um programa como o Bolsa Família foi em grande medida conquistado contra a ortodoxia econômica, mesmo se esta depois adaptou a idéia à sua própria lógica. A longa discussão sobre esse tipo de programa foi tanto econômica como política.

O Bolsa Família não é certamente a solução para todos os males. Mas foi um passo importante, que só foi alcançado porque o debate se ampliou para fora dos estreitos limites de uma discussão técnica.

É essa discussão mais ampla que faz falta agora para mostrar que aumento de juros no atual momento é transtorno sim. E dos grandes.

Artigo de Marcos Nobre, professor do departamento de Filosofia da Unicamp. Publicado na Folha, terça-feira passada, dia 15/4.


3 comentários:

Jean Scharlau disse...

O BANCO CENTRAL DO BRASIL É O MAIS (IN)DEPENDENTE DO MUNDO - Paulo Henrique Amorim

. O presidente do Banco Central do Brasil se elegeu deputado federal pelo PSDB de Goiás.

. Allan Greenspan foi presidente do Banco Central americano por 19 anos e trabalhou sucessivas vezes para governos Republicanos.

. Quando o Presidente era Republicano, como George W. Bush, Greenspan jogava o peso de sua autoridade para apoiar cortes de impostos irresponsáveis.

. Bush cortou impostos, a quatro mãos com Greenspan, enquanto lutava em dois fronts de guerra: no Afeganistão e no Iraque.

. Greenspan, portanto, contribuiu para um marco na História americana: cortar impostos para financiar duas guerras.

. Deu no que deu.

. Aqui, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles e os astrólogos anônimos que com ele trabalham, inventaram uma “inflação de demanda” que justifica esse aumento obsceno de meio ponto percentual na Selic (a taxa foi para 11,75%).

. Nem o “mercado” esperava tanto.

. Felizmente, a taxa de juros das Casas Bahia é mais importante para o funcionamento do varejo do que a decisão do Banco Central.

. Felizmente, a taxa Selic não vai inibir o consumidor de moto Suzuki, que a Sabrina Sato passou a patrocinar.

. O maior impacto dessa decisão desastrosa será o encarecimento da dívida pública.

. O senhor Meirelles é independente do Governo Lula e dependente do “mercado” que ele acaba de presentear com um bônus antecipado.

Jean Scharlau disse...

Oligarquia do governo federal, a ala PSDBista comandada pelo Presidente Banqueiro Meirelles, aumenta o volume das mentiras do COPOM e eleva a remuneração fabulosa e opulenta dos rufiões da "dívida" pública para 11,75% ao ano, a maior do capitalismo selvagem colonialista (53% das receitas da União). Segundo o Presidente Mentira Meirelles, se os juros (riqueza dos rufiões) ficarem baixos geram inflação (pobreza dos pobres) alta. A ser verdade essa balela o Japão está agora com uma inflação de 500% ao ano, já que os juros que o Banco Central paga lá são de 0,5% ao ano. Como esse papo mereillento é mentira da grossa, ocorre que a inflação no Japão, a maior em 10 anos, bateu em 1% ao ano em fevereiro. Dorme, boiada, dorme.

Anônimo disse...

Apenas uma observação em relação ao artigo do Marcos Nobre: não é o mercado que financia o governo, mas o governo que financia o mercado. O governo faz um enorme superávit primário, ou seja, gasta menos do que arrecada. Portanto não precisa ser financiado. O resto é balela neoliberal que só pega por conta do medo do lulo-petismo de enfrentar o capital financista, que hoje detém o comando do estado.

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