O macabro jogo da RBS
A empresa de mídia corporativa e conservadora RBS de Porto Alegre apostou um jogo com a morte. E perdeu. Um jogo faustiano perigoso, onde o prêmio seria mais prestígio social de superfície e mais humanitarismo postiço. Foi derrotada.
Semanas atrás, o grupo RBS lançou uma campanha institucional contra a violência no trânsito (leia-se violência do automóvel) com o rótulo "Isso tem que ter fim" (comentamos esse tema dias atrás, ver abaixo). Exigiu autoritariamente que todos os seus celetistas vestissem uma camiseta com os dizeres no peito e os estampou no seu principal diário, o jornal José Agá. Constrangido, o independente Luís Fernando Veríssimo saiu com cara de gato a cabresto.
Se arrependimento matasse, a sede da RBS na avenida Ipiranga seria um campo santo silencioso e reverente. Embarcaram, certamente, na conversa fácil e vazia de algum publicitário genial (plenonasmo, os publicitários sempre são "geniais"!) munido de dados seriados e curvas coloridas (que eles insistem em chamar de "estatística") para provar que este ano de 2007 haveria uma queda significativa de acidentes de trânsito e que a RBS poderia surfar essa onda positiva, já que os saldos anuais vinham de fato caindo lenta, mas constantemente. É simples, fácil, não requer prática nem habilidade, qualquer criança brinca, todo o adulto se diverte... só que o gênio esqueceu de dizer que o game era contra a morte. Um xadrez com a morte, dos outros. Resultado: morte 35, RBS zero. Nunca tantas vidas foram engolidas pelo automóvel, em tão poucos dias de feriados. O próprio editorial de José Agá admite a derrota acachapante.
Quando do lançamento da campanha "Isso tem que ter fim", a RBS exaltou a opinião de vários especialistas (que eles cultivam aos punhados), todos foram unânimes na "tagarelice" (Heidegger) acerca do tema. Um deles, chegou ao cúmulo de reclamar uma "revolução cultural" para superar o que chamava de "tragédia do trânsito". Pura tagarelice heideggeriana, blá-blá-blá irresponsável e narcísico.
E agora, o que fará a RBS? Nada, a não ser seguir com sua providencial cara-de-pau, fazendo olho branco para a realidade, rezando para que não fique consagrada como empresa pé-frio, e apostando na categoria de leitores tipo Homer Simpson de bombachas. Aliás, estes agora estão sendo estimulados mesmo a mandar fotografias de seus pequenos mascotes e/ou de seu automóvel em situações engraçadinhas e pitorescas.
Sem dúvida, chegamos ao ponto mais raso do que deve ser o papel social dos meios de comunicação em nossos dias.
Fotos: a governadora Yedinha (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB) aderiram à campanha fuleira da RBS, vestindo a camiseta promocional do "espetáculo". Serão eles, assim como a RBS, temíveis pés-frios?
A empresa de mídia corporativa e conservadora RBS de Porto Alegre apostou um jogo com a morte. E perdeu. Um jogo faustiano perigoso, onde o prêmio seria mais prestígio social de superfície e mais humanitarismo postiço. Foi derrotada.
Semanas atrás, o grupo RBS lançou uma campanha institucional contra a violência no trânsito (leia-se violência do automóvel) com o rótulo "Isso tem que ter fim" (comentamos esse tema dias atrás, ver abaixo). Exigiu autoritariamente que todos os seus celetistas vestissem uma camiseta com os dizeres no peito e os estampou no seu principal diário, o jornal José Agá. Constrangido, o independente Luís Fernando Veríssimo saiu com cara de gato a cabresto.
Se arrependimento matasse, a sede da RBS na avenida Ipiranga seria um campo santo silencioso e reverente. Embarcaram, certamente, na conversa fácil e vazia de algum publicitário genial (plenonasmo, os publicitários sempre são "geniais"!) munido de dados seriados e curvas coloridas (que eles insistem em chamar de "estatística") para provar que este ano de 2007 haveria uma queda significativa de acidentes de trânsito e que a RBS poderia surfar essa onda positiva, já que os saldos anuais vinham de fato caindo lenta, mas constantemente. É simples, fácil, não requer prática nem habilidade, qualquer criança brinca, todo o adulto se diverte... só que o gênio esqueceu de dizer que o game era contra a morte. Um xadrez com a morte, dos outros. Resultado: morte 35, RBS zero. Nunca tantas vidas foram engolidas pelo automóvel, em tão poucos dias de feriados. O próprio editorial de José Agá admite a derrota acachapante.
