A
guerra é constitutiva do sistema
A convite da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo (RS), o professor José Luis Fiori palestrou, quarta-feira 20, sobre “Mudanças e Tendências do Sistema Mundial: a Conjuntura e a História”.
Pelo menos quatro novos atores sobem ao palco mundial, segundo ele, e o tabuleiro mais complicado é, sem dúvida, o da Europa, com a ascensão da Alemanha, que pode mudar a face geopolítica do mundo.
O professor Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), admitiu a complexidade da dimensão econômica financeira, ela é importante, mas não é a questão central que a humanidade enfrenta no momento.
A crise presente, analisou Fiori, decorre de uma contradição endógena da tendência que existe entre o sistema econômico e político que se move de forma globalizante e nacionalmente. “As transformações que estão acontecendo são e foram produzidas pela escalada vertiginosa, pelo impulso expansivo e destrutivo do poder americano, que, aliás, segue intacto e em expansão”.
Sobre o futuro, parece mais provável a Fiori que esteja em fase de redesenho um novo núcleo central do sistema capitalista mundial. Esse núcleo terá cinco potências que controlam um terço do território mundial e quase a metade da população, que são China, EUA, Europa, Irã e Brasil. As potências não estão exigindo uma nova ordem mundial, mas um reordenamento da hegemonia regional, explicou.
Ao contrário do que analistas internacionais, economistas e jornalistas afirmam a China não vai desbancar os Estados Unidos do topo das nações, avaliou o palestrante. “A China é um ator regional incontornável, mas não é um ator global. Ela não tem capacidade de projeção de poder sobre o mundo”, disse.
A Europa volta a ter uma grande potência econômica, com um exército significativo. A Alemanha de Hitler, com todo o poderio bélico que o Führer construiu, não conseguiu competir com a moeda e a finanças inglesa e norte-americana. “Hoje os alemães, aproximando-se da Rússia, estão jogando de maneira pouco sutil, mas de forma clara contra o triângulo Estados Unidos, França e Inglaterra.
Aqui se entra num terreno mais complicado, não pelo fator econômico.
mas pelo ressurgimento de uma velha e complicadíssima potência, que
é a Rússia,
bem mais imprevisível do que era a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas”, discorreu o professor da UFRJ.
Um outro tabuleiro é o Oriente Médio, com o Irã, que já se transformou numa potência regional. É, talvez, o tabuleiro mais explosivo, do ponto de vista de ameaça imediata, mas o de menor repercussão no todo. O quarto tabuleiro, muito menos tenso e complexo, é o desafio da absorção do Brasil como nova potência no Atlântico Sul.
“Nesses quatro tabuleiros se esconde o futuro”, previu o cientista social. Em todos eles existe um ator que parece externo, mas que é transcendental e não chega a ser uma incógnita variável, pois trata-se de uma certeza absoluta, que são os Estados Unidos. Sua hegemonia é incontestável, pois tem uma capacidade de interferência, em terra, mar e céus, em todos os campos do mundo. Os Estados Unidos mantém acordos militares com 130 países do mundo, lembrou Fiori.
O expansionismo dos Estados Unidos é contínuo e injeta energia em vários centros do sistema. Fiori frisou que não haveria reconstrução da Alemanha e do Japão, se não fosse a maneira como os Estados Unidos absorveram os derrotados na II Grande Guerra.”Trata-se de uma parceria virtuosa, não é obra do mercado, é estratégia, uma verdadeira genialidade estratégica dos últimos dois séculos”, disse.
De acordo com Fiori, os Estados Unidos estão mudando a sua gestão de inserção mundial, que será exercida na forma de império, mais bem ao estilo romano, com um mínimo de intervenção e uso de tropas, mas administrando os equilíbrios e as divisões internas dos outros.
Esse novo reordenamento seguirá, de acordo com a análise do cientista político, o sistema globalizado, que só tem uma forma de viver: expandindo-se sem parar. Ele será movido pela contradição do nacional e do global.
Um outro tabuleiro é o Oriente Médio, com o Irã, que já se transformou numa potência regional. É, talvez, o tabuleiro mais explosivo, do ponto de vista de ameaça imediata, mas o de menor repercussão no todo. O quarto tabuleiro, muito menos tenso e complexo, é o desafio da absorção do Brasil como nova potência no Atlântico Sul.
“Nesses quatro tabuleiros se esconde o futuro”, previu o cientista social. Em todos eles existe um ator que parece externo, mas que é transcendental e não chega a ser uma incógnita variável, pois trata-se de uma certeza absoluta, que são os Estados Unidos. Sua hegemonia é incontestável, pois tem uma capacidade de interferência, em terra, mar e céus, em todos os campos do mundo. Os Estados Unidos mantém acordos militares com 130 países do mundo, lembrou Fiori.
O expansionismo dos Estados Unidos é contínuo e injeta energia em vários centros do sistema. Fiori frisou que não haveria reconstrução da Alemanha e do Japão, se não fosse a maneira como os Estados Unidos absorveram os derrotados na II Grande Guerra.”Trata-se de uma parceria virtuosa, não é obra do mercado, é estratégia, uma verdadeira genialidade estratégica dos últimos dois séculos”, disse.
De acordo com Fiori, os Estados Unidos estão mudando a sua gestão de inserção mundial, que será exercida na forma de império, mais bem ao estilo romano, com um mínimo de intervenção e uso de tropas, mas administrando os equilíbrios e as divisões internas dos outros.
Esse novo reordenamento seguirá, de acordo com a análise do cientista político, o sistema globalizado, que só tem uma forma de viver: expandindo-se sem parar. Ele será movido pela contradição do nacional e do global.
