O exercício do pensamento está morto na mídia, hoje
Livro interessante esse "Simulacro e poder - uma análise da mídia", de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas), que trata das mudanças sofridas pelos meios de comunicação na passagem da sociedade capitalista industrial para a pós-industrial. Um trecho:
Com o modelo fordista, o capital induzira o aparecimento de grandes fábricas (nas quais se tornavam visíveis as divisões sociais, a organização das classes e a luta de classes) e ancorara-se na prática de controle de todas as etapas da produção (da extração da matéria-prima à distribuição do produto no mercado de consumo), bem como nas idéias de qualidade e durabilidade dos produtos (levando, por exemplo, à formação de grandes estoques para a travessia dos anos).
Por outro lado, Marilena destaca os seguintes tópicos na fase dita pós-industrial:
1) a fragmentação e a dispersão da produção econômica (incidindo diretamente sobre a classe trabalhadora, que perde seus referenciais de identidade, de organização e de luta);
2) a hegemonia do capital financeiro;
3) a rotatividade extrema da mão-de-obra;
4) os produtos descartáveis (com o fim das idéias de durabilidade, qualidade e estocagem);
5) a obsolescência vertiginosa das qualificações para o trabalho em decorrência do surgimento incessante de novas tecnologias; e
6) o desemprego estrutural, decorrente da automação e da alta rotatividade da mão-de-obra, causando exclusão social, econômica e política.
Posto isso, a autora passa a analisar o impacto dessas mudanças na maneira de o cidadão comum perceber o mundo a sua volta. Prevalece o fugaz, perde-se a noção de continuidade e prejudica-se ao extremo a compreensão espaço-temporal. De modo que prevalecem o imediatismo impensado, a reação instintiva e a falta de perspectiva histórica.
Citando Maurice Blanchot:
A prática é substituída pelo pseudoconhecimento, pelo olhar irresponsável, por uma contemplação superficial, despreocupada e satisfeita. O mundo vira espetáculo do espetáculo da comunicação.
Assim podemos compreender porque as reportagens, sobretudo aquelas veiculadas pelos meios eletrônicos - veículos pós-industriais por excelência - raramente apresentam matérias contextualizadas. Os porquês desaparecem e dão lugar ao sensacionalismo, mais eficaz para prender a audiência e, consequentemente, faturar com a venda de espaços publicitários. Para exemplificar esse modo superficial de fazer jornalismo, Marilena Chauí relembra os atentados de 2001 nos EUA:
Subitamente, o Afeganistão passou a existir. Sua existência, porém, foi a de um espetáculo de rádio e televisão, tanto assim que, decorridos alguns meses e terminada a invasão norte-americana, desapareceu dos meios de comunicação e muita gente já não se lembra que esse país existe.
A autora não deixa de enfatizar o que Ignácio Ramonet já havia assinalado em seu "A tirania da comunicação", ou seja, o paradoxo que reside no cada vez maior volume de informações disponíveis em razão da evolução da tecnologia ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada vez menos informadas. Em lugar do desenvolvimento calcado no aprofundamento e na democratização do conhecimento, o resultado foi que:
"A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas" - completa Marilena Chauí.
Pescado daqui.
.........
O PT, se não tivesse tão concentrado na prática religiosa e acrítica do lulismo planaltino e na encarquilhada política da conciliação de classes (expressa especialmente na relação promíscua com a mídia corporativa e oligárquica), poderia prestar mais atenção no que assevera Marilena Chauí neste pequeno-grande livro.
Livro interessante esse "Simulacro e poder - uma análise da mídia", de Marilena Chauí (Editora Perseu Abramo, 142 páginas), que trata das mudanças sofridas pelos meios de comunicação na passagem da sociedade capitalista industrial para a pós-industrial. Um trecho:
Com o modelo fordista, o capital induzira o aparecimento de grandes fábricas (nas quais se tornavam visíveis as divisões sociais, a organização das classes e a luta de classes) e ancorara-se na prática de controle de todas as etapas da produção (da extração da matéria-prima à distribuição do produto no mercado de consumo), bem como nas idéias de qualidade e durabilidade dos produtos (levando, por exemplo, à formação de grandes estoques para a travessia dos anos).
Por outro lado, Marilena destaca os seguintes tópicos na fase dita pós-industrial:
1) a fragmentação e a dispersão da produção econômica (incidindo diretamente sobre a classe trabalhadora, que perde seus referenciais de identidade, de organização e de luta);
2) a hegemonia do capital financeiro;
3) a rotatividade extrema da mão-de-obra;
4) os produtos descartáveis (com o fim das idéias de durabilidade, qualidade e estocagem);
5) a obsolescência vertiginosa das qualificações para o trabalho em decorrência do surgimento incessante de novas tecnologias; e
6) o desemprego estrutural, decorrente da automação e da alta rotatividade da mão-de-obra, causando exclusão social, econômica e política.
