A faca de Caçapava
O último argumento de Caçapava do Sul, ops, Rosário, Maria do Rosário é uma faca. Uma faca sem cabo e sem lâmina, segundo a qual os militantes petistas de Porto Alegre têm que ficar de olho no que diz o instituto de pesquisas Ibope e o jornal Zero Hora para tomarem uma decisão justa e correta nas prévias que o Partido fará para decidir quem irá disputar a feira eleitoral ano que vem na Capital.
Ou seja, a razão da pré-candidata é tão eficiente e cortante quanto uma faca – repito – sem cabo e sem lâmina. Não existe tal faca. Não subsiste tal argumento. Salvo se for muito bem embrulhado num pacote de ilusão, despolitização e delírio.
Caçapava fixa o seu argumento numa legitimidade tácita que circulou – e circula – dentro do Partido dos Trabalhadores, qual seja, a de que é lícito, desejável e autêntico fazer parcela da política partidária através das páginas do jornal Zeagá. Por muito tempo, muitos petistas ilustres usavam como instrumento de luta interna (e externa) a coluna da enfastiada Rosane de Oliveira. Dia desses um deputado estadual, candidamente, ainda não participava, através de Rosane, o nascimento de sua primeira netinha? Não é meigo, isso?
Houve, portanto, sim, uma chancela de reconhecimento tácito, cínico, não-escrito, de que fazer política instrumentalizando os veículos e os recursos humanos da RBS era permitido, desejável e até considerado como recurso de sagacidade (“olha, estamos aproveitando a carona da mídia burguesa!”). Poucos parlamentares petistas não foram usuários dessa carona indecorosa, e o Partido jamais tomou posição para coibir essa prática alienada e que se constituia na verdade numa armadilha, cujo preço um dia seria cobrado.
Este dia chegou. A omissão do Partido (entre tantas outras) agora volta para reclamar o seu custo. O PT nunca discutiu com clareza o papel da mídia corporativa regional, o papel da própria RBS, na sua condição cada vez mais evidente de intelectual-orgânico-veículo-de-comunicação-engajado-à-direita. Nunca. O PT sempre foi permissivo e leniente com os filiados, com os seus políticos profissionais, que tinham (e tem) relações de compradrio com a mídia corporativa local.
Agora, quando Caçapava, Alegrete, ou Rosário, faz uso explícito e escancarado deste recurso (pobre, diga-se de passagem), para fins de tirar vantagens comparativas com o pré-candidato Miguel Rossetto, muitos agora – tardiamente – consideram impróprio e indecoroso. E de fato, é. Pode-se dizer de tudo deste argumento indigente, mas não vá se dizer que o PT não o liberou como arma lícita e corrente na luta política interna.
Resta saber se a militância petista, ou o que resta dela, irá ratificar ou não esse tom frívolo do debate que está sendo pautado. De qualquer forma, e haja vista o próprio nível da disputa, por ora a volta vitoriosa da Frente Popular ao Paço Municipal de Porto Alegre é tão plausível quanto uma faca sem cabo e sem lâmina.
Coisas da vida.
4 comentários:
Assim embaixo, Feil.
Brilhante
É a burguesia se preparando para a feira elitoral!
Me convenço, cada vez mais, que esta mulher é uma verdadeira idiota! Qualquer pessoa com dois neurônios consegue entender a falcatrua que é a associação do IBOPE com RBS! Em 2002, ZH perdeu assinantes (25 mil oficiosamente - deve ter sido bem mais) justamente por divulgar pesquisa eleitoral manipulada do IBOPE em seu jornal, bem como a manipulação da boca-de-urna. Aliás, o IBOPE "ERROU" na maioria dos estados naquela época. O que esperar de um "instituto" que não é instituto, cujo dono é marido de uma das "meninas do Jô" (sic)??? Para bom entendedor...
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