O paradoxo desse sistema é que ele é movido,
para se inovar e construir constantemente, por grandes predadores.
Daí que a guerra é co-constitutiva do sistema, comprovado
historicamente. Entre 1650 e 1950 a Grã-Bretanha,
a grande potência da época, esteve envolvida em 140 a 150 guerras.
Os Estados
Unidos tem
o envolvimento médio de uma guerra a cada três anos. Neste novo
século, o país hegemônico está em guerra desde o início, há 12
anos, o mais longo período contínuo de todos os tempos.
Pescado
do portal IHU-Unisinos, edição de hoje.
Foto: Moça
refugiada dos conflitos armados no Sudão do Sul, África. No campo
de refugiados onde ela está (fotografia de 20/jun/2012) também
permanecem cerca de vinte mil pessoas, todas civis. Há falta de comida e
sobretudo de água. Foto de Giulio Petrocco/AFP.
A
quantidade de pessoas forçadas a abandonar suas casas por causa de
guerras ou desastres naturais passou dos 43 milhões de pessoas em
todo o mundo - o equivalente à população total de Colômbia.
Segundo dados divulgados em 2011 pelo Alto Comissariado da ONU para
os Refugiados (Acnur), o ano de 2010 teve o maior número de refugiados dos últimos 15 anos.
Desse total, o relatório classifica 15,4 milhões como refugiados, ou seja, pessoas forçadas a abandonar seus países, 27,5 milhões como pessoas deslocadas de suas casas, mas em seus próprios países, e 850 mil solicitantes de asilo em outros países. Segundo a Acnur, apenas 25 milhões desse total recebem alguma assistência das Nações Unidas.
Desse total, o relatório classifica 15,4 milhões como refugiados, ou seja, pessoas forçadas a abandonar seus países, 27,5 milhões como pessoas deslocadas de suas casas, mas em seus próprios países, e 850 mil solicitantes de asilo em outros países. Segundo a Acnur, apenas 25 milhões desse total recebem alguma assistência das Nações Unidas.
Um comentário:
A não ser que o professor seja um futurólogo muito seguro de suas afirmações ou consiga ver bem além daquilo que a realidade mostra aos demais mortais, por enquanto não existe esse indicativo de que as intervenções ianques diretas venham a declinar, para transformarem-se em algo “mais bem ao estilo romano”. Pelo contrário. Tendem a aumentar, tanto na forma convencional, com o uso de tropas, como através de novos aparatos bélicos de alta tecnologia, como é o caso dos drones, por exemplo. A utilização desses equipamentos põe em questão, inclusive, o conceito de soberania e inviolabilidade territorial das nações, uma vez que os EUA já os utilizam contra países com os quais não estão oficialmente em guerra. Que corte julgará os “contractors” assassinos que “joystickeiam” essas máquinas de matar por vastas áreas do mundo, como se elas fossem a tela de um vídeo game? Quem responde por eles: o dpto de estado, os milicos, o capitão de mato Obama, as empresas que os sub sub sub contratam? Ou o povo “americano”, já que é co-responsável pelos governos que elege “democraticamente”?
Vejam o cinismo desse trecho retirado de um texto de autoria de um tal Marcos Guterman, publicado no blog do Estadão. E não deixem de ler os comentários, verdadeiras pérolas que emolduram a postagem:
http://blogs.estadao.com.br/marcos-guterman/adeus-ao-iraque-prenuncia-guerras-mais-%E2%80%9Chigienicas%E2%80%9D/
“A Guerra do Iraque, com centenas de milhares de soldados em terra, parece fazer parte do passado; o presente é o uso de “drones”, pequenos aviões não tripulados que fazem reconhecimento e eventualmente bombardeiam alvos em terra. Foram usados pelos franceses e americanos na Líbia (consta que um drone desses atacou o comboio onde estava Kadafi em fuga) e são usados pelos americanos para matar insurgentes no Afeganistão ou terroristas no Iêmen e no Paquistão, poupando o desgaste de ter de levá-los para Guantánamo, outra excrescência da era Bush. Bin Laden, para ficar só num bom exemplo, foi morto numa ação que contou com o apoio decisivo de um drone”. Guantanamo é uma “excrecência” da era Bush. Matar com drones é um “bom exemplo”. Que tal?
Sobre a intervenção direta com uso de tropas, cabe lembrar ainda que além das suas próprias, os EUA estão ressuscitando o mercenarismo para ampliar sua capacidade intervencionista.
Acho que o professor contradiz sua afirmação sobre o “estilo romano”, quando declara que “neste novo século, o país hegemônico está em guerra desde o início, há 12 anos, o mais longo período contínuo de todos os tempos”. Pois então?
Quanto a capacidade de projeção do poder chinês, suas afirmações também são discutíveis. Pouquíssimos, até recentemente, acreditavam que a China transformar-se-ia na potência que é agora.
Discutível também é o poder que o professor atribui aos EUA. Há que considerar o quanto pode ser irrelevante num conflito nuclear uma possível vantagem tecnológica ou de projeção do poder global dos EUA (acordos militares e bases espalhadas pelo mundo), já que isso não fará muita diferença diante de um ataque intercontinental maciço do oponente. No caso de um conflito direto com a China, por exemplo (que pode degenerar para um confronto nuclear), como o tamanho da população também é elemento estratégico, a China tem bem mais chances de sair-se melhor do que os EUA. São mais pessoas a morrer, é certo, mas também são mais a sobreviver.
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