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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 12 de junho de 2012

Com a feira eleitoral, o oportunismo corre solto




Lendo o jornal Zero Hora (edição de 11/6, fac-símile acima) fica-se sabendo que agora existe um tal ''Comitê Carlos de Ré", alegadamente preocupado com a memória da ditadura civil-militar de 1964-85.

De plano, se nota que estamos diante de um mero comitê eleitoral do vereador que se apresenta como “coordenador” da entidade. E que esse mesmo vereador não tinha a menor intimidade com o suposto homenageado, que se chamada Carlos Alberto Tejera De Ré, o saudoso Minhoca, falecido meses atrás.

Portanto, nem o nome do pretenso homenageado, o vereador consegue acertar. Por óbvio, como se trata de um comitê eleitoral travestido de entidade memorialística em favor do resgate da história durante a ditadura (o que seria meritório e elogiável), não houve a devida preocupação da fidelidade e o respeito ao suposto patrono da falsa entidade. Não dizem que a astúcia tem pressa e que, por isso mesmo, é inimiga da razão?

Em tempos de corrida eleitoral, o oportunismo corre solto, a ética escorre pelo ralo e a esperteza de curto prazo predomina.

Coisas da vida.

6 comentários:

Christine disse...

Oportunismo certamente é algo que sempre preocupa ou deveria preocupar todo e qualquer militante, em todo e qualquer espaço, especialmente em vésperas de pleitos eleitorais. Daí a importância de certas observações e denúncias. Todavia, reduzir o Comitê Carlos de Ré a um "comitê eleitoral" ou a uma "falsa entidade" é, no mínimo, desrespeitoso com o corpo da militância que constrói o espaço há mais de um ano (sim, pq o comitê não surgiu em época de eleição para fins de eleição).

O Comitê Carlos de Ré, que integro desde a fundação, tem muito respeito e admiração pela trajetória de luta do Minhoca antes, durante e depois da ditadura civil-militar brasileira. E este respeito não tem qualquer ligação com a relação que um dia o companheiro teve com o Pedro Ruas dentro e/ou fora do PDT.

Quem só ficou sabendo agora que existe "um tal Comitê Carlos de Ré" certamente não acompanhou -falha nossa tb- as outras atividades, algumas tb divulgadas pela Zero Hora, que foram protagonizadas pelo nosso grupo que é composto por diferentes juventudes partidárias e não partidárias, bem como por militantes históricos organizados ou não por partidos, sendo que alguns deles, inclusive, como é o caso do Carneiro, do Elwanger e da Suzana Lisboa, permitem que a gente reuna na mesma sala lutadores que ajudaram a conquistar a democracia e jovens que estão dispostos a lutar para concretizar e aperfeiçoar as formas incipientes que ela traduz hoje.

Temos, na nossa composição, estudantes, professores, movimentos sociais, curiosos e, sim (pq não?), pessoas que militam na política partidária, sendo que entre elas pelo menos quatro pré-candidatos/as a vereador/a nas próximas eleições de Porto Alegre (PT e PSOL). Essas pré-candidaturas, que se desenham há alguns meses, não devem dar a tônica do nosso Comitê, que é antes e acima de tudo composto por uma militância ativa comprometida com os Direitos Humanos e com todas as dimensões da Justiça e Transição.

Dos nossos muitos erros enquanto Comitê... talvez o mais forte esteja por vir, que é deixar que o evidente estigma que se desenha por razões lógicas e compreensíveis sobrepuje nossa luta e deixem esmorecer a força e a vontade transformadora de quem integra nosso grupo. Talvez a solução seja convidar, de peito aberto, todas as pessoas que nos criticam para que integrem nosso Comitê, que se reune quase que semanalmente, e ajudem a construir nossa luta, que é fundamental para superar o restolho da ditadura, resgatar a memória e a participação coletiva, bem como combater autoritarismo e a violência institucionais que agridem diariamente a sociedade, especialmente na parcela já fragilizada pelos efeitos do capitalismo, como quilombos e periferias.

Fica o convite e a saudação de uma jovem militante petista que acompanha este blog.