Posto isso, a autora passa a analisar o impacto dessas mudanças na maneira de o cidadão comum perceber o mundo a sua volta. Prevalece o fugaz, perde-se a noção de continuidade e prejudica-se ao extremo a compreensão espaço-temporal. De modo que prevalecem o imediatismo impensado, a reação instintiva e a falta de perspectiva histórica.
Citando Maurice Blanchot:
A prática é substituída pelo pseudoconhecimento, pelo olhar irresponsável, por uma contemplação superficial, despreocupada e satisfeita. O mundo vira espetáculo do espetáculo da comunicação.
Assim podemos compreender porque as reportagens, sobretudo aquelas veiculadas pelos meios eletrônicos - veículos pós-industriais por excelência - raramente apresentam matérias contextualizadas. Os porquês desaparecem e dão lugar ao sensacionalismo, mais eficaz para prender a audiência e, consequentemente, faturar com a venda de espaços publicitários. Para exemplificar esse modo superficial de fazer jornalismo, Marilena Chauí relembra os atentados de 2001 nos EUA:
Subitamente, o Afeganistão passou a existir. Sua existência, porém, foi a de um espetáculo de rádio e televisão, tanto assim que, decorridos alguns meses e terminada a invasão norte-americana, desapareceu dos meios de comunicação e muita gente já não se lembra que esse país existe.
A autora não deixa de enfatizar o que Ignácio Ramonet já havia assinalado em seu "A tirania da comunicação", ou seja, o paradoxo que reside no cada vez maior volume de informações disponíveis em razão da evolução da tecnologia ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada vez menos informadas. Em lugar do desenvolvimento calcado no aprofundamento e na democratização do conhecimento, o resultado foi que:
"A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício do pensamento foram destruídas" - completa Marilena Chauí.
Pescado daqui.
.........
O PT, se não tivesse tão concentrado na prática religiosa e acrítica do lulismo planaltino e na encarquilhada política da conciliação de classes (expressa especialmente na relação promíscua com a mídia corporativa e oligárquica), poderia prestar mais atenção no que assevera Marilena Chauí neste pequeno-grande livro.
4 comentários:
Cris, boa dica de leitura. Já pesquisei e o livro sai por 25 reais. Beleza!
Cristóvão,
Mas há de se fazer muito mais do que meramente descrever o fenômeno de maneira crítica segundo o sempre consistente trabalho da profª Marilena: é preciso trabalhar a base, pois a ágora deixa de ser urbana (praça, rua) para ser midiática (via TV).
Portanto, o debate político, social e econômico, se ora é desprovido de profundidade, de referências e de engajamento, precisa ser RESSIGNIFICADO e REVALORIZADO através da aprendizagem didática, estilística e, acima de tudo, técnica das ferramentas disponibilizadas pelas novas tecnologias da comunicação e da informação (NTICs).
LAN houses na periferia de países muito mais pobres do que o Brasil e sem a pedagogia e a solidariedade dos telecentros de Porto Alegre com blogueiros eficientes que fazem trabalho de campo além de ficar escrevendo tem surtido efeitos muito mais significativos do que os que a gente espera que nossos blogs tenham.
Afinal de contas, o grosso de nossos leitores são nossos próprios pares.
[]'s,
Hélio
Concordo contigo, exceto na última frase.
Hélio, a meu juízo (pelo menos aqui), O grosso dos nossos leitores (finos) são professores, estudantes, profissionais liberais, militantes, e uma gama de profissionais de humanas, mas também das áreas técnicas, com preocupações sociais e ambientais. Muita gente que migra da mídia impressa e na internet quer "editar" as próprias informações que lê. Pessoas que se sentem ofendidas pelo tratamento Homer Simpson que recebem da mídia corporativa. Esses são os nossos leitores. Eles podem não concordar com o que se veicula por aqui, mas reconhecem noções de responsabilidade, autonomia, e respeito à pluralidade. Sobretudo, reconhecem que aqui não se tem certeza de nada, ao contrário da grande mídia, que só exara verdades absolutas e peremptas. Enquanto nos blogs já estamos navegando no mundo quântico das incertezas, na mídia corporativa eles ainda remam nas águas rasas da era newtoniana e das certezas perenes.
Esse é o ponto.
Abç.
cristóvão:
concordo plenamente com você na sua
fala sobre o pt planaltino.
alguns que estão lá(e eu conheço
com certa proximidade)se encantaram.me parece que este
comportamento é dominante.
romério
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