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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A crise será profunda e prolongada


Os períodos históricos de crises são também períodos de mudanças

Passaram-se alguns meses do desencadear da crise do capitalismo internacional, tendo seu epicentro no capital financeiro e na economia dos Estados Unidos. Agora já temos mais elementos para compreender de que será prolongada, profunda e atingirá a todas economias periféricas. Inclusive o Brasil.

Muitas análises já se publicaram na academia e nos meios de comunicação. Há posições de todas os matizes e correntes ideológicas. E todas convergem no diagnóstico. É uma crise profunda, pior do que a crise de 29. Atingirá a toda a economia mundial, cada vez mais internacionalizada e controlada por menos de 500 empresas. Será pior, porque combina uma crise econômica, financeira (de credibilidade das moedas), ambiental, ideológica, pela falência do neoliberalismo, e política, pela falta de alternativas apresentadas pela classe dominante, no centro ou pelos governos da periferia.

Na história das crises do capitalismo, as classes dominantes, proprietárias do capital, e seus governos , adotaram um mesmo receituário para sair delas.

Primeiro, precisam destruir parte do capital (super-acumulado e sem demanda) para abrir espaço a outro processo de acumulação. Nos últimos meses já foram torrados mais de 4 trilhões de dólares, em papel moeda.

Segundo, apelam para as guerras. Como forma de destruir mercadorias (armas, munições, bens materiais, instalações) e como forma de eliminar a tensão social dos trabalhadores. E, de certa forma eliminam também o exército industrial de reserva. Foi assim, na Primeira e a Segunda Guerra Mundial. E depois na Guerra Fria. Agora, com medo da bomba atômica, estimulam conflitos regionais. Os ataques de Israel ao povo palestino, as provocações na Índia, as ameaças ao Irã, estão dentro dessa estratégia, também. Aumentar os gastos militares e a destruição de bens.

Terceiro. Aumentar a exploração dos trabalhadores. Ou seja, nas crises, baixam os salários médios, rebaixam as condições de vida e portanto de reprodução da força de trabalho, para recuperar as taxas de mais-valia e de acumulação. Daí também, o desemprego ampliado, que mantêm multidões sobrevivendo apenas com cestas básicas, etc..

Quarto. Há uma maior transferência de capital da periferia para o centro do sistema. Isso é feito pela transferência direta das empresas para suas matrizes. Através da manipulação da taxa de cambio do dólar, do pagamento de juros e da manipulação de preços das mercadorias vendidas e compradas na periferia.

Quinto. O capital volta a usar o Estado como o gestor da poupança da população para deslocar esses recursos em beneficio do capital. Portanto, os capitalistas voltam a valorizar o Estado, não como zelador dos interesses da sociedade, mas como capataz do seus interesses , para usar o poder compulsório e assim recolher o dinheiro de todo mundo, através de impostos e da poupança depositada nos bancos, para financiar a saída da crise.

Estamos assistindo à aplicação dessas medidas clássicas todos os dias, registradas na imprensa. Aqui no Brasil, no centro do capitalismo e em todo o mundo.

Mas, como em tudo na vida, sempre há contradições, para cada ação do capital, do governo, etc. haverá contradição, que a sociedade e os trabalhadores sentem e podem se aproveitar delas, para mudar a situação.

Os períodos históricos de crises são também períodos de mudanças. Para o bem ou para o mal. Mas haverá mudanças! As crises abrem brechas e recolocam o posicionamento das classes na sociedade. No Brasil, ainda estamos apáticos, amorfos, desanimados, assistindo pela televisão a descrição dos sintomas da crise chegando aqui. Quase não houve reação ou comentários aos quase 800 mil trabalhadores que perderam seus empregos somente em dezembro de 2008. Não há comentários para a pesquisa do IPEA que identificou entre as 17 milhões de famílias pobres do Brasil do cadastro geral de benefíciários do governo, que 79% deles estão desempregados! E por receberam algum beneficio não procuram mais empregos, e saem até das estatísticas.

