[...] O patriarca Essenbeck vai morrer
(será morto) e a luta por seu espólio será cruel. Martin, o
personagem de Helmut Berger, vai manipular a todos e destruir a
família. Seu ódio é contra a mãe, Ingrid Thulin, a quem ele vai
‘possuir’, cometendo incesto.
O espectador que hoje assiste a ‘Os
Deuses Malditos’ não consegue nem imaginar o impacto que teve, há
40 e poucos anos, a cena de Helmut Berger vestido de mulher,
interrompendo o jantar de família com sua recriação do mito de
Marlene (Dietrich) em ‘O Anjo Azul’.
O clássico de Joseph Von Sternberg já
era sobre a decadência moral de Weimar, mas agora Visconti
radicaliza. Outra cena impactante foi a do massacre dos SA, que
compunham a guarda pretoriana de Hitler. Mas eles eram comandados por
um gay vicioso, e Hitler, depois de se servir deles, sentiu que
necessitava de outra elite e fez com que os SS massacrassem os SA,
para assumir seu lugar.
O filme é todo ele uma série de
massacres, morais e físicos. Todo um mundo vai sendo destruído na
trajetória irresistível de Martin para consolidar seu poder.
De fundo, Wagner, ‘O Crepúsculo dos
Deuses’. Nem por isso, ‘Os Deuses Malditos’ é anti-wagneriano.
Como dizia Visconti, não era culpa de Wagner que celerados como
Ludwig II e Hitler tenham se apropria de sua música, o primeiro para
viver uma delirante fantasia artística e o segundo, para perpetrar o
Holocausto. [...]
Trecho do crítico de cinema Luiz Carlos Merten, publicada no Estadão, em 13/maio/2012.
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