Proposta concreta
Há várias maneiras de esconder uma grande manifestação. Você pode fazer como a Rede Globo e esconder uma passeata a favor das Diretas-Já, afirmando que a população nas ruas está lá para, na verdade, comemorar o aniversário da cidade de São Paulo.
Mas você pode transformar manifestações em uma sucessão de belas fotos de jovens que querem simplesmente o "direito de se manifestar". Dessa forma, o caráter concreto e preciso de suas demandas será paulatinamente calado.
O que impressiona nas manifestações contra o aumento do preço das passagens de ônibus e contra a imposição de uma lógica que transforma um transporte público de péssima qualidade em terceiro gasto das famílias é sua precisão.
Como as cidades brasileiras transformaram-se em catástrofes urbanas, moldadas pela especulação imobiliária e pelas máfias de transportes, nada mais justo do que problematizar a ausência de uma política pública eficiente.
Mas, em uma cidade onde o metrô é alvo de acusações de corrupção que pararam até em tribunais suíços e onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do mundo, manifestantes eram, até a semana passada, tratados ou como jovens com ideias delirantes ou como simples vândalos que mereciam uma Polícia Militar que age como manada enfu-recida de porcos.
Vários deleitaram-se em ridicularizar a proposta de tarifa zero. No entanto, a ideia original não nasceu da cabeça de "grupelhos protorrevolucionários". Ela foi resultado de grupos de trabalho da própria Prefeitura de São Paulo, quando comandada pelo mesmo partido que agora está no poder.
Em uma ironia maior da história, o PT ouve das ruas a radicalidade de propostas que ele construiu, mas que não tem mais coragem de assumir.
A proposta original previa financiar subsídios ao transporte por meio do aumento progressivo do IPTU. Ela poderia ainda apelar a um imposto sobre o segundo carro das famílias, estimulando as classes média e alta a entrar no ônibus e a descongestionar as ruas.
Apenas nos EUA, ao menos 35 cidades, todas com mais de 200 mil habitantes, adotaram o transporte totalmente subsidiado. Da mesma forma, Hasselt, na Bélgica, e Tallinn, na Estônia. Mas, em vez de discussão concreta sobre o tema, a população de São Paulo só ouviu, até agora, ironias contra os manifestantes.
Ao menos, parece que ninguém defende mais uma concepção bisonha de democracia, que valia na semana passada e compreendia manifestações públicas como atentados contra o "direito de ir e vir". Segundo essa concepção, manifestações só no pico do Jaraguá. Contra ela, lembremos: democracia é barulho.
Quem gosta de silêncio prefere ditaduras.
12 comentários:
Essas pessoas que saíram de forma espontânea e horizontal para as ruas não estão a defender propostas históricas do PT. Elas estão indignadas porque pintaram a falsa idéia de que o Brasil está fora da crise, que vivemos um milagre econômico; enquanto isso a saúde continua um caos, a educação uma vergonha, e a segurança sem controle e o governo do PT resolver construir em Brasilia, onde não tem time de futebol, um estádio para 80 mil pessoas por 1 bilhão de reais. Esse é o motivo da indignação. Vamos todos para as ruas.
Um cara de direita como o Maia, chamando para as ruas?
Já sei, ele quer transformar o movimento num Cansei número 2, a volta dos que não foram.
é impressão minha ou os brigadianos tão se dedicando a proteger de modo especialmente cuidadoso as grandes vias de acesso a sede desse cancro chamado rede bunda suja, de alcunha rbs?
Pois é, apenas a esquerda tem capacidade de organização, apenas a esquerda tem o poder da boa administração, é proprietária da melhor ética e somente ela pode realizar manifestações e protestos.
O que está ocorrendo no Brasil hoje vem acontecendo faz um ano na Argentina de Cristina K.
O governo brasileiro arrecadou mais de 1 trilhão de reais em 2012, para onde foi esse dinheiro?
Este é o ponto. Se paga muito imposto neste país e para onde vai? Para os mensalões da vida? para o estadio de Brasilia? para alimentar os companheiros?
Certa esquerda está perdida exatamente porque acha que a história só pode ser construída por ela.
E o povo está fazendo história de forma horizontal, sem a participação de politicagem e das chatices ideológicas.
Esse artigo mistura o barulho das ruas com o silencio da ditadura...duas coisas bem distintas! O barulho da marcha da TFP, onde a classe média religiosa e reacionária empurrada pela mídia da época ( que no fundo é a mesma de hoje...) e pela direita politica...opsss, ficou parecendo com as manifestações nos dias atuais, com exceções, mas com certeza é a simples e boa coincidência. E quanto ao silencio da ditadura só um pessoa sem noção não escutou o som que vinha de vários cantos do Brasil...cadeias, quarteis, esquinas e até estádios de futebol. Realmente era um baralho abafado, mas graça a ele o professor pode escrever seu artigo...triste...muito triste! As pessoas rapidamente querem um lugar nessa marcha...não se importando para onde a marcha os leva!