Quando do lançamento da campanha "Isso tem que ter fim", a RBS exaltou a opinião de vários especialistas (que eles cultivam aos punhados), todos foram unânimes na "tagarelice" (Heidegger) acerca do tema. Um deles, chegou ao cúmulo de reclamar uma "revolução cultural" para superar o que chamava de "tragédia do trânsito". Pura tagarelice heideggeriana, blá-blá-blá irresponsável e narcísico.
E agora, o que fará a RBS? Nada, a não ser seguir com sua providencial cara-de-pau, fazendo olho branco para a realidade, rezando para que não fique consagrada como empresa pé-frio, e apostando na categoria de leitores tipo Homer Simpson de bombachas. Aliás, estes agora estão sendo estimulados mesmo a mandar fotografias de seus pequenos mascotes e/ou de seu automóvel em situações engraçadinhas e pitorescas.
Sem dúvida, chegamos ao ponto mais raso do que deve ser o papel social dos meios de comunicação em nossos dias.
Fotos: a governadora Yedinha (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB) aderiram à campanha fuleira da RBS, vestindo a camiseta promocional do "espetáculo". Serão eles, assim como a RBS, temíveis pés-frios?
10 comentários:
Parece que nessa terra, tudo que é veiculado pelo PRBS, tende a ser verdade insofismável, o que nunca se consagra. Para que dimunuam as mortes no trânsito, o efeito de uma campanha "pé-de-chinelo", não faz nem "cosquinhas". Pode-se dizer que é um problema antropológico, de costumes machista, onde o carro, seve como, quem sabe, um intrumento fálico. Mas estão tão bonitinhos esses dois de camisetinhas do seu patrão.
não fossem os blogs isso que o Feil está dizendo jamais seria dito
Blá-blá-bla narcísico, lembra trecho de um poema: "eis o homem físico, que, concentrado num viver narcísico, pauta as ações numa moral corrupta".
armando
Na verdade devemos aproveitar e dizer que o que "deve ter um fim" é o governo destas pessoas que vestem a camisetas, o lema serve muito bem prá ele e ela.
um abraço
Carmelita
E CADÊ A FOTO DO DEPUTADO "PARDAL FATURADOR" COM A CAMISETA DA CAMPANHA ?????
Cristóvão,
No mestrado, meu professor de Mídias e Culturas Urbanas, Fabrício Silveira, nos passou alguns textos de um cara que atende pelo criativo e oportuno pseudônimo de Ned Ludd (de luddita), que escreveu um livro e tem um blog ambos chamados "Apocalipse Motorizado".
Eu e o Rodrigo Cardia do Cão Uivador seguidamente postamos algo a respeito do fetiche do automóvel, dos disparates anti-pedestres (e, conseqüentemente, anti-sociais) praticados no Brasil e mostramos também exemplos de países (não gosto da expressão que segue, mas, na falta de coisa melhor...) "civilizados", nos quais o automóvel é um mero UTILITÁRIO, cujo uso intensivo e sob quaisquer condições ou vontades é posto como desnecessário em uma série de situações.
[]'s,
Hélio
Boa dica, Hélio!
Abç.
o Fogaça comeu uma melancia inteira antes de posar para esta foto, gente?
O Grupo RBS ao desencadear essa "publicidade" está sinalizando para os seus clientes/leitores muitas mensagens, que podem assim serem listadas: emcobrir as verdadeiras causas do tema escolhido; desviar a atenção diante dos casos de corrupção identificados no governo Yeda e Fogaça; contribuir com os interesses da indústria da violência; reproduzir os princípios do medo e da punição para buscar um comportamento desejado;reforçar o fetichismo da mercadoria-automóvel;ignorância sobre os valores, príncipios e condições formadores do processo civilizador...
Obs. os problemas sociais não são resolvidos com "caras feias" e frases feitas à marteladas. Os métodos são outros!
E tem mais, quem não lembra o comportamento da RBS quando foi implantada a EPTC? O que ella devia fazer hoje é pedir desculpas a população por ter contribuido com o desrespeito as leis de trânsito que vem contribuindo com tais descalabros.Maria Cândida
Todos lembram como foi a campanha da RBS quando surgiu a EPTC. Lasier-canalha bufando de raiva, como sempre.
Falta de fiscalização e de republicanismo. O transito é uma "terra de ninguém", é ícone da nossa diferença em relação aos países "civilizados", que, infelizmente, nesse aspecto é um termo pertinente. Somos uns barbaros dirigindo.
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