Cristóvão Feil disse...

É de respeitar os militantes sinceros e abnegados que participam - com objetivos não-eleitorais - do comitê do vereador do Pedro Ruas. Mas saibam que estão participando do comitê do Pedro Ruas, que busca dividendos eleitorais em um ano eleitoral.

O correto e adequado é unirmos esforços para que seja criada uma 'Comissão da Verdade' também no RS. Tal instituição deveria ser criada por Projeto de Lei e votada na Assembleia Legislativa, com legitimidade e legalidade, a exemplo da Comissão criada pela presidenta Dilma, no âmbito nacional. Aí sim teríamos uma instituição republicana, inominada, sem donos, e sem se constituir em biombo eleitoral de políticos profissionais e que aspiram fazer "carreira" na vida pública.

Abç.

Cristóvão Feil

Christine disse...

Discordo de duas coisas: por primeiro, não faço parte dO Comitê Do Pedro Ruas. O Pedro Ruas é que faz parte de um comitê da sociedade civil organizada em torno da pauta da justiça transicional, que não tem donos. Compreendo, contudo, que está crítica diz respeito ao estigma de que referi, que ainda está em processo e -confio- sujeito a reversão. Daí parte da importância de ampliarmos a nossa militância; por segundo, não creio que O correto, no singular, seja instaurar uma comissão estadual da verdade. Clama lá que eu explico.

As comissões estaduais da verdade, criadas no âmbito da Assembleia Legislativa, são importantíssimas e já são realidade em alguns estados brasileiros. Todavia, não substituem os comitês estaduais da verdade, pois se destinam a papeis diferentes. Os comitês estaduais, ligados em rede nacional, têm o objetivo de levar o debate da justiça de transição para a sociedade e disputar consciências para que não tenhamos iniciativas institucionais com a pecha de verticalizadas por serem descoladas das expectativas da população. De que adianta ganhar um debate institucional com projetos excelentes se estas iniciativas forem repudiadas pela sociedade? Se as pesquisas apontarem que (sei lá...) 70% da população for favorável à tortura como método e contrárias à Comissão Nacional da Verdade?

Os comitês abrem um diálogo da sociedade com a sociedade, de povo para povo, sem prerrogativas institucionais, mas tb sem amarras. Nosso papel é construir o apoio necessário para os avanços necessários. Fazemos caminhadas, participamos de seminários, elaboramos materiais, dialogamos com professores de história... Temos projetos e muitas perspectivas de ampliar nossa atuação. Mais do que colocar o tema na pauta midiática do dia, deixando ela sujeita às manobras que bem conhecemos, queremos colocar a discussão dentro das famílias, dos movimentos sociais e de todo o conjunto da sociedade.

Nada disso se confunde com o papel investigativo -imprescindível- das comissões estaduais, que seguem a formatação-base da Comissão Nacional da Verdade. É um trabalho de base, de apoio, complementar e insubstituível. Comissões e comitês tanto não se confundem que atuam em parceria. Em Pernambuco, por exemplo, a Comissão Estadual da Verdade Dom Hélder Câmara, que tem nove membros (já empossados), atua com o apoio de todos os grupos locais, sem substituir qualquer um deles.

Acho que temos que avançar no movimento em favor da instauração de uma comissão estadual da verdade no RS, mas isso tb é um trabalho do comitê gaúcho, que corrobora a importância da existência dele.

Abraço!

Nei disse...

nova ashtag no twitter:

#tourinhonetoquerlivrarKaxoeira

Anônimo disse...

diário gauche que le zero hora e crítica sem conhecimento cabível políticos de esquerda. Que maravilha, todo mundo pode ter blog agora..

suzana lisboa disse...

Os que conhecem essa luta também me conhecem.Faço parte do Comitê da Verdade e da Memória Carlos de Ré, com muito orgulho. Pela homenagem ao meu querido Minhoca e pela luta que trava há mais de um ano. É penoso ver que desavenças pessoais estejam servindo para enxovalhar e dividir...
Suzana Keniger Lisbôa
Comissão de Familiares de Mortos e
Desaparecidos Políticos

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