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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A Polícia gaúcha tem um Sherlock Holmes e não sabia



Vinte e três dias depois do assassinato do ex-chefe do DOI-Codi, o delegado da Polícia Civil/RS, Luís Fernando Martins de Oliveira, é categórico, e está tão seguro do que afirma que chegou a fazer declarações peremptas ao jornal ZH: "Pelo que consta ali, já descartamos a hipótese de o coronel ter sido morto por vingança em razão da atividade no Exército".

Ocorre que o falecido coronel Julio Miguel Molinas Dias, assassinado no último dia 01 de novembro, em Porto Alegre, não tem um passado nebuloso e contestado pelo fato de ter tido "atividade no Exército", mas sim por ter sido chefe do DOI-Codi, à época do atentado terrorista (perpetrado por membros das Forças Armadas do Brasil, sem farda) ao Riocentro, no Rio de Janeiro, no ano de 1981.

É de estranhar, portanto, a conclusão-relâmpago do delegado da Polícia gaúcha. Com tantas hipóteses a serem investigadas, o delegado se sente suficientemente seguro para prestar uma declaração à imprensa com convicções formadas e inabaladas pela dúvida ou pela incerteza, mesmo sabendo que tenham passados mais de três décadas do atentado da tigrada ao Riocentro.

Ora, o coronel assassinado em Porto Alegre, foi nada menos que o chefão da tigrada, segundo o jargão das próprias Forças Armadas para aqueles militares renitentes em aceitar os termos do "processo de abertura lenta, gradual e segura" - como queriam o general-ditador Ernesto Geisel e seu sucessor, João Figueiredo.  O general Geisel, aliás, chamava essa linha dura dos seus comandados da repressão de "bolsões sinceros, porém radicais", um eufemismo para designar assassinos e torturadores fardados à serviço do Estado brasileiro.

Tão radicais, que não hesitaram em tentar colocar bombas assassinas em um local fechado, onde se realizaria um grande show musical com milhares de civis, inocentes todos. A sorte é que a bomba - por uma trapalhada dos seus operadores - acabou explodindo antes da hora, e justo no colo de um dos terroristas chefiados pelo coronel Molinas Dias, assassinado dias atrás em Porto Alegre.  

Diante da certeza - manifestada publicamente à imprensa - do delegado Martins de Oliveira é de sugerir que o mesmo seja condecorado com alguma ordem do mérito por genialidade investigativa. A Polícia civil gaúcha tem um Sherlock Holmes e não sabia.

4 comentários:

Anônimo disse...

Viveu pelas armas, morreu pelas armas, uma lástima que a justiça não tenha sabido que ele existe.
O exército brasileiro vai ficar nos devendo essa, deixar que um bandido faça seu inquérito e depois confiar nesse inquérito.
Tudo dentro dos conformes, tudo dentro dos regulamentos, é a trampa fardada e ordeira.

Ary disse...

Sugiro um título para a honraria: Comenda Grizzotti.

gustavo disse...

O delegado eh um "gênio" boquirroto. Como a Sec. de Segurança permite que os Delegados dêem entrevista sobre algo que ainda está sendo investigado e com raízes tão profundas na história?

Anônimo disse...

Certamente este delegado nunca ouviu falar do livro "Memórias de uma guerra suja".
A polícia gaúcha é a melhor do mundo. Lembram da rapidez com que se encerrou a investigação do assassinato de Eliseu Santos?

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