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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 7 de setembro de 2007


Conto de um ramo de mirta

Era uma vez uma moça
que adorava dormir no leito de um rio.
E sem temor passeava pelo bosque
porque levava na mão
uma jaula com um grilo guardião.

Para esperá-la eu me convertia
na casa de madeira de seus antepassados
erguida às margens de um cinzento lago.

As portas e as janelas sempre estavam abertas,
Porém nos visitava apenas o primo criador de porcos
que nos trazia de presente
preguiçosos gatos
que às vezes abriam seus olhos
para que pudéssemos ver passar por suas pupilas
cortejos de bodas caipiras.

O sacerdote havia morrido
e todo ramo de mirta murchava.

Tínhamos três filhas
descalças e silenciosas como a beladona.
Recolhiam ervas
e nos falavam para dizer
que um ginete as levaria
a cidades cujos nomes nunca conheceríamos.

Mas nos revelaram o conjuro
com o qual as abelhas
saberiam que éramos seus amos
e o moinho
nos daria trigo
sem permissão do vento.

Nós esperamos nossos filhos
cruéis e fascinantes
como falcões na mão do caçador.


Jorge Teillier
(1935-1996). Poeta chileno que dizia: “se alguma vez minha voz não for escutada, pensem que o bosque fala por mim com sua linguagem de raízes”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Os lutadores estão dormindo como gatos?

Anônimo disse...

Que felicidade ter um feriadão sem as provocações do Maia. Agora, o blogueiro deve tomado uma dose um tanto larga da setembri... para esse silêncio. Afinal o blog não é DIÁRIO?

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