É fundamental que os setores organizados da sociedade, em todas as formas existentes, seja nas igrejas, nos sindicatos, nos colégios, escolas, Universidades, na imprensa e movimentos sociais, partidos, tomemos uma atitude. E a primeira atitude é debater a natureza e as saídas para a crise, do ponto de vista dos trabalhadores e da maioria. É urgente estimularmos todo tipo de debate, em todos espaços. É louvável a iniciativa da TV Educativa do Paraná, de estimular esse tipo de debate público. Mas ainda é insuficiente. A crise será longa e profunda. Precisamos envolver o maior número possível de militantes, homens e mulheres conscientes, para que debatam a situação e possamos construir coletivamente alternativas populares. Sem a mobilização e a luta social, não haverá saída para o povo. Somente para o capital.

Artigo de João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.

8 comentários:

Andre Passos disse...

Amigo Tóia,

Um primeiro e singelíssimo comentário: não concordo com o diagnóstico. Está exagerado. Há pelo menos um outro ponto de concordância entre os "analistas de diversos matizes": ninguém sabe a real extensão da crise. Sem saber o tamanho não há como saber a duração. Todo mundo tá no "achometro". Meu achometro diz: não vai ser tão longa quanto dizem, nem tão curta quanto gostaríamos.
Segundo. Não acho produtivo mobilizar sem proposta. Esse negócio de fazer uma grande discussão é ótimo, mas seria bom ter uma sugestão de alternativas para superar a crise antes de começar a discutir. O risco de não agir assim é a ineficiência. Qual é a sugestão do Stédile? É meio cansativo este negócio de chamar uma discussão sem ter ponto de partida...

Anônimo disse...

Feil, foram mais de 35 trilhoes de dolares queimados nos ultimos meses.

As bolsas de todo o mundo afundaram, veja-se o que aconteceu com os bancos.

Tem MUITA gente amargando, quieta, um prejuizo enorme no Brasil, vale do rio doce e Petrobras deram rasteiras FENOMENAIS.

Se a midia valesse alguma coisa poderia contar historias terriveis, que serviriam de escola para a proxima X que os pilantras do mercado financeiro tentassem "lograr" gente decente.

Lembro muito bem que em maio do ano passado festejavam os indices da bovespa...hj amargam a perda de 80% do capital inicial...sem falar de rendimentos...

Carlos Eduardo da Maia disse...

Não sei como alguém pode levar a sério um torcedor irado como o Stédile. Ele torce contra, ele é parcial. É sabido que o MST está tendo dificuldade em arrebanhar ovelhinhas para engrossar o coro do movimento e a crise é uma espécie de luz no fim do túnel. Se a crise for longa e profunda vai ser ótimo para o MST. Simples como água morna.

Anônimo disse...

Simples como o teu cérebro.

Anônimo disse...

- MALA MAIA!! FAÇA O CONTRADITÓRIO, A ANALISE DE STÉDILE TEM MUITA LÓGICA. PROCURE DESIDEOLOGIZAR DO TEU RANÇO NEO-LIBERAL. PONHA NA TUA "CABECINHA" QUE O NEO-QUE- O - PARTA, TIM=TIM!! MORREU. PROCURE UM GURU, SE É QUE AINDA EXISTE, OU PROCURE UM ESPECIALISTA EM CARTAS DE TARÔ. DEU MERDA, MALA MAIA!! DEU AQUILO QUE TU TENS NA CABEÇA!!

Anônimo disse...

sbentenar!
Quando passar o efeito do fuminho poste novamente!

elektrofossile disse...

Sei que estão salvando o Iate e o Caviar com Champagne de muio ricaço com dinheiro público (impostos que NÓS pagamos) nos EEUU e Europa. Já ouviram falar em "Bad Bank"? E o futuro está em disputa como nunca. Os neocons estão desmoralizados mas não se entregam, os keynesianos não têm a solução e ... a esquerda ... não se une!

Anônimo disse...

- RONALDO "MAIA" CALADO!!! IOS CAIADOS SERÃO OS PRINCIPAIS SLVOS DO MST. TE CUIDA!!

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