O Brasil que alimenta a barbárie e serve à morte
Deu na coluna do jornalista Janio de Freitas, ontem, na Folha:
A recusa do governo Lula a juntar o Brasil aos 92 países do tratado contra fabricação, uso e venda de bombas de fragmentação - armas terríveis contra populações civis - aponta em várias direções inquietantes.
A primeira delas, não pela ordem de importância, mas por suas implicações novas em nossa história republicana, é a submissão da política externa à safra de projetos militares da chamada Secretaria de Quase Tudo. Na qual o ministro Mangabeira Unger produz (também) as orientações adotadas pelo Ministério da Defesa, de Nelson Jobim. No mesmo dia 3, quarta passada, da recusa ao tratado formalizada pela diplomacia brasileira, a venda de cem mísseis ao Paquistão ocorria sob o recuo do Ministério de Relações Exteriores às suas restrições, provenientes do sentido anti-Índia do negócio. No mesmo dia, uma posição confirmou a outra, e ambas renegaram a velha tradição do Itamaraty.
As bombas de fragmentação, como o nome indica, desmancham-se em numerosos artefatos que se espalham por vasta área, cada um deles capaz de explodir logo ou de aguardar no solo que, em dia incerto, alguém pise ou apanhe e assim o faça explodir. Não se trata então, por mais que os interessados o afirmem, de arma de defesa.
Os estudos sobre os efeitos do emprego dessa bomba pelos Estados Unidos e por Israel, no Oriente conflagrado, atestam-na como armamento de ataque. Do contrário, as vítimas fatais e de mutilação não seriam populações civis, urbanas e rurais. Eis aí o tipo de armamento que o Brasil está produzindo, em pelo menos três indústrias bélicas, e vendendo sem limitações. Nem se pense em limitações morais e humanitárias, basta pensar nas de política externa, definidas por quem devesse formulá-la e aplicá-la.
Tudo isso, e muito mais e muito pior, passa-se às escuras, sem conhecimento da população, sem conhecimento do Senado e da Câmara, sem conhecimento do sentido presente na Constituição para a identidade do Brasil entre os países.
O Brasil escondido, que alimenta a barbárie e serve à morte, justificaria, e no entanto não precisa temer, uma cruzada de Ministério Público, meios de comunicação, universidade, intelectuais e artistas, para trazê-lo à luz dos dias. E confrontá-lo, para confirmação ou recusa, com o tipo de país que se pretende ter.
Na recusa ao banimento das bombas de fragmentação, que teriam feito o gozo dos exércitos nazistas, o Brasil alinhou-se a Estados Unidos, Israel, Rússia e aos outra vez atritados Índia e Paquistão.
Foto: Mãe mutilada por bomba de fragmentação – possivelmente fabricada e vendida pelo Brasil – com o filho, no Zimbábue, África.
Deu na coluna do jornalista Janio de Freitas, ontem, na Folha:
A recusa do governo Lula a juntar o Brasil aos 92 países do tratado contra fabricação, uso e venda de bombas de fragmentação - armas terríveis contra populações civis - aponta em várias direções inquietantes.
A primeira delas, não pela ordem de importância, mas por suas implicações novas em nossa história republicana, é a submissão da política externa à safra de projetos militares da chamada Secretaria de Quase Tudo. Na qual o ministro Mangabeira Unger produz (também) as orientações adotadas pelo Ministério da Defesa, de Nelson Jobim. No mesmo dia 3, quarta passada, da recusa ao tratado formalizada pela diplomacia brasileira, a venda de cem mísseis ao Paquistão ocorria sob o recuo do Ministério de Relações Exteriores às suas restrições, provenientes do sentido anti-Índia do negócio. No mesmo dia, uma posição confirmou a outra, e ambas renegaram a velha tradição do Itamaraty.
As bombas de fragmentação, como o nome indica, desmancham-se em numerosos artefatos que se espalham por vasta área, cada um deles capaz de explodir logo ou de aguardar no solo que, em dia incerto, alguém pise ou apanhe e assim o faça explodir. Não se trata então, por mais que os interessados o afirmem, de arma de defesa.
Os estudos sobre os efeitos do emprego dessa bomba pelos Estados Unidos e por Israel, no Oriente conflagrado, atestam-na como armamento de ataque. Do contrário, as vítimas fatais e de mutilação não seriam populações civis, urbanas e rurais. Eis aí o tipo de armamento que o Brasil está produzindo, em pelo menos três indústrias bélicas, e vendendo sem limitações. Nem se pense em limitações morais e humanitárias, basta pensar nas de política externa, definidas por quem devesse formulá-la e aplicá-la.
Tudo isso, e muito mais e muito pior, passa-se às escuras, sem conhecimento da população, sem conhecimento do Senado e da Câmara, sem conhecimento do sentido presente na Constituição para a identidade do Brasil entre os países.
O Brasil escondido, que alimenta a barbárie e serve à morte, justificaria, e no entanto não precisa temer, uma cruzada de Ministério Público, meios de comunicação, universidade, intelectuais e artistas, para trazê-lo à luz dos dias. E confrontá-lo, para confirmação ou recusa, com o tipo de país que se pretende ter.
