Conto de um ramo de mirta
Era uma vez uma moça
que adorava dormir no leito de um rio.
E sem temor passeava pelo bosque
porque levava na mão
uma jaula com um grilo guardião.
Para esperá-la eu me convertia
na casa de madeira de seus antepassados
erguida às margens de um cinzento lago.
As portas e as janelas sempre estavam abertas,
Porém nos visitava apenas o primo criador de porcos
que nos trazia de presente
preguiçosos gatos
que às vezes abriam seus olhos
para que pudéssemos ver passar por suas pupilas
cortejos de bodas caipiras.
O sacerdote havia morrido
e todo ramo de mirta murchava.
Tínhamos três filhas
descalças e silenciosas como a beladona.
Recolhiam ervas
e nos falavam para dizer
que um ginete as levaria
a cidades cujos nomes nunca conheceríamos.
Mas nos revelaram o conjuro
com o qual as abelhas
saberiam que éramos seus amos
e o moinho
nos daria trigo
sem permissão do vento.
Nós esperamos nossos filhos
cruéis e fascinantes
como falcões na mão do caçador.
Jorge Teillier (1935-1996). Poeta chileno que dizia: “se alguma vez minha voz não for escutada, pensem que o bosque fala por mim com sua linguagem de raízes”.
2 comentários:
Os lutadores estão dormindo como gatos?
Que felicidade ter um feriadão sem as provocações do Maia. Agora, o blogueiro deve tomado uma dose um tanto larga da setembri... para esse silêncio. Afinal o blog não é DIÁRIO?
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