Marx e a literatura burguesa
Um conhecido revolucionário do século 19 chamado Karl Marx, a quem ninguém pode acusar de tendências pequeno-burguesas, recitava Shakespeare de memória, extasiava-se com Byron e Shelley, elogiava Heine e considerava o reacionário do Balzac um gigante admirável. E tanto ele como F. Engels lamentavam que um gênio como Goethe se rebaixasse a comportar-se como um filisteu e às honras de seu ministeriozinho ducal. Não ignoravam suas contradições humanas, sabiam perfeitamente até que ponto Goethe era um artista das classes reacionárias; mas, não obstante, o amavam e admiravam, consideravam-no uma contribuição defintiva para a cultura da humanidade.
Linda lição para certos revolucionários de bolso.
Penso que o sinal mais sutil de que uma sociedade já está madura para uma profunda transformação social é quando seus revolucionários se revelam capazes de compreender e reconhecer a herança espiritual da sociedade que termina. Se isso não ocorre, a revolução não está madura.
Ernesto Sabato, em “O escritor e seus fantasmas”
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