Os
coniventes
O
ex-deputado estadual e ex-marido da Dilma, Carlos Araújo, não é um
ex-ativista político, pois recentemente voltou à militância
partidária no PDT apesar de limitado pela saúde. Quando militava na
resistência à ditadura, foi preso, junto com a Dilma, e os dois
foram torturados. Depondo diante da Comissão Nacional da Verdade,
esta semana, sobre sua experiência, Araújo lembrou a participação
de empresários na repressão, muitas vezes assistindo à ou
incentivando a tortura. Que eu saiba, foi a primeira vez que um
depoente tocou no assunto nebuloso da cumplicidade do empresariado,
através da famigerada Operação Bandeirantes, em São Paulo, ou da
iniciativa individual, no terrorismo de Estado.
O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e a revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas. A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema. Nunca se fez a CPI, não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da América do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá, o terrorismo de Estado foi mais terrível do que aqui, e sua expiação – com a condenação dos generais da repressão – está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles.
O assunto é nebuloso porque desapareceu no mesmo silêncio conveniente que se seguiu à queda do Collor e a revelação do esquema montado pelo P. C. Farias para canalizar todos os negócios com o governo através da sua firma, à qual alguns dos maiores empresários do país recorreram sem fazer muitas perguntas. A analogia só é falha porque não há comparação entre o empresário que goza vendo tortura ou julga estar salvando a pátria com sua cumplicidade na repressão selvagem e o empresário que quer apenas fazer bons negócios e se submete ao esquema de corrupção vigente. Mas a impunidade é comparável: o Collor foi derrubado, o P. C. Farias foi assassinado, mas nunca se ficou sabendo o nome dos empresários que participaram do esquema. Nunca se fez a CPI, não dos corruptos, mas dos corruptores, como cansou, literalmente, de pedir o senador Pedro Simon. No caso da repressão, talvez se chegue à punição ou, no mínimo, à identificação, de militares torturadores, mas o papel da Oban e da Fiesp e de outros civis coniventes permanecerá esquecido nas brumas do passado, a não ser que a tal Comissão da Verdade siga a sugestão do Araújo e jogue um pouco de luz nessa direção também.
A comparação nossa com a Argentina é quase uma fatalidade geográfica, somos os dois maiores países da América do Sul com pretensões e vaidades parecidas. Lá, o terrorismo de Estado foi mais terrível do que aqui, e sua expiação – com a condenação dos generais da repressão – está sendo mais rápida. Mas a rede de cumplicidade com a ditadura foi maior, incluindo a da Igreja, e dificilmente será julgada. Olha aí, pelo menos nessa podemos ganhar deles.
Artigo
de Luis Fernando Veríssimo, publicado em diversos jornais do Brasil,
hoje.
........................................................
A
meu ver, a Comissão Nacional da Verdade está por demais tímida. O
ex-deputado Carlos Araújo em depoimento à Comissão, segunda-feira
passada em Porto Alegre, deu informações precisas e nominadas sobre
a participação de empresários nas sessões de tortura a que foi
submetido nas dependências da Operação Bandeirantes em São Paulo.
O
coordenador da CNV, Paulo Sérgio Pinheiro, um notório tucano,
desconversou. Disse que “a Comissão está investigando os
financiadores civis do Doi-Codi e da Oban”. Mais não disse, porque
não interessa chafurdar nesse tema que pode pegar muita “gente
boa”, cidadãos “probos” e de “retidão de caráter”.
“Homens de bem”, como se autodenominam os bandalhos da direita em
situação de risco e suspeita de seus atos e feitos públicos.
A
propósito do tema, quero recomendar vivamente a leitura de uma
reportagem que passou desapercebida (por motivos óbvios). Trata-se
de uma longa entrevista concedida pelo ex-repressor, delegado José
Paulo Bonchristiano, do Departamento de Ordem Política e Social de
São Paulo, entre 1964 e 1983, à repórter Marina Amaral (Agência
Pública) em fevereiro de 2012.
O delegado, hoje com 81 anos, “entrega” alguns figurões como Roberto Marinho (“este passava pessoalmente no Dops, toda a vez que vinha a São Paulo, pra ver se a gente não estava precisando de alguma coisa”), o “publisher” (como se autointitulava) Octávio Frias (Grupo Folha), que era instado por Marinho para auxiliar os delegados da repressão da Operação Bandeirantes, bem como o dono e fundador do Bradesco, Amador Aguiar, que segundo Bonchristiano, mandou tudo para mobiliar o Dops, “até máquina de escrever”. O velho delegado ainda conta detalhes da participação e dos cursinhos de capacitação ministrados pela CIA aos oficiais da repressão brasileira.
