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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 4 de setembro de 2007


Nosso pior inimigo é o burocrata

Desde a revolução de 1905 os soviets exerciam crescente poder popular na Rússia, em especial na derrubada do czarismo, em fevereiro de 1917. Era o duplo poder, flagrado por Lenin, entre os soviets e o governo. Essa situação durou até outubro, quando o partido bolchevique toma o poder e atende os camponeses, distribuindo-lhes terra e fazendo-os proprietários. À massa urbana deu-lhes a paz, já que a Rússia estava envolvida na guerra com a Alemanha. E aos soviets de operários industriais deu-lhes apenas a vigilância do processo das unidades fabris.

No discurso de primeiro aniversário da revolução, em 6 de outubro de 1918, Lenin explicava aos operários, assim: "Nós não decretamos o socialismo logo de início em toda a indústria porque ele apenas se pode estabelecer e consolidar no dia em que a classe operária tiver aprendido a dirigir (...) Essa a razão porque instituímos o controle operário sabendo que é uma medida contraditória, imperfeita (...)".

Esse fragmento é coerente e conseqüente com a teoria de partido de Lenin, do qual o partido bolchevique é protótipo, qual seja, a concepção de partido como representação e como vanguarda do proletariado. Como o "sujeito" da história, o proletariado, tinha pouca expressão, resultante da frágil formação social russa, a vanguarda assume as tarefas de representar a classe revelada (aqui já no sentido teológico, mesmo). Essa teoria entra em aguda contradição com a genuína praxis social dos conselhos (soviets), que desde antes de 1905 faziam avançar o processo social, ainda em um regime absolutista, como o czarismo.

Os camponeses avançaram sobre as terras e levaram; os operários foram promovidos a controladores, a vigilantes da produção, mas, claro, continuaram operários produtores de sobretrabalho, base da pretendida acumulação. Não é preciso dizer que o setor primário russo teve desempenhos pífios na produção de alimentos e a indústria foi uma alavanca no salto modernizante que se instaurava.

O partido bolchevique satisfez de pronto os camponeses, onde tinha escassa inserção, com o objetivo de torná-los aliados; e como os soviets de operários já tinham hegemonia dos bolcheviques, estes não hesitaram em sacrificá-los para ver triunfar o poder do partido, do Estado e, por conseguinte, do capital.

Lenin tornou lateral a questão camponesa precisamente quando lhes atende as demandas, porque não queria ser presa de um desenvolvimento do tipo via prussiana. Um desenvolvimento, este, que exige um Estado democrático-burguês. Lenin queria um atalho para o socialismo, como começou a preconizar nas Teses de Abril, nas quais sustenta o abandono da fase democrático-burguesa e levanta a bandeira do socialismo, para incredulidade dos bolcheviques.

Ele mostra todo o seu talento político e a sua capacidade de jogar o xadrez enigmático da política tático-estratégica, especialmente na acelerada dinâmica da crise, “onde alguns dias valem por anos”. Contudo, hoje está claro que, consciente do subdesenvolvimento da formação social russa, ele optou por operar através do partido o reversivo processo modernizante, ao invés de cedê-lo aos medíocres liberais egressos do czarismo – eis a essência das Teses de Abril.

Ele teria dito, depois de abril, que "a Rússia foi durante largo tempo governada por 150 mil proprietários; porque 250 mil bolcheviques não podem fazer o mesmo?" A gestão operária das fábricas pouco a pouco foi sendo a gestão sindical das fábricas, sendo que os sindicatos passaram a ser cartórios estatais, destinados a dirigirem os trabalhadores em vez de serem por eles dirigidos.

O poder, como a coluna de mercúrio na termodinâmica, deslocou-se para onde havia mais energia calorífica: migrou dos soviets para os bolcheviques, destes para o Estado, e deste para o autocrata (que irradiou frações delegadas de poder a uma vasta burocracia estatal e partidária).

Lenin tardiamente, e já doente, vislumbrou o panorama e temeu pela burocracia que sentia nos poros do poder bolchevique. Pouco antes de morrer, no início de 1924, ele ainda escreveu sobre o motivo do seu temor: "Nosso pior inimigo interno é o burocrata, o comunista que ocupa um posto de responsabilidade em nossas instituições soviéticas".


6 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Zé Dirceu é exatamente o burocrata que ocupa posto de responsabilidade em nossas instituições e que sonhou em permanecer no poder não importando os meios. O que importa é o fim. A vantagem não é pessoal, não é enriquecimento próprio, mas ideológica, partidária, política, é questão de poder e permanência no poder. E com isso se faz o jogo do poder e se arquitetou esquema igual ao do PSDB mineiro e se contratou o mesmo agente para fazer as velhas falcatruas. Dirceu foi o grande arquiteto, o burocrata comunista que serviu às instituições da república e que se viu indiciado por corrupção ativa e formação de quadrilha. Dirceu não foi o primeiro e não será o último burocrata do partido a fazer esse tipo de picaretagem, porque parecer existir um lema, um dogma, um princípio: os fins justificam os meios.

Anônimo disse...

Às 10:03 o CC da prefeitura de Porto Alegre, operante e ativo.

Anônimo disse...

O Grande Arquiteto foi o presidente do PSDB Eduardo Azeredo, e Dirceu não vai ser ultimo, pelo menos a não comprar um "engavetador" como fez o PSDB

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pois é verdade, foi no governo do PSDB, os tucanos, em Minas que se iniciou essa picaretagem e o governo do PT que prometeu um Brasil decente levou essa mesma picaretagem à esfera federal. Resultado, a liderança do PT foi denunciada por peculato, corrupção ativa e formação de quadrilha. E o PT reunido este fim de semana aplaudiu e muito o grande arquiteto Zé Dirceu.

Anônimo disse...

Às 16:21 o desocupado CC da prefeitura de POA novamente passeia nos blogs. Parafraseando o Brigadeiro Eduardo Gomes - o preço da vagabundagem é a eterna vigilância.

Anônimo disse...

Não Maia, o esquema foi levado para o plano federal, pelo PSDB. Esqueceu por exemplo da lista de Furnas, e liderança do PSDB são foi denunciada pelo valoroso tucano Engavetador.
Ah e o PSDB não aplaude mais o "lesa-patria" FHC, pois ele vive nos EUA falando para agrada gringo, aliás foi só o que fez durante o mandato.
"Ô meu não esquece a minha Vale".

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