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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A mídia não informou tudo sobre o Nobel de Economia deste ano


Professora premiada quebra paradigmas consagrados pelo pensamento neoliberal das últimas três décadas

O chamado Prêmio Nobel de Economia de 2009 mereceu destaque parcial porque foi destinado a uma mulher, mas a mídia brasileira e mesmo a internacional não ressaltaram com a devida ênfase o objeto dos estudos da premiada, a professora Elinor Ostrom (foto), da Universidade de Indiana (EUA).

O Prêmio Nobel de Economia, criado em 1969, foi concedido pela primeira vez a uma mulher. Elinor Ostrom, de 76 anos, doutora em ciência política e pesquisadora em gestão de recursos por comunidades. Ela dividiu o prêmio com Oliver Williamson, de 77 anos, professor da Universidade da Califórnia e doutor em economia. Ele estuda tomadas de decisão em empresas.

No ano da crise estrutural do capitalismo financeiro, o comitê de Estocolmo deixou de lado trabalhos focados em macroeconomia e em modelos abstratos.

Os vencedores desenvolveram pesquisas de campo que procuram compreender como as pessoas cooperam entre si fora dos mercados convencionais. Um dos fatores em comum entre os trabalhos é a questão da regulação.

Para o comitê do prêmio Nobel de Economia, que a rigor é instituído pelo Banco Central da Suécia (poucos sabem dessa importante condição), embora a teoria econômica tenha iluminado de forma abrangente as virtudes e as limitações dos mercados, tradicionalmente prestou menos atenção aos arranjos institucionais de iniciativa das comunidades interessadas.

O trabalho de Ostrom tem implicações em políticas ambientais e questões relacionadas ao aquecimento global. Seu trabalho derruba a tese de que, quando as comunidades administram recursos ou bens finitos, acabarão por destruí-los, e que o melhor seria uma regulação centralizada ou a privatização.

Com base em exemplos de gestão de áreas de floresta, suprimento de água e pastagens para animais no meio rural, Ostrom comprovou que a gestão comunitária pode ter resultados melhores do que o previsto pelo pensamento hegemônico.

Em entrevistas, a professora premiada comentou seu trabalho: "Desde que nós descobrimos que algumas vezes os burocratas não têm as informações corretas, enquanto cidadãos e usuários dos recursos têm, nós esperamos que isso ajude a encorajar um senso de capacidade e de poder" das comunidades organizadas.

Na prática, o trabalho de Ostrom indica que políticas públicas, principalmente ambientais, têm mais resultados quando são baseadas na colaboração entre as partes, e não na simples imposição de regras ou o cumprimento de critérios privatistas de gestão - conforme ficou consagrado nos últimos trinta anos de hegemonia cultural do neoliberalismo.

Em um trabalho de 2006, afirma que, quando os usuários estão engajados nas decisões referentes a regras que afetam a maneira como usam os recursos, a probabilidade de seguirem o que foi definido e monitorarem os outros é bem maior do que quando uma autoridade simplesmente impõe normas.

9 comentários:

Juarez disse...

Ótimo, eu não tinha me dado conta da importância do trabalho dessa professora.

Anônimo disse...

A alternativa é fazer um tipo de OP nas questões ambientais.

Diego Chevarria disse...

Williamson também é um grande contribudor das teorias não "ortodoxas" da economia, ele desenvolveu os eixos iniciais da Economia dos Custos de Transação, o que trata, entre outras coisas, da cooperação - foco muito diferente do caminho normal da economia de mercado, que trata da competição. Tem muito neoliberal que deve tá se mordendo de raiva do Nobel deste ano.

Anônimo disse...

Esse premio sempre buscou agradar gregos e troianos. Quando a crise der uma arrefecida, já vão premiar os liberais de novo,

barcelosmarcio disse...

No livro mais clássico da Ostrom, "Governing the Commons", tem três sub-capítulos muito interessantes bem no início:
"Privatization as the only way";
"Estatization as the only way";
"Only way?"

Detalhe: Esse livro é de 1990. Desde aquela época ela já dizia, amparada em rigorosa análise empírica, que a privatização não era, nem de longe, o melhor caminho.

Mas, anos 80, Reagan e Tatcher, aquela coisa... aí vieram os 90, o desvario neoliberal tomou conta do mundo, provou ser um desastre, e só agora, quase 20 anos depois, a prof. Ostrom tem seu trabalho reconhecido. E que reconhecimento!!

Só que isso vai contra os princípios defasados da mídia corporativa brasileira, para quem a privatização é, sim, o melhor, o único, o sagrado caminho.

Nelson Antônio Fazenda disse...

Há alguns anos, o sociólogo alemão, Robert Kurz, escrevia um artigo no qual afirmava que os neoliberais estavam convictos de que se o sistema deles não desse certo nenhum outro poderia funcionar.
Parece que Kurz acertou. Dados e fatos, que comprovam o quanto estão errados os preceitos neoliberais, são escondidos ou manipulados da forma mais torpe para que as pessoas prossigam acreditando que o neoliberalismo é "o fim da história", o degrau mais alto a que a humanidade pode aspirar.

Anônimo disse...

e ela é sueca.
Estuda o comum, que está além do estatal e do privado, coisa que não
é comum nessas terras.

Valeriobrl disse...

No vamos a esquecer os sonhos do irmão Elton, espero que un dia em Porto Alegre seja dedicado em memória desse martire do MST.
Eu no vou parando de sonhar em um pais + justo com:
-saúde
-educação
-trabalho
PARA TODOS!!
NO a criminalizar o MST
SIM a uma "verdadeira" reforma agraria.

Heitor Reis de Oliveira disse...

Primeiramente felicito os criadores ou o criador(a)do blog,vou frequentá-lo sempre que puder.
Alguém chamado MÁRCIO leu o livro de Ostrom,será que o blog ou ou o MÁRCIO poderia disponibilizá-lo para nós,mesmo que seja em inglês?

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