Indústria
automobilística teve isenção de R$ 1 milhão por emprego criado
As medidas de estímulo à venda de veículos nos últimos três anos e meio também contribuíram para a remessa de US$ 14,6 bilhões ao exterior, na forma de lucros e dividendos, para as matrizes que contavam prejuízos com a queda na receita nos Estados Unidos e na Europa. O lucro enviado para fora do País fica próximo do valor que as empresas deixaram de pagar em impostos.
A maior parte dos benefícios foi anunciada de surpresa pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, sem planejamento com outros setores do governo. Sob a tutela da presidente Dilma Rousseff, o ministro assumiu a negociação direta com as montadoras, gerando críticas, nos bastidores, de outros gabinetes. Há quem critique a falta de contrapartidas ambientais, de geração de empregos e de investimentos pelas empresas.
Economistas concordam que o consumidor brasileiro paga preço salgado para ajudar um setor da economia e criticam a forma atabalhoada com que o governo lida com as montadoras. Mas divergem sobre a necessidade de ajuda ao setor: uns dizem ser vital e outros apostam em uma abordagem mais liberal que permitisse, por exemplo, que os empresários tivessem prejuízo na crise para que aumentassem a qualidade do produto.
A ajuda a conta-gotas, em vez de políticas de longo prazo para tornar a indústria nacional mais competitiva, reflete o lobby de alguns setores viciados em receber auxílio estatal, diz Gabriel Leal de Barros, especialista em crédito público do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.
"A indústria automotiva do Brasil tem 60 anos e a da Coreia do Sul, 35, e eles são tão mais competitivos que o consumidor consegue perceber isso simplesmente entrando no carro", afirma Barros, que defende reformas econômicas e investimentos em infraestrutura para reduzir custos da indústria.
Os dados mostram que o País "abre mão de muita coisa para atender aos interesses desse setor, a um custo enorme", diz Julio Miragaia, coordenador de Políticas Econômicas do Conselho Federal de Economia. "Provavelmente, a maior parte da desoneração tenha sido enviada na forma de lucros para o exterior."
Se houve queda no preço ao consumidor, a política do governo não estimulou a concorrência, segundo o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. "Os dados demonstram que o regime beneficiou mais as empresas tradicionalmente instaladas do que a entrada de novos concorrentes, o que seria a intenção original."
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A sociedade do automóvel, moldada para conviver e dar amplo espaço aos veículos particulares, está consumindo muitos outros valores que poderíamos cultivar no nosso meio social. Cada vez mais, adotamos o comportamento de manada.
Vejam as cidades brasileiras, médias e grandes (e mesmo as pequenas): estão deformadas, entupidas e hipertrofiadas para propiciar que o automóvel tenha regalias no meio urbano, em detrimento dos indivíduos e sua liberdade de locomoção e mais qualidade do ar e das águas.
Os incentivos do lulismo de resultados ao automóvel jamais considerou a necessidade de políticas públicas para o transporte urbano das grandes massas. O próprio programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (elogiável em quase todos os aspectos) também não incidiu sobre a revisão das políticas acerca do solo urbano e as medidas para coibir a especulação imobiliária desenfreada e selvagem, bem como sobre o transporte coletivo caótico nas cidades brasileiras.
Queremos (e podemos) estar entre as dez maiores economias do planeta, mas para tanto não podemos deixar que um artefato do século 19 seja hegemônico no nosso meio e nos imponha tantos sacrifícios e com vantagens bastante discutíveis e ultrapassadas.
10 comentários:
Enquanto isso, não vemos soluções se nos apresentarem. Nem da parte de governos (Lula/Dilma) nos quais apostamos que as trariam, nem da parte da iniciativa privada.
Às custas de momumental campanha de propaganda, tentaram nos convencer de que se entregássemos tudo às mãos da empresa privada, passaríamos a viver no melhor dos mundos, um quase-paraíso. E o que temos? Ruas e rodovias entupidas de carros e caminhões.
Ferrovias? Onde estão as ferrovias que a iniciativa privada, com sua maior eficiência e capacidade, iria nos ofertar?
Quem tirou essa foto do cachorro? Obrigado. Abraço.
Não sei afirmar se o tempo decorrido é exatamente esse, mas, há uns três meses e meio, surgiu a notícia de que, resultado da intermediação de um certo deputado, estava aprovada uma verba de R$ 500 milhões para a duplicação da rodovia BR 386, desde Iraí até lá embaixo, nas imediações de Lajeado.
O regozijo entre as autoridades das cidades localizadas ao longo da estrada se mostrou tão marcante quanto a inexistência de um debate um pouco mais aprofundado sobre a problemática dos transportes e da malha rodoviária. Que eu me lembre, não apareceu uma sequer dessas autoridades para, pelo menos, fazer alguma ponderação a respeito de uma outra aplicação, mais coerente, mais racional, de tal verba; na construção de ferrovias, por exemplo.
Fosse carreada para a expansão da malha ferroviária e, possivelmente, nem seria mais necessário duplicar a rodovia, uma vez que a estrada seria desafogada de uma grande quantidade de caminhões, no mínimo, senão de automóveis também.
Outra questão séria que também passou batida é a das pequenas cidades não servidas por uma ligação asfáltica. Se o governo segue com a política de privilegiar certas regiões e cidades com rodovias asfaltadas, os moradores dessas pequenas cidades sentir-se-ão cada vez mais desestimulados a nelas permanecerem. A tendência, então, será a emigração para as cidades melhor servidas, causando o inchamento das mesmas, que, previamente, já não possuem infra-estrutura suficiente para absorver os migrantes. Ao mesmo tempo, esta política acaba por provocar também o esvaziamento das pequenas.
Então, toda essa problemática está aí e, ao que parece, poucos ou mesmo ninguém está disposto a encará-la com a seriedade exigida.
Para terminar, vamos ao “certo deputado”, que teria garantido a verba para a duplicação da BR 386. É um deputado do......., isto mesmo, do PT, o Sr Ronaldo Zulke. Ou seja, um daqueles nos quais a gente aposta que entrará lá no poder para implementar as mudanças necessárias, para apresentar alternativas concretas ao que temos aí e não para propor mais do mesmo.
Infelizmente, parece que tudo isso confirma a tese do genial Millor Fernandes: o Brasil é mesmo um país com “um grande passado pela frente”.
Anônimo, se eu soubesse o autor da fotografia do cachorro "votando" na gestão Kassab eu teria informado. Desconheço. Está rolando na internet.
Abç.
CF
Véio, se quiser a Coréia tem que levar o pacote completo: país em guerra, 30 mil soldados estrangeiros no território, sem política externa...
Não foi ao Flip este ano? Pelo menos coloque a photo daquela vez...
Sugiro a leitura de um texto do Andre Gorz, acerca da ideologia do carro a motor: http://vagavivapoa.wordpress.com/ideologia-social-do-carro-a-motor/
Abraço.
Paulo Zigli
Quanto à foto sobre a comilança de sanduíches, o que dizer?
Idiotice, parvoíce, imbecilidade. Faltam adjetivos para qualificar tamanha besteira. Uma prova de que nível educacional elevado, como é o dos estadunidenses, não significa, necessariamente, cultura e sabedoria superiores.
Aqui entra a dúvida: será - como muitos vivem a insistir - a educação, pura e simples, o passaporte garantido para um futuro melhor para nosso país?
Não tem blog melhor do que Diário Gauche. Sempre pautado por temas importantes da esquerda brasileira e mundial. Matéria sobre rodoviarização do transporte particular foi excelente.
Mensagem do Blog do Professor Tim - timraimundo.blogspot.com
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