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quinta-feira, 14 de maio de 2009

IBGE constata que permanecem desigualdades no mercado de trabalho


Os avanços das etnias não-brancas são mais modestos que os avanços dos brancos

Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que, apesar dos avanços registrados nos últimos anos em termos de emprego, permanecem as desigualdades entre os grupamentos de pretos e pardos, e brancos. A data da divulgação foi escolhida intencionalmente diante da comemoração da assinatura da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. A informação é da Agência Brasil.

O instituto fez um comparativo dos dados da Pesquisa Mensal de Emprego de março de 2009 com a pesquisa de março de 2003, com relação às questões de ocupação, escolaridade e rendimento.
A economista Adriana Beringuy, da Gerência da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, disse que os dois grupos de cor ou raça [o vocábulo impróprio é da Agência Brasil] - sendo pretos e pardos um dos grupos e brancos o outro grupo - têm obtido avanços em termos de crescimento da renda e redução do desemprego, mas de maneira desigual. “Só que o patamar que os brancos atingem é maior do que aquele conseguido pelos pretos ou pardos”.

Segundo ela, há uma tendência de melhoria para todos no mercado, mas a intensidade dessa melhoria ainda não é suficiente para reduzir as desigualdades.

Em relação ao rendimento, ocorreu expansão para os dois grupos, entre 2003 e 2009. “Só que ainda assim, o rendimento dos trabalhadores pretos e pardos equivale à metade do rendimento percebido pelos brancos. E, com o rendimento mais baixo, você tem mais impedimentos para que essa população possa transpor barreiras econômicas e sociais que acabam levando a esse ciclo vicioso. Ele tem menos renda, menos escolaridade”, avaliou a economista.

Em decorrência disso, pretos e pardos têm menos acesso a postos de trabalho com melhor remuneração. E, embora haja uma melhoria da renda da sociedade como um todo, os pretos e pardos ficam em desvantagem em relação aos brancos, afirmou a economista.

A renda média real dos pretos e pardos cresceu de R$ 690,3 para R$ 847,7 no período, enquanto a dos brancos subiu de R$ 1.443,3 para R$ 1.663,9. Adriana Beringuy observou que, no entanto, na comparação de março de 2009 com março de 2003, o rendimento médio de pretos e pardos aumentou 22%, enquanto a renda média dos brancos evoluiu 15%.

“Ou seja, em termos de ganho de rendimento, pretos e pardos tiveram um percentual maior do que o alcançado pelos brancos.” O ganho, apesar disso, não contribuiu para diminuir a diferença e o valor absoluto do salário de pretos e pardos, no período, é metade do valor do salário de brancos.

De acordo com o estudo, a escolaridade média de brancos subiu de 8,3 anos para 9,1 anos, enquanto a dos pretos e pardos evoluiu de 6,7 anos para 7,6 anos, entre 2003 e 2009.
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Esse estudo comparativo do IBGE acaba provando empiricamente que as oportunidades não são iguais para todos no Brasil, algo que muitos ainda insistem em desconhecer. As etnias pretas e pardas sempre partem de bases educacionais mais elementares, relativamente aos brancos, e isso explica em parte as dificuldades subsequentes na vida dessas pessoas. Por isso, se faz necessário uma política de cotas para o acesso à Universidade pública e gratuita.

As cotas não irão resolver em definitivo o problema social brasileiro, determinado por múltiplas outras questões históricas, onde a questão étnica, marcada pelo regime escravocrata, é a um só tempo causa e consequencia, mas podem barrar de forma parcial o agressivo determinismo social no País.

Aliás, chama a atenção a unidade que está tendo a direita na questão das cotas. Há praticamente uma unanimidade contra a política de cotas, por parte do conservadorismo brasileiro. Essa gente até admite – mesmo a contragosto – a ascensão social dos miseráveis, mas a conquista da autonomia do conhecimento que por sua vez conduz à emancipação política definitiva, esta deve ser combatida e liquidada na origem. Impiedosamente.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olha esta pérola, na página seis de zh, matéria “Procurador pedirá investigação, diz PF”:
“Yeda explicou aos advogados o conteúdo de um calhamaço de documentos que levava consigo. Ela mostrou o parecer do Ministério Público Estadual avalizando A COMPRA DA LISURA da casa no bairro Vila Jardim, os cheques utilizados na negociação e a prestação das contas de campanha à Justiça Eleitoral.”

fátima avila disse...

Com relação à cota para negros nas universidades públicas, o que a nossa classe média não entende é que se trata de uma REPARAÇÃO ao tratamento até hoje dado para etnia. Uma coisa é atravessar o Atlântico com uma área de terra à espera. Sem dúvida, as viagens eram precaríssimas, mas a expectativa era bem melhor do que vir num porão de navio para ser escravo. E a máxima é esta mesma classe média pagar as melhores escolas e os melhores cursinhos para seus filhos conquistarem sua vaga na universidade pública, enquanto os pobres fazem o caminho inverso, quando conseguem fazê-lo: da escola pública à universidade privada. Pelo menos temos hoje um ProUni... Não é o ideal, mas já é um começo, assim como as cotas.
Fátima Avila

Carlos Eduardo da Maia disse...

Sou a favor -- e bem a favor -- das cotas sociais, sobretudo para fortalecer a educação pública, que é atividade fundamental para o desenvolvimento social e econômico do país. Fazer política de cota racial é alimentar preconceito é fazer nascer o ovo da serpente do ódio racial. Haverá preconceitos e discriminação entre iguais, entre a própria população de baixa renda e até mesmo entre irmãos sanguíneos (filhos da mesma mãe com pais de raças diferentes).

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