Na recusa ao banimento das bombas de fragmentação, que teriam feito o gozo dos exércitos nazistas, o Brasil alinhou-se a Estados Unidos, Israel, Rússia e aos outra vez atritados Índia e Paquistão.
Foto: Mãe mutilada por bomba de fragmentação – possivelmente fabricada e vendida pelo Brasil – com o filho, no Zimbábue, África.
9 comentários:
O governo federal está fragmentado sobre esse assunto.
Peçam o impeachment do Gilmar e reclamem com os senadores aqui:
ada.mello@senadora.gov.br; adelmir.santana@senador.gov.br; almeida.lima@senador.gov.br; mercadante@senador.gov.br; alvarodias@senador.gov.br; acmjr@senador.gov.br; antval@senador.gov.br; arthur.virgilio@senador.gov.br; augusto.botelho@senador.gov.br; casmalda@senado.gov.br; cesarborges@senador.gov.br; cicero.luicena@senador.gov.br; cristovam@senador.gov.br; demostenes.torres@senador.gov.br; eduardoazeredo@senador.gov.br; eduardo.suplicy@senador.gov.br; efraim.morais@senador.gov.br; eliseu.resende@senador.gov.br; epitacio@senado.gov.br; expedito.junior@senador.gov.br; fatima.cleide@senadora.gov.br; flavioarns@senador.gov.br; flexaribeiro@senador.gov.br; francisco.dornelles@senador.gov.br; garibaldi.alves@senador.gov.br; geraldo.mesquita@senador.gov.br; gecamata@senador.gov.br; gilberto.goellner@senador.gov.br; gim.argello@senador.gov.br; gilvamborges@senador.gov.br; heraclito.fortes@senador.gov.br; ideli.salvatti@senadora.gov.br; inacio.arruda@senador.gov.br; jarbas.vasconcelos@senador.gov.br; jayme.campos@senador.gov.br; jefferson.praia@senador.gov.br; lucia.vania@senadora.gov.br; sarney@senador.gov.br; joao.tenorio@senador.gov.br; joaoribeiro@senador.gov.br; joaop@senador.gov.br; joaodurval@senador.gov.br; jvc@senado.gov.br; jose.agripino@senador.gov.br; josemaranhao@senador.gov.br; josenery@senador.gov.br; leomar@senador.gov.br; lobaofilho@senador.gov.br; magnomallta@senador.gov.br; liviocgomes@hotmail.com; maosanta@senador.gov.br; marcelo.crivella@senador.gov.br; marcoantoniocosta@senador.gov.br; marco.maciel@senador.gov.br; marconi.perillo@senador.gov.br; marinasi@senado.gov.br; tiao.viana@senador.gov.br; sergio.guerra@senador.gov.br; renato.casagrande@senador.gov.br; paulopaim@senador.gov.br; osmardias@senador.gov.br; mario.couto@senador.gov.br; marisa.serrano@senadora.gov.br; mozarildo@senador.gov.br; neutodeconto@senador.gov.br; papaleo@senador.gov.br; psaboyagomes@senadora.gov.br; pauloduque@senador.gov.br; simon@senador.gov.br; renan.calheiros@senador.gov.br; romero.juca@senador.gov.br; rtuma@senador.gov.br; rosalba.ciarilini@senadora.gov.br; roseana.sarney@senadora.gov.br; zambiasi@senador.gov.br; serys@senadora.gov.br; tasso.jereissati@senador.gov.br; renan.calheiros@senador.gov.br; romero.juca@senador.gov.br; rtuma@senador.gov.br; rosalba.ciarilini@senadora.gov.br; roseana.sarney@senadora.gov.br; zambiasi@senador.gov.br; serys@senadora.gov.br; tasso.jereissati@senador.gov.br; valterpereira@senador.gov.br; virginio@senador.gov.br; wellington.salgado@senador.gov.br; valdir.raupp@senador.gov.br
Frase do dia: "Se os terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) forem espertos farão exatamente o que os terroristas brasileiros fizeram: se entregam, passam a integrar a democracia colombiana, concorrem e se elegem deputados e senadores, criam uma lei de 'indenização por perseguição política' e, em poucos anos, ganharão altos cargos no governo com aposentadorias e indenizações milionárias."
frase de quem?
Mendelski, D. Casagrande, Puggina... Algum desses sábios gauchos.
Jonny
PS: Vem, Maia, me empastela com mu-mu!
Só lembrando as FARC já tentaram esta via política e o resultado foram: 2 candidatos a presidencia assassinados, vários senadores e deputados também assassinados, e pelos "democratas" vassalos do Tio Sam.
Claudio Dode
É isso, Dode! Sem esquecer que as FAR surgiram a partir de uma traição do Partido Liberal na década de 40.
E esses dois assassinatos justificam os zilhões de assassinatos e sequestros cometidos pelas FARC???
Não foram só duas mortes. Duas mortes foram de candidatos a presidência. Senadores e deputados foram as dezenas!
Sem distorções, por favor!
Militantes e simpatizantes foram aos milhares. Daí nasceram as milicias (ligadas ao Uribe). E sempre com farsa da democracia.
Este foi, é, e sempre será a política do Tio e seus vassalos:
"The Big Stick".
Claudio Dode
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