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segunda-feira, 10 de setembro de 2007


Por que o Rio Grande do Sul é assim - II

A guerra civil de 1893-1895

O Rio Grande do Sul entrou na fase do conflito armado a partir de fevereiro de 1893. A guerra civil durou exatos 31 meses, até agosto de 1895. Morreram cerca de 12 mil pessoas, numa população estimada de um milhão de sul-rio-grandenses.

É considerada a mais bárbara das revoluções americanas, não só pelo número de mortos, mas pela brutalidade e extensão do conflito que incluiu a eliminação quase completa dos prisioneiros, que eram degolados (na foto, o célebre degolador Adão Latorre exibe a sua perícia macabra) impiedosamente pelo adversário, de ambos os lados. Existem relatos de que cerca de trezentos prisioneiros de determinada batalha tenham sido degolados após cessados os combates. Não existiam prisioneiros de guerra, neste sentido.

A guerra civil de 1893 resultou do conflito de dois setores bem identificados da elite político-econômica sulina. De um lado, os federalistas (ou maragatos, ou quero-queros, ou gasparistas), de outro, os republicanos (ou chimangos, ou pica-paus, ou castilhistas). De um lado o retórico, vaidoso e tagarela Gaspar da Silveira Martins, que segundo o insuspeito historiador oficialista Darcy Azambuja, não tinha “maiores preocupações doutrinárias” e o máximo de pensamento a que alcançou resume-se numa frase tola: “idéias não são metais que se fundem”. De outro, Júlio de Castilhos, um convicto positivista comtiano, liderança forte e com objetivos definidos, marcado por planos universalizantes do papel do Estado e sobretudo pela busca da modernização das relações sociais, tudo isso embalado numa personalidade austera e incorruptível, uma espécie de Robespierre pampeano.

Todos sabem que venceu o grupo castilhista, representado pelo Partido Republicano Rio-grandense (PRR). Castilhos foi sucedido em 1898 por Borges de Medeiros, da mesma linhagem castilhista-comtiana, que saiu do poder somente em 1928. A revolução de 93 ainda teria recaídas em 1923 e 1924, sempre com os mesmos antagonistas de classe e os mesmos motivos sócio-econômicos e de poder.

Que rivalidades tão profundas eram essas?

É o velho e eterno embate entre o moderno e o arcaico. Curiosamente, um líder saído deste “laboratório” meridional da modernidade brasileira, Getúlio Vargas, um militante do PRR, é que vai promover a partir de 1930 um novo Brasil, mais ajustado às exigências do século 20. No Rio Grande do Sul, no final do século 19, se gestou, então, com muita dor e sangue, o que viria a ser o País em grande parte do século 20, pelo menos – segundo alguns estudiosos – até o advento de Collor e Fernando Henrique, que cortam em definitivo as amarras sócio-institucionais criadas e mantidas pela Era Vargas (1930-1954).

A vanguarda republicano-castilhistas-borgistas (chimangos) fez a parte da revolução burguesa no País. Florestan Fernandes diz que “a Revolução Burguesa [brasileira] não constitui um episódio histórico” definido singularmente, marcado e datado. O caso brasileiro, segundo Florestan, foi um longo processo de absorção de “um padrão estrutural e dinâmico de organização da economia, da sociedade e da cultura”. Já no Rio Grande, a revolução de 93 é o ponto – sim – inaugural da revolução burguesa na região mais meridional do Brasil.

Mas isso é tema de outro post, nesta série em que estamos examinando por que o Rio Grande do Sul é assim.

12 comentários:

Anônimo disse...

Muito bo, Feil!

Anônimo disse...

Pois é. Vendo essa foto, não sei porque, mas, pensei "carinhosamente" na "elite" golpista e separatista de S.Paulo.

Anônimo disse...

Armando, já pensou o Adão Latorre com a sua "Solingen" bem amolada numa aglomeração pública do "Cansei"?

Carlos Eduardo da Maia disse...

A fundação do MP do RS editou dois livros sobre o assunto: Diários da Revolução de 1893 do General Joca Tavares e de seu irmão Francisco da Silva Tavares. Uma pergunta ao Juarez Prieb, porque um movimento de classe média tem de ser degolado com as boas facas alemãs Solingen?

Anônimo disse...

Só faltaria o Maia afirmar aqui que o Júlio e o Borges eram pífios como líderes.

Anônimo disse...

Gravitam, em torno do Fogaça, figuras carimbadas do autoritarismo vinculadas diretamente ao golpe de 1964, gente saudosa do poder, sem princípios, e tal como no passado, useira e veseira da violência como instrumento de "ação política". Junte-se a isso, uma militância "cinco pila e um pastel" que, convenhamos, não se caracteriza pelo debate, pelas idéia, nem pela consciência política. Em tal caldo de cultura, a perda do controle é uma decorrência natural. Exemplo disso, foi a admissão pública de uma mulher, q atualizando o "desbastar dedos" afirmou ter participado de um desses episódios de violência "para provocar".
Então, q ninguém se iluda, pois os herdeiros do Latorre estão todos aí, quebrando comites. Só q agora a arma ñ é mais a Solingen. São os canos d ferro escondidos nos mastros das bandeiras da direita. Por enquanto.

