“A informação é uma arma de resistência”
Depois de levar o Urso de Ouro em 2006 por “O Caminho para Guantánamo”, a dupla de diretores formada por Michael Winterbotton e Mat Whitecross, volta ao Festival de Berlim com um novo e controverso projeto que articula a história recente através da implantação do neoliberalismo no mundo.
Baseado no best seller da ativista Naomi Klein, “A doutrina do choque - A ascensão do capitalismo de desastre” [Editora Nova Fronteira, 2008, 598 páginas. Preço por volta de 80 reais.], este work in progress exibido fora do concurso [do Festival de Berlim] analisa a implantação das teorias do livre mercado formuladas pelo Prêmio Nobel Milton Friedman.
O filme mostra como as crises sociais facilitam a entrada em vigor de medidas econômicas impopulares, ao tirar proveito da anulação da vontade dos cidadãos. Chile e Argentina, as ditaduras de Pinochet e Varela aparecem num filme que também examina a Inglaterra grevista de Thatcher ou a Rússia neoliberal. O epílogo retoma o 11-S e a reconstrução do Iraque, e finaliza com certa esperança: a posse de Obama e uma chamada de Naomi Klein à mobilização.
O diretor britânico Michael Winterbotton concedeu uma entrevista publicada no jornal espanhol Público, de ontem (ver aqui). Abaixo, trechos da entrevista do diretor Winterbotton.
Não teme que o filme seja desqualificado como pura teoria da conspiração?
Não, “A doutrina do choque” traz informações para que cada qual decida se este é o mundo em que quer viver, dado que a ideologia dominante se converteu no estado natural das coisas. O livre mercado se assumiu como idôneo e, por isso, as corporações privadas administram os recursos do Estado. A crença é que democracia e liberalismo caminham de mãos dadas; mas, se analisados os exemplos, não é bem assim.
Você estabelece uma relação causal entre as declarações de Donald Rumsfeld contra os burocratas contrários às ideias da Escola de Chicago e a morte de alguns deles no Pentágono durante os atentados do 11-S.
Obviamente, estes fatos são certos, mas não estamos afirmando que Rumsfeld assassinou as vozes dissidentes. Faz parte de uma forma dinâmica de relatar os fatos e, ao mesmo tempo, de ser provocativo para que as pessoas reflitam.
Era sua intenção satanizar Milton Friedman?
Ele teve a ideia de que em momentos de crise era mais simples aplicar suas políticas neoliberais. A questão é que, se pensava que era uma forma de melhorar a vida de toda a população, fracassou. Se era a justificativa para que os endinheirados enriquecessem mais e as multinacionais se tornassem mais fortes, acertou. O documentário explicita quais são as consequências de sua tese, já que a informação é uma arma de resistência.
Por que pensa que não ocorreu a ninguém antes analisar a história a partir deste ponto de vista?
O livro de Klein demonstrou ser visionário. Esta crise é tão devastadora e está tão vinculada à desregulamentação do mercado e à falta de controle estatal que vai abrir um debate. Mas o que acontecerá mesmo vai depender da capacidade de mobilização das pessoas e da participação na discussão mundial. [...]
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No livro da escritora Naomi Klein, “A doutrina do choque”, ela conta que o velho Milton Friedman, então com 93 anos, por ocasião das enchentes de New Orleans em agosto de 2005 (ele morre em novembro de 2006), brilhava os olhos quando cogitava que depois daquela tragédia humana e ambiental seria necessário um esforço de investimento na reconstrução da cidade.
O velho inspirador da ideologia do "predadorismo", dizia:
- Existem centenas de escolas que precisam ser reconstruídas! – aludindo as chances de muitos negócios a partir do furacão Katrina.
Como se diz na Campanha guasca, “cachorro comedor de ovelha, só matando”.
Como se diz na Campanha guasca, “cachorro comedor de ovelha, só matando”.
5 comentários:
Vivemos tempos interessantes. Na capitalista e colorida Berlim, um verdadeiro canteiro de obras, ocorre, talvez, o melhor e mais qualificado festival de cinema do mundo da globalização. E há lugar para todos, porque o mundo é mesmo da diversidade. Mas esse mundo também é muito desigual, muito injusto, muito insensível. Li um artigo do Juremir contando que nas periferias da grande cidade do Brasil o normal é confundir mãe com prostituta, como se toda mãe fosse prostituta. Esse mundo da diversidade também é um "mundo cão" que domina os vilarejos do congo, as cidades do Haiti e da Somália. São lugares onde o Estado simplesmente não existe. E tem gente que acredita piamente que não é necessário Estado!!! Em um mundo de desigualdades apostar na desregulamentação e na ausência do controle do Estado, inclusive, sobre os serviços públicos é o absurdo dos absurdos. A atual crise -- que ajuda alguns filmes a levar o ursinho de ouro da Berlinale -- derrubou de vez o muro do mercado absolutamente livre. E o Estado, num mundo cada vez mais diversificado, não pode nunca fenecer.
Vai dizer isso pros teus parceiros, C.E.M. por cento pelego.
Pela lógica do texto, é também lógico que Estados ajudem financeiramente grandes corporações pois ambos respondem aos mesmos donos. São bilhões de dólares à serem distribuídos. Também pela lógica do texto é possível cogitar que estas corporações fomentaram a crise como resposta ao saque destes valores. A crise seria uma forma?
Estranho ela ter surgido dentro do próprio sistema como se ninguém destas superpotências tivesse se precavido. Deixe estar.
Fernando Paim
O Maia resolveu lembrar da mãe dele, e depois da Yeda a Generalização é uma coisa óbvia.
choque-digestão vem daí. A propósito, me permitam mas "choque-digestão" pra mim é caganeira.
Se esses caras gerenciassem manicômios seriam favoráveis ao eletro-choque! Tudo isso pode parecer irreal mas é a pura verdade.
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