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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

É muito punk! - disse a tia Maggie



Três décadas de "London Calling" da banda punk rock The Clash

Reparem o frescor de "Radio Clash" (no vídeo acima), do qual eu gosto muito. Essa foi a revolucionária The Clash, uma banda que durou de 1976 até 1986. Há trinta anos os caras faziam um rock que mostrava a bunda para a tia Maggie Thatcher, primeira mandatária da Inglaterra de maio de 1979 até 1990.

O disco (de vinil) "London Calling", com dezenove composições, foi lançado no dia 14 de dezembro de 1979. Ontem, portanto, fez três décadas de influência na cena musical do mundo inteiro. Nesta data, o thatcherismo já estava no poder desde maio, suprimindo direitos (liquidou com o salário mínimo, depois restituído por Tony Blair), privatizando empresas estatais, cortando o alimento gratuito das escolas públicas, e provocando uma política macroeconômica recessiva com o objetivo de baixar a inflação que chegou a 20% ao ano, entre 1979/80. Houve numerosa quebra de empresas privadas, bancos faliram e o desemprego aumentava a cada trimestre. A Dama de Ferro, como ficou conhecida, criou o chamado "poll tax", um imposto regressivo, onde os mais pobres pagavam mais impostos que os mais ricos, seguindo a orientação do pensamento econômico monetarista (neoliberal), segundo o qual havia que incentivar a poupança e o investimento somente dos que podem empreender, e estes são formados pelos mais ricos do espectro social - o topo da cadeia alimentar, segundo Charles Darwin (que entra nesse trololó de neodarwinismo do eixo Viena-Chicago, como Pilatos no Credo).

Conta a lenda que tia Maggie, uma vez indagada do que achava da música do recém formado grupo londrino The Clash, teria dito a frase que virou bordão:

- É muito punk!

De fato, o Clash deixou a sua marca na história do rock e da música pop contemporânea. Com letras politizadas, algo panfletárias e rebatendo forte contra a direita, o belicismo, o racismo e as ditaduras (tem um álbum em homenagem aos sandinistas) fez uma mescla experimental de gêneros musicais, "como reggae, ska, dub, funk, rap e rockabilly" (conforme a Wikipédia).

Hoje, depois de trinta anos o Clash ainda é atual para denunciar a tragédia representada pelo neoliberalismo globalitário. Afinal, foi a música da banda punk das primeiras que ajudou a suspeitar do mundo no qual estamos vivendo - um mundo clash, em conflito, em choque permanente. E muito punk!

Nota: Punk, é um anglicismo, significa algo imprestável, um traste. O movimento punk foi uma onda cultural (decadentista) urbana surgido na década de 70 que debocha de tudo, do rock e da música tradicional, da esquerda (stalinismo) à direita (nazismo, Thatcher, Reagan, etc.). Ao contrário do movimento punk, a banda Clash não foi adepta do solipsismo e do niilismo, sempre militou por causas políticas progressistas.


9 comentários:

Katarina Peixoto disse...

Bravo! Clash RULEIA, Clash é saúde, Clash é raiva! Clash é ironia! Clash é Ska!!! Só Darwin q tem nada com esses delírios finançóides da canalha fasci de odiadores do povo. Balas da Rocinha, balas do Jordão!!!

Cé S. disse...

London Calling balzaqueano. Quem diria.

Anônimo disse...

vendo as geleiras derreterem a olhos vistos, os impasses da Dinamarca, que não vão levar a nada ( alguém acredita ?), vemos que os punks dos anos 70/80 estavam certíssimos. O futuro é Vortex!

Katarina Peixoto disse...

Não concordo que os punks sejam decadentistas. Eles são furiosos e agressivos demais para ingressarem no romantismo inerente, ao que me parece, à noção de decadentismo. Os punks não apenas debocham, eles atacam com fúria, com raiva, com ira, mesmo. A agenda punk, nesse aspecto, é necessariamente de esquerda e nunca niilista. Agressividade e niilismo não são compossíveis. Por fim, Sex Pistols tocava em presídios. E os situacionistas eram fãs dos punks não à toa. Clash era mais engajado nos movimentos, mas desconheço banda punk genuína que não seja de esquerda em sentido amplo e antiniilista conceitualmente. Jogar M no ventilador, gritando, nada tem com o solipsimo ou com o niilismo. A fúria punk sempre expressou a sua irredutível moral e o seu compromisso com a vida. Com os olhos abertos e muitas balas na mão.

Cristóvão Feil disse...

Katarina, vc fala como se o movimento punk fosse de fato um movimento cultural orgânico. Não é. Nunca foi. São tribos inorgânicas. Manchas culturais urbanas. Sombras gris no fundo róseo do real monetizado. Acho que o Clash foi o Everest punk, justamente porque foi militante, com uma certa linha estética, com alvos bem definidos e na hora certa. Pena que durou menos que a velha da foice, a Thatcher.

Abç.

CF

giovani montanher madruga disse...

concordo com o feil.
o clash além de combativo (1982 - combat rock, 5º album), musicalmente era muito superior as demais bandas do gênero, as mais conhecidas the ramones e sex pistols.

Anônimo disse...

Realmente, a Inglaterra liberal que a Tia Maggie criou hoje está muito mal, se comparada ao dinossauro socialista que viraram a França e outros países da Europa.

Duarte disse...

Socialismo na França? Na Europa?

Onde?

Anônimo disse...

Esse clip me lembrou os anos 80 em POA, respirávamos um clima de utopias tardias com expectativas promissoras! Quem circulou pelo Bom Fim e acompanhou a efervescência do Rock de garagem mesclando isso tudo a pluralização dos movimentos sociais e estudantis guarda boas lembranças dessa época conturbada, mas transformadora de uma geração “deslocada” rsrs.
J Paulo

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