Também não entendo esse blog - já foi melhor héin?! Agora a real é a seguinte: a comunidade blogueira "progressista" está toda fechada em defender o PT e tirar o corpo CRÍTICO da reta. Isso é feio, estamos vendo isso, e somos poucos os leitores de blogs-críticos...
Uma pena.
Não vi NENHUM dos blogs de jornalismo ditos de "esquerda" ou parecido, dizer o óbvio: não se trata da oposição ao governo PT e suas lutas históricas, mas a falta delas, a omissão, que parece ter se juntado a ESCÓRIA elitista da direita. Parece, muitas vezes parece.
Nesse momento, as pessoas pedem todos os tipos de JUSTIÇA - isso é ótimo. pode até não dar em nada, mas... é ótimo!
A pauta... É claro, as reivindicações são TODOS OS DIAS, e sempre se começa pelo TRANSPORTE público!!!! não tem nada com pauta de ninguém!!! se o trem, o ônibus e o metrô deixam de funcionar - é dali que sai o FERVO DAS RUAS, é ali que tudo começa e ali que tudo termina.
TODO GRITO DE ÓDIO AO SISTEMA, E TODO QUEBRA-QUEBRA !! É DAS RUAS !! E SÃO MAIS FORTES NOS CAOS DOS COLETIVOS!! TODOS OS DIAS !!
Nessas macro-cidades, nas pequenas cidades, a luta contra os CARTÉIS de transportes é o óbvio da revolta _na sequência, vem todos os tipo de descrédito aos políticos dessa DEMOCRATURA que vivemos...
humpf!
Ô Banda dos boizzz
tem que fazer curso de leitura e interpretação de texto véim
não entendeu xongas né véim
depois do que li hoje me convenci: eles estão mesmo protegendo a sede desse cancro chamado rede bunda suja. quem te viu e quem te vê, hein, tarso genro? quem te viu e quem te vê, hein, pt? muito bonito!!!!
e pensar que o pt já teve um olívio dutra de governador, hoje tem isso daí, que não pensa 2x em se abaixar pra rbs et caterva, tsc tsc tsc...
Nem primavera nem outono: é a aurora brasileira!
O povo não precisa de adjetivo para estar na rua. O povo na rua é o povo na rua. E ponto. Indo e vindo do trabalho, da escola, da universidade, da padaria, do mercado, da farmácia, da feira, do estádio, da praça. O meio ambiente do povo é a rua. O lar é o ninho, a zona de conforto e reconforto.
O povo não precisa de substantivo para estar na rua. O povo na rua é o povo na rua. E ponto. Fazendo protesto, passeata, procissão, carnaval ou simplesmente caminhando, cantando e seguindo a canção. A rua é o habitat natural do povo. O espaço solene da convivência e do movimento popular.
O povo só precisa do verbo ir à rua quando a cidadania perde o controle sobre a cidade para o cidadão que se esquece do povo, mesmo sendo seu representante, e a rua se enche de silêncio, sombra, injustiça e morador abandonado pela casa.
O povo, acusado de ser limitado pelo senso comum por quem não tem legitimidade para ser com senso, sabe como ninguém dizer tudo sem falar nada, liderar todos sem ter uma liderança definida, mudar o mundo antes que o mundo perceba que mudou.
O povo, acusado de ser limitado pelo senso comum por quem não tem legitimidade para ser incomum, questiona a causa, não só as consequências, quer mudar o molde, não só o modelo.
O povo quer mudar o país por dentro, a partir do estado, e continuar fazendo as reformas de base. As mesmas que levaram Vargas ao suicídio, Jango ao exílio e ao veneno da morte, e o Brasil a décadas de ditadura e contrarreformas, que primeiro militarizaram e depois foram privatizando o interesse público, afastando cada vez mais o cidadão brasileiro da cidadania.
O povo mudou o país com Lula reeleito e Dilma, desprivatizou algumas políticas e alguns espaços públicos, reaproximou novamente o cidadão brasileiro da própria cidadania e tirou da gaveta a bandeira das reformas transformadoras, que estão na agenda política outra vez.
O povo nas ruas do Brasil declara solenemente que exige, não mais espera, um estado de fato e de direito democrático e republicano.
O povo quer um estado livre da influência das capitanias hereditárias da mídia e do mercado, e de suas produções de sentido privadas de interesse público.
O povo quer um estado livre do controle absoluto dos partidos empresa e seu comércio de interesses e desinteresses, discursos mudos e silêncios constrangedores, ações pragmáticas e omissões comprometedoras.
O povo quer se enxergar em todos os setores, níveis e esferas públicos e privados, em todas as personalidades, em todas as políticas públicas, em todas as iniciativas privadas, em todas as teorias, em todas as práticas, em todas as utopias. Até nas mais duras realidades o povo quer se enxergar.