O delegado, hoje com 81 anos, “entrega” alguns figurões como Roberto Marinho (“este passava pessoalmente no Dops, toda a vez que vinha a São Paulo, pra ver se a gente não estava precisando de alguma coisa”), o “publisher” (como se autointitulava) Octávio Frias (Grupo Folha), que era instado por Marinho para auxiliar os delegados da repressão da Operação Bandeirantes, bem como o dono e fundador do Bradesco, Amador Aguiar, que segundo Bonchristiano, mandou tudo para mobiliar o Dops, “até máquina de escrever”. O velho delegado ainda conta detalhes da participação e dos cursinhos de capacitação ministrados pela CIA aos oficiais da repressão brasileira.
Leia
matéria aqui. Está imperdível.
Fotografia: o delegado Bonchristiano e o jovem cantor Roberto Carlos. Delegados do DOPS faziam a "segurança" do programa de RC na antiga TV Record, década de '60. O "rei", hoje, poderia esclarecer essa sua preocupação primeva pela questão da "segurança".
9 comentários:
Contribuindo com o debate:
http://polentanews.blogspot.com.br/2013/03/ex-deputado-afirma-que-foi-torturado-na.html
http://tede.pucrs.br/tde_arquivos/15/TDE-2012-04-16T165303Z-3750/Publico/437836.pdf
http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19959
e, falando em sem-vergonhas, leio que certo deputadozinho medíocre, dublê de salafrário e pilantra, fez piadinhas relacionando estádios e montadoras no afã de justificar suas cagadas referentes a inauguração e contrato do humaitazão. a verdade é que esse cafajeste inaugurou um estádio semi-pronto apenas pra afagar seu enorme ego, enorme como a bunda branca, gorda e suja dele, e fez um contrato porco, tão porco como ele o é.
baita acanalhado! mas tb., esperar o que de um reles lacaiozinho do gafanhoto privata? e tem gente que ainda vota num ordinário desses. é brabo!
Simplesmente canalhas, inclusive esse "rei" ridículo.
armando do prado
Este conluio da sempre(*) ilibada iniciativa privada com os militares golpistas me faz lembrar uma canção de quase 30 anos atrás: "Como é bom te amar", do grupo Os Melhores.
Na canção, há dois versos que espelham bem essa situação:
"Se o passado me condena,
O seu não fica atrás."
No comentário anterior, frisei, de propósito, a palavra sempre com um asterisco e explico porque.
O que vemos nos nossos órgãos da mídia hegemônica, quase que invariavelmente, quando surgem denúncias de corrupção, é o enfoque ser dado a apenas a um lado da sujeira toda.
A corrupção é sempre resultado da conduta criminosa de um funcionário público, um parlamentar ou de algum executivo público. É só isso que aparece.
Um caso sui generis. A corrupção, que, para se processar necessita de, no mínimo, dois personagens, o corrupto e o corruptor, nos é apresentada pela mídia como resultante da má conduta apenas do primeiro.
Continua.
Dando sequência à reflexão que iniciei no comentário anterior, arrisco afirmar que a nossa mídia, que se gaba, constantemente, de ser livre, não ter “rabo preso” com ninguém, não quer melindrar seus patrocinadores, o empresariado privado.
Sim, porque a corrupção de vulto só acontece a partir da participação do empresariado privado, médio e grande, notadamente, nas “maracutaias”. O trabalhador tem quase nada de dinheiro e o pequeno empresário tem muito pouco para poderem ser acusados de motores da corrupção.
De quebra, caso a mídia agisse com a imparcialidade devida, estaria a “deitar por terra” o mito que se formou graças a muita, muitíssima, propaganda de que é no meio público - serviço público, empresa pública/estatal – que se gesta a corrupção e ali ela fica restrita. Este mito, que tem feito a cabeça de muitos, serve “como uma luva” para botar “água no moinho” dos que querem a tudo privatizar, que tentam nos convencer de que a privatização é como a pomada milagrosa, a cura para todos os males.
Mas e aqui nestas terras guascas, que tem dois grandes clubes privados funcionando com patrimônio público e ninguém acha ruim?
Para quem você torce? Para o time da OAS ou para o da Andrade Gutierrez
Por falar em repressão,que coisa mais linda a surra que a brigada e aqueles motoqueiros deram naqueles baderneiros defronte à PUCRS ontem.
Conheço a maioria daquela maconheirada frequentadora dos Prédios 5, 7 e arredores.
Estão a dez anos na PUC sustentados pelas conhecidas seitas travestidas de partidos políticos que só vêem coisas erradas quando são oposição. Não se vê nunca eles na rua protestando contra os Josés Dirceus, Cachoeiras, Malufs e outros tantos malfeitores. O Lula faz uma atrás da outra e continua ídolo.
É dose.
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