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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Hans Magnus Enzensberger e Arnaldo Antunes



Hotel Fraternité

Aquele que não tem com o que comprar uma ilha
Aquele que espera a rainha de sabá na frente de um cinema
Aquele que rasga de raiva e desespero sua última camisa
Aquele que esconde um dobrão de ouro no sapato furado
Aquele que olha nos olhos duros do chantagista
Aquele que range os dentes nos carrocéis
Aquele que derrama vinho rubro na cama sórdida
Aquele que toca fogo em cartas e fotografias
Aquele que vive sentado nas docas debaixo das gaivotas
Aquele que alimenta os esquilos
Aquele que não tem um centavo
Aquele que observa
Aquele que dá socos na parede
Aquele que grita
Aquele que bebe
Aquele que não faz nada

Meu inimigo
Debruçado sobre o balcão
Na cama em cima do armário
No chão por toda parte
Agachado
Olhos fixos em mim
Meu irmão

O poema é do grande intelectual de esquerda Hans Magnus Enzensberger, a quem Habermas disse uma vez que ele tinha (tem) "o nariz do vento", pela sua refinada acuidade sociológica para perceber as tendências políticas que se escondem no fenômeno social e econômico de nosso tempo. Arnaldo Antunes musicou o poema, que foi traduzido do alemão por Aldo Fortes.

3 comentários:

Anônimo disse...

O DG não entende patavina sobre Enzensberger que é sim um intelectual e poeta, mas está longe de ser de esquerda. Ele foi de esquerda no passado, mas hoje é um grande crítico do socialismo.

Boris Rugerdorf

Udo disse...

Hans Magnus Enzensberger é um ferrenho crítico do stalinismo e do socialismo real.
Acho que vc Boris ficou incomodado porque deve ser uma viúva do Stálin.

Ricardo Mainieri disse...

A poesia do Enzensberg é magnífica.
Lembra Brecht e sua verve crítica engajada.
Atualmente, poucos prosseguiram nesta linha da poesia social.
Alguns, como Benedetti, morreram.
Outros, aqui no RS, como Lacy Osório se foram há tempos...
Uma lacuna na cultura nacional.

Ricardo Mainieri

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