Por que o Rio Grande do Sul é assim - parte VI
A revolução vinda de cima
“Revolução vinda de cima” é uma expressão leninista que procurou identificar o caráter da revolução burguesa na Alemanha de Bismark. No Rio Grande, os positivistas também fizeram uma revolução por cima. Embora o processo sulino não tenha tido o caráter reacionário como o apontado por Lênin na Alemanha.
Veja então que temos três modelos distintos de revolução burguesa: o modelo francês de 1789, uma revolução total, arquetípica, democrática e modernizadora em toda a sua expressão; o modelo alemão, reacionário (os de cima contra os subalternos), autocrático, e que operou a chamada modernização conservadora; e o modelo rio-grandense de 1893 (não confundir com a guerra civil Farroupilha de 1835, que nunca foi uma revolução stricto sensu), autoritário, modernizador e progressista – mas sempre burguês.
A Constituição positivista pode ser classificada como de “tipo ideal”, que funda e orienta de fato e de direito uma nova ordem política e social. Ela “deu nascimento a um regime político único, tanto no Brasil, como no mundo”, como observa Targa. Assim, a transição capitalista na região meridional brasileira foi acelereda pelo episódio militar de grande violência política que praticamente esmagou os representantes do Estado patrimonial, eliminando as aspirações da fração de classe mais atrasada de capturar o Estado para torná-lo comitê dos negócios pouco dinâmicos e macroeconomicamente subordinados da oligarquia estancieira e pastoril.
Se os maragatos federalistas-gasparistas, orientados pelo líder bageense Gaspar da Silveira Martins (“idéias não são metais que se fundem”, e muito ligado a Pedro 2º), tivessem vencido a revolução de 1893-95, o professor Maestri teme que o Rio Grande se transformasse caricaturalmente “numa grande Bagé”.
Pode-se imaginar o cenário desolador, contribuição guasca ao dantesco quinto círculo do Inferno:
- grandes latifúndios despovoados e decadentes,
- economia subordinada e sem dinamismo,
- regime pastoril de baixíssima produtividade,
- agricultura estagnada,
- indústria inexistente,
- contrabando crescente,
- aparelho de Estado impotente e desautorizado,
- contas públicas deficitárias,
- confusão promíscua entre público e privado,
- assembléia de representantes loteando o território em zonas de interesse particularista,
- populações errantes perambulando em busca de trabalho e renda que jamais encontrariam,
- infra-estrutura ineficiente ou inexistente,
- isolamento e heteronomia do Estado,
- miséria generalizada,
- riqueza escassa e concentrada,
- possíveis invasões estrangeiras pela fronteira,
- aglomerações urbanas como viveiros privilegiados de doenças e epidemias,
- educação pública zero,
- territórios inteiros tomados por bandoleiros armados,
- bandidagem social,
- anomia social e política,
- guerra civil prolongada,
- razias, saques e prática corrente de aniquilamento de comunidades inteiras,
- intervenção federal militar e civil, etc.
Ilustrações de Goya (1806) mostrando selvagerias que coincidentemente ele chamou de "Série Maragato". La Maragatería foi a região da Espanha de ondem migraram os futuros povoadores de parte do território uruguaio, daí a denominação dos maragatos federalistas rio-grandenses - muitos deles recrutados na Banda Oriental do Uruguay.
9 comentários:
Pois é.
Mas eles ainda deixaram suas marcas.
Identifiquei na lista alguns itens que estão acontecendo atualmente.
Feil, já soube da última? Sobre o assessor do Onix-O-Horrivel, de nome Sérgio, que está envolvido com os tais selos da Assembleia? Pois é. Quebraram o sigilo telefônico do cara e pegaram várias conversas dele, do assessor com o Macalão. Onix-O-Horrivel, foi procurado mas não quis dar entrevista - ele deve estar muito ocupado com a candidatura de prefeito ético que luta pela moral e os bons costumes, né? Agora imaginem se fosse um assesor do PT? O dito cujo já estaria condenado, ocupando a primeira página dos jornais, mesmo antes de qualquer prova. A midia gaúcha alugada(e golpista), mesmo sabendo desde o início que o assessor do Onix-O-Horrivel estava envolvido em falcatrua, não deu um pio. Agora é esperar que vem muito mais coisa aí.
Por isso que a gauderiada, essa que vibra com o 20 de setembro, adora o lenço vermelho... Êta povo mais reaça esse!
Feil v. está fazendo um trabalho importante, propiciando a reflexão contra a ditadura da história do centro versus periferia.
Como diz o prof. Targa, se o ato revolucionário que foi a promulgação da Constituição positivista de 1.891 tivesse acontecido em SP ou RJ, a divulgação / conhecimento / valorização seria outro.
Entretanto, o estado burguês implantado no RS, criou as condições para a tão propalada separação da esfera privada do público, implementação do imposto territorial e, principalmente, o tal do Estado "neutro" e acima das classes sociais.
E o pacto de Pedras Altas, que cumpriu em termos de RS o mesmo papel de conciliação com as elites paulistas após a denominada revolução Constitucionalista de 32? O processo não foi conduzido até as últimas consequencias, apesar da inspiração castilhista de Getúlio, na década de trinta, pois impô-se o padrão de conciliação vigente desde os tempos do Império. O único momento em que se procurou em romper este padrão, foi na chamada Intentona Comunista, um equívoco sob ponto de vista tático-operacional, em que pese as bandeiras inspiradas na ANL cuja herança, em parte foi recolhida pelo movimento de reformas de base na década de 60.
O fato é que só no RS aconteceram rupturas na ordem e rachas nas classes dominantes para poder emergir o novo. Me perdoem os paulistas e mineiros, mas só aqui houve um modelo revolucionário genuíno.
Onde mais houve isso?
A maioria dos movimentos brasileiros acaba com um "Poncho Verde" da vida, ou seja acerto para que a elite econômica não seja reprimida.
Sugiro que o Feil, após essa boa experiência , abra espaço para discussão sobre outros movimentos populares reprimidos pela elite e/ou exército: como a Cabanagem, Canudos, Contestado,Levante de 1.935, Araguaia, etc. São trechos de nossa história pouco estudadas, por motivos óbvios.
digo, estudados.
Sim, Armando.
Depois vamos examinar a "Traição de Porongos" ocorrido no finalzinho da guerra civil dos Farrapos (1844), quando foram massacrados centenas de lanceiros negros numa trama que envolveu o "herói" Davi Canabarro e o Duque de Caxias, a serviço do Império. Não podendo libertar os soldados escravos que lutaram bravamente, um acerto macabro entre Canabarro e Caxias acabou por decretar o extermínio dos negros lanceiros.
Vamos ver adiante.
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