Os “fazendeiros” de São Sepé e a lembrança do futuro
Ontem conversei por telefone com um jornalista que está
Esse profissional, que conhece a região, me dizia que os ruralistas manifestantes nem chegam a ser fazendeiros, no sentido clássico da palavra. Trata-se de uma classe média de origem rural, cujas propriedades – hoje diminutas – foram de seus avós e bisavós, mas que ainda consegue mantê-los em regime estrito de sobrevivência, como para “manterem o penacho erguido”. Portanto, a reação deles advém muito mais das terras que já possuíram do que dos retalhos que ainda mantém. Os sem-terras são uma afronta simbólica, por que podem materializar o futuro a que estão destinados. É uma “lembrança do futuro” no sentido surreal, o medo de resvalarem como classe para àquela situação que rechaçam.
Os fazendeiros quebrados sabem que seu inimigo real é o capital financeiro, que lhes come nacos de propriedade e safra a cada ano, entretanto, os bancos não tem a presença física como a das famílias de agricultores mal vestidos, os bancos são assépticos e contra eles pouco ou nada se pode fazer.
É mais fácil provocar covardemente famílias despossuídas do que ameaçar os bancos e o poder “naturalizado” do capital financeiro.
São Sepé é o Rio Grande rural dos maragatos que declina na penúria e não quer aceitar o futuro, porque o futuro tem uma estética que não é féxiom, calça sandálias de tiras precárias, cheira a fumaça de rancho e desobedece as autoridades do atraso.
Afinal, não é de graça que o município tem o nome de Sepé.
Foto de Bianca Backes/ZH: protesto dos ruralistas de São Sepé contra o MST.
5 comentários:
Vejam que os bombachudos ridículos estão a ameaçar...
Sua análise da questão agrária é exelesnte para entender o emaranhado da estrutura da nossa sociedade. Vievemos num "faz de conta". Onde ficam de lado, as questões mais importântes. A mídia diz: os sem-terrra, são isso, isso e isso... Pronto, todos dizem a mesma coisa. É quase impossível ir contra. LUTEMOS!
Na minha região ocorre o mesmo. Os mais ferrenhos opositores do MST são pequenos e médios proprietários que reproduzem o discurso dos grandes estancieiros. E nem todos são herdeiros de restos do latifúndio, muitos são colonos cujos domínios jamais ultrapassaram um módulo rural. Mal sabem que a reforma da estrutura agrária os beneficiaria diretamente...
Esta constatação é a mesma que já fiz e a qual escrevi um tempo atrás. Vc deve estar lembrado da comoção que a pref. causou, quando construiu um condomínio na Princesa Isabel para os favelados. ao invés das pessoas se regojizarem com a ascenção social dos mais desvalidos, ficaram indigmadas. A explicação, para mim, só pode ser uma: enqto as malocas estavam ali, elas serviam de referência da distinção de classe com a vizinhança. Removidas, provocaram um pânico, na medida que ficou patente que os indignados não eram tão prósperos como imaginavam ser, ou pertenciam a uma classe "superior" como acreditavam pertencer. A transformação das malocas em um conjunto habitacional, confrontou-os com a sua realidade, ou seja, pés rapados remediados tais como esses "ruralistas" herdeiros da nostalgia da velha estância.
Concordo com vc e com as analises feitas pelo pessoal que acima escreveu, analise perfeita, no ponto, mas o que mais me chamou a atenção foi mesmo a foto publicada no ZH e que vc acima reproduziu, é impressionante, quando olhei a foto me perguntei se a Editoria de ZH não havia se enganado na escolha da foto, mas não, é a mais absoluta verdade que mesmo que qeiram não iram esconder por muito tempo, para ter certeza daquilo que ja a tempo pensava, so esperei que tu ou o Marcos chamasem atenção para este fato.
É disto que precisamos, analises corretas e destruindo a contradição que eles (PRBS)claramente querem counstruir.Pampeano
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