Anônimo disse...

Observando os movimentos da nossa história, é muito provável q o Adão Latorre oferecesse seus préstimos a nossa classe média q os aceitaria de bom grado. Esse indivíduo era um psicopata, q via na guerra uma oportunidade de extravasar sua bestialidade. Como d resto, a maior parte dos participantes daquele conflito, q estavam completamente alheios as suas reais motivações e simplesmente obedeciam aos interesses dos caciques d então. Se comportavam como hordas, deixando um rastro de morte por onde passavam. Na década d 70, o Coojornal publicou uma entrevista com um dos participantes dessas "refregas" e q, de certa forma, resumia o espírito dos "combatentes". Ele declarou: "q assisista q borgista q nada. Nós queríamos era desbastar dedos!" (brigar de facão).
Penso q revisitar esse lado macabro da nossa história, como vem fazendo o Cristóvão, é bastante pedagógico e ajuda a desmontar aquele mito auto proclamada cordialidade gaúcha, da sociedade onde patrão e peão freqüentam o mesmo galpão. Nossa população torce o nariz e mostra uma indignação de fachada contra aquelas atitudes q ela ñ considera d "bom tom" como, por ex. um político q levanta a voz num debate eleitoral mais acalorado, mas q é conivente, quando ñ participante, dos badernaços pós partida d futebol.
continua...

Anônimo disse...

Há q considerar, tbém, os lances da última campanha eleitoral em Porto Alegre q foram o corolário do discurso do candidato José Fogaça. As expressões "mudança sem ódio", "ataca", "desespero" faziam parte do seu vocabulário e foram sistematicamente usadas em todos os espaços que ele ocupava na mídia.
Esse discurso antecedeu a campanha do Fogaça e foi maquiavelicamente construído pela mídia hegemônica, onde é comum ver os chamados "comunicadores" valerem-se desses mesmos termos ao se referirem ao PT e à sua militância.
Tal discurso acaba, fatalmente, produzindo seus efeitos, ou seja, cria um clima de tensão e acirramento dos ânimos. Daí para descambar em violência é um passo e foi o que realmente aconteceu.
O ataque ao comitê de campanha do Raul Pont evidencia isso. Fogaça, quando insistiu em atribuir a seu adversário um caráter agressivo e violento, acabou por criar, em seus próprios correligionários, um comportamento paranóico e fez com que eles tomassem atitudes que Fogaça, em tese, condenava. Pois não estariam estes correligionários, ao cometerem atos d violência, antecipando-se a um "previsível" ataque da militância petista? Nesse contexto, criado pelo discurso fogacista, tal situação se configurou. Criou-se um "inimigo" e qualquer ato de violência contra ele está, automaticamente, "legitimado", posto que foi praticado em nome da "melhor causa".
continua...

Anônimo disse...

Gravitam, em torno do Fogaça, figuras carimbadas do autoritarismo vinculadas diretamente ao golpe de 1964, gente saudosa do poder, sem princípios, e tal como no passado, useira e veseira da violência como instrumento de "ação política". Junte-se a isso, uma militância "cinco pila e um pastel" que, convenhamos, não se caracteriza pelo debate, pelas idéia, nem pela consciência política. Em tal caldo de cultura, a perda do controle é uma decorrência natural. Exemplo disso, foi a admissão pública de uma mulher, q atualizando o "desbastar dedos" afirmou ter participado de um desses episódios de violência "para provocar".
Então, q ninguém se iluda, pois os herdeiros do Latorre estão todos aí, quebrando comites. Só q agora a arma ñ é mais a Solingen. São os canos d ferro escondidos nos mastros das bandeiras da direita. Por enquanto.

Unknown disse...

...e pensar que Fogaça foi motivo de música do kleiton e kledir...

Claudinha disse...

É interessante, curioso até, que, no nosso estado, tenhamos essa divisão bem marcada entre chimangos-maragatos, gasparistas-castilhistas, colorados-gremistas, anti-petistas e petistas. Certa vez, uma professora de História da rede municipal de ensino de Porto Alegre afirmou ser característica de estado de fronteira tal situação, idéia esta da qual não discordo e me faz lembrar da Argentina, que tb tem suas divisões bem marcadas, tanto no campo político, como no futebol.
:-)

Anônimo disse...

eu sou terceira geracao da familia latorre e quase nao sei nada sobre meu bisavo!meu avo q já faleceu nao gostava de falar sobre o pai,as vez ele deixava escapar alguma coisa.mais o pouco q conheco sobre adao latorr foi em arquivo.

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