O povo não quer mais ser plateia figurante em programas de auditório, aplaudindo espetáculos sem fundamento e rindo de piadas sem graça, que vendem entretenimento, notícia, ficção e suposta realidade no mesmo pacote, como se fosse tudo farinha do mesmo saco.
O povo quer cada um no seu quadrado, cada louco com sua mania, cada macaco no seu galho, cada lobo em pele de lobo, cada cordeiro na sua própria pele e ele, o povo, no poder ou na rua escrevendo sua própria história.
O povo na rua é o povo no poder construindo a aurora, fazendo amanhecer.
O momento é histórico porque prescinde, diferentemente de outros movimentos,de qualquer iniciativa midiática. A questão decisiva é uma: Elaborar urgentemente, uma PAUTA reivindicatória definidora do que é básico e irrevogável, antes que a mídia imponha sua pauta reducionista alinhada com os interesses da minoria dominante. Abraço.
Fascistas, Fascistas! Não passarão!!!
Acabo de voltar da passeata na Av. Paulista, convocada pela direção nacional do PT. Éramos não mais de 200 militantes.
Quando cheguei à concentração, na Av. Angélica, vi que talvez não conseguíssemos caminhar nem 100 metros... O ódio dos que estavam na Paulista e que ocupam as ruas há dias era total. Mas esse ódio não era direcionado apenas ao PT. Era contra qualquer bandeira, qualquer movimento social organizado. A CUT estava presente. O Movimento Passe Livre. E a UNE também.
Durante a passeata, várias bandeiras foram atacadas, rasgadas e queimadas sob gritos de "Fora PT, vai tomar no cu!", "o povo acordou", "oportunistas" e, last but not least, "mensaleiros"!!!
Desde o início, foi necessário formar um cordão humano para "proteger" o final da passeata. Às vezes, formava-se um cordão também na lateral.
Os ataques acompanharam toda a passeata. Fomos vaiados na maior parte do tempo (por milhares, milhares de manifestantes). O silêncio só veio quando cantamos um trecho do hino nacional. Também gritávamos: "Sem violência", "Democracia", "Vem pra rua, vem contra a tarifa", "olha que loucura, contra partido, parece ditadura" e "R$ 3 não dá, contra a tarifa, é passe livre já".
Durante o trajeto, tentaram invadir a passeata, ameaçaram, provocaram, partindo para a agressão, xingando o tempo todo. Foi tenso. Deu um medo danado.
Um dos gritos que se expandia com muita facilidade, espalhando-se pela Paulista, era: "O povo unido não precisa de partido". Enquanto gritavam, as pessoas, que ocupavam as laterais da avenida, colocavam os braços para cima, em gesto típico do nazismo/fascismo.
Seguimos até o Masp. Não sei nem dizer como conseguimos. Nessa hora, os gritos de "abaixa a bandeira" tornaram-se cada vez mais fortes. E os ataques também. Chutes e ameaças, de um grupo de "carecas" e fortões, que seguiu a passeata durante todo o trajeto, tornavam a cena totalmente assustadora.
Na altura da estação Trianon-Masp fomos cercados. A passeata tornou-se, praticamente, um cordão humano, de um lado e de outro. Começaram a jogar rojões em cima da gente e bolas de papel com fogo.
Nessa hora, correram avisos para que a gente guardasse as bandeiras. Eu, por exemplo, estava empunhando uma bandeira da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (acho que era isso) e desfilei o tempo todo enrolada numa bandeira do PT. Alguém pegou a bandeira da UEE e outro me avisou para tirar a bandeira do PT e guardar na mochila (para evitar linchamento e coisas do tipo, caso a passeata se dispersasse).
Para vocês terem uma ideia, eu estava compondo o segundo cordão no fim da passeata. Não foi nada fácil.
Nesse momento surgiu o grito: "Fascistas, Fascistas, Não Passarão!!".
O grito foi entoado em uníssono, com muita força. Embora o momento não fosse propício, cheguei a rir quando uma moça, que estava atrás de mim, soltou: "gente, não adianta gritar isso, eles não sabem o que é, vão achar que é só provocação e, ao que parece, somos minoria!!".
E éramos. Depois de alguns minutos, abaixamos as bandeiras, a passeata foi invadida. Dispersamos.
Voltei para casa, com a bandeira na mochila, pensando. Pensando muito. Lembrei do Allende.
(escrito em 20/06, num apto. na Peixoto Gomide, por volta das 21h)
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2013/06/20/xad-na-paulista-se-lembrou-do-allende/
De forma ingênua ou oportunista, alguns estão romantizando as manifestações, que notoriamente foram tomadas da direita em meio a falta de pauta consistência. Está ficando muito parecido com as marchas da TFP em 64...
Marcio Dreux
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