Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um caso contado por Santiago Carrillo, que morreu hoje


A morte de Laurence Beria

Jorge Semprun, meio desbundado para o meu gosto, mas sempre um grande escritor, e um testemunho notável dos crimes nazistas e stalinistas, conta em seu livro de memórias “Um belo domingo”, como foi a eliminação do temível Laurence Beria, o sanguinário chefe de polícia de Josef Stálin.

Quem narrou o fato ao escritor espanhol foi Santiago Carrillo (foto, morto hoje em Madri, aos 97 anos de idade) então secretário-geral do PC da Espanha, alinhadíssimo à Moscou, que por sua vez, ouviu de primeira mão do próprio Nikita Kruschev, que sucedeu a Stálin, depois de sua morte natural e biológica, em março de 1953, no comando da URSS.

Kruschev recebia para jantar, numa das salas formais do Kremlin, certo número de representantes à conferência dos partidos comunistas, realizada em Moscou, em 1957. Na hora da sobremesa, Kruschev descreveu a morte de Beria, que teria ocorrido já em dezembro de 1953. Era escutado por olhos atônitos e corações descompassados.

Aconteceu, diz Nikita, durante uma reunião do Presidium Supremo, depois da morte de Stálin. Não foi tarefa fácil, todos os membros eram revistados pelos homens da KGB, antes de entrarem na sala, segundo costume instaurado no tempo de Stálin.

Mas a dificuldade foi contornada, como veremos.

Os generais não eram revistados. Bulganin, era marechal, e entrou no recinto estofado de pistolas automáticas, com a cumplicidade de diversos oficiais superiores. Mal a reunião começa e os conspiradores precipitam-se sobre as armas e abatem Beria imediatamente. Seu corpo é retirado do local enrolado em um tapete, para que ninguém se desse conta do acontecido. Ato contínuo, unidades militares de elite, avisadas do êxito da operação, prendem os principais colaboradores de Beria e dão por encerrado o assunto.

Na grande sala do Kremlim, sob o luxo rebuscado com dourados e rebrilhos, Kruschev acabava de relatar como conseguira se desembaraçar de Beria. Semprun diz que talvez ele tenha sido exagerado, ou talvez a verdade fosse mais complicada e mais sórdida também. O fato é que todos permaneciam esmagados por um silêncio espesso e glacial.

Os delegados irmãos não ousavam se encarar. Então, o velho Golan, secretário-geral do PC da Grã-Bretanha, descarregou o seu humor britânico:

A gentlemen’s affair, indeed! – algo como “um caso entre cavalheiros, sem dúvida!”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tem uma outra versão, que fala inclusive em um julgamento e a sentença de morte, depois dessa citada reunião.

http://en.wikipedia.org/wiki/Lavrentiy_Beria

Anônimo disse...

No comment!

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo