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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Brasil: mentalidade consumista conspira contra prática "verde"


Cada vez mais "ecologicamente correto" na teoria, o Brasil ainda é um país pouco "verde" na prática. Em um ano, o percentual de moradores de grandes cidades que já ouviu falar de aquecimento global subiu de 68% para 92%, um salto puxado principalmente pelas pessoas de baixa renda. Mas a preocupação com o ambiente não se traduz em ações para mais de 70% da população. Preço é um entrave para a compra de produtos mais "ecológicos" e os brasileiros veem com ceticismo a publicidade das empresas sobre o assunto. A informação é do jornal Valor Econômico, edição de hoje.

As conclusões fazem parte de um estudo sobre "consumo verde" realizado pela empresa de pesquisas Kantar Worldpanel em 9 mil residências de 16 grandes cidades da América Latina em setembro. No Brasil, o levantamento foi feito em São Paulo e no Rio.

Na comparação com os consumidores dos países vizinhos, paulistas e cariocas mostraram o menor grau de "consciência verde", segundo um questionário de 17 perguntas envolvendo atitudes como uso do carro, consumo de energia e de alimentos frescos.

Parece contraditório, diante do crescimento expressivo de pessoas com informações sobre o tema? E é. "Ao mesmo tempo em que percebe a importância de um consumo mais sustentável, o brasileiro está tendo acesso a mais bens, muitos compraram o primeiro carro, passaram a ter mais eletrônicos em casa – o que gera consumo maior de energia elétrica e aumenta a produção de lixo", diz Carlos Cotos, presidente da Kantar no Brasil.

É um paradoxo relacionado ao crescimento acelerado da economia. "Em termos absolutos, ser 'green' é consumir de maneira mais simples. Há uma tensão óbvia com o crescimento econômico", afirma o executivo. Não é a toa que países onde o poder aquisitivo da população é menor, como a Bolívia, tenham apresentado índices mais altos de atitudes sustentáveis. Além disso, para muitos brasileiros a solução de problemas sociais (pobreza, fome e educação) deve ser prioridade em relação às causas ambientais. O índice de consumidores identificados com esse perfil ("sociedade verde", na definição da pesquisa) é de 27% no Brasil, o maior na América Latina.

Mesmo assim, o avanço da preocupação com o ambiente é patente e o futuro aponta para mais atitudes concretas nessa direção. Em São Paulo e no Rio, 73% dos consumidores responderam "sim" quando perguntados se aceitariam pagar mais por produtos que cuidam do ambiente. Desses, 31% dizem já fazer isso. Outros 33% afirmam que seu orçamento não permite essa escolha e 9% argumentam que não encontram esse tipo de mercadoria no varejo que frequentam.

Diante disso, um dos caminhos que o estudo sugere às empresas é desenvolver versões "ecológicas" também em suas segundas marcas e não apenas nas "premium".

Além do preço na gôndola, outro ponto requer atenção dos fabricantes de bens de consumo: a eficiência de suas campanhas publicitárias. Boa parte dos consumidores não acredita na imagem sustentável propagandeada pelas empresas, tanto na América Latina (39%), quanto no Brasil (36%). Entre os latino-americanos de forma geral, 35% acham difícil acreditar por não verem o resultado final das ações divulgadas. Apenas 26% confiam nas mensagens transmitidas. "Com a internet e o aumento das fontes de informação, o consumidor está mais crítico", observa Cotos.

"Tem de haver consistência entre o que a empresa fala e a maneira como age." Isso significa adotar procedimentos sustentáveis em todas as etapas – desde a produção, passando pela relação com fornecedores, até a embalagem e a distribuição. A cobrança da opinião pública só tende a aumentar. "As empresas vão ser forçadas a ser sustentáveis, senão o consumidor não vai aceitar."

4 comentários:

Tupamaro disse...

E o que dizer das empresas (muitas multinacionais) que se vangloriam de procedimentos sustentáveis e se utilizam de mão-de-obra infantil. Tem muitas "British Petroleum"(BP) por aí que propagandeiam uma coisa e fazem outra bem diferente.

Lucas Jerzy Portela disse...

'Preço é um entrave para a compra de produtos mais "ecológicos"'

meia-verdade: uma excelente bicicleta urbana, importada custa menos do que o seguro anual de um carro peba.

Pobre compra carro peba. Mas não compra boa bike urbana (mais eficiente do que um automóvel, e mesmo do que um metrô, em 2/3 dos deslocamentos urbanos comuns)

Anônimo disse...

grande cristovão. na minha modesta opinião, tem que haver mais debate sobre o assunto. o que falta e informação e consequente conhecimento em relação a agroecologia. quanto a questão preço tem vários fatores, mas o mais significativo seja a criação de mais mercados, principalmente o mercado direto ao consumidor como a nossa feira ecológica da praça jose bonifacio em porto alegre.
januario

Anônimo disse...

grande cristovão. na minha modesta opinião, tem que haver mais debate sobre o assunto. o que falta e informação e consequente conhecimento em relação a agroecologia. quanto a questão preço tem vários fatores, mas o mais significativo seja a criação de mais mercados, principalmente o mercado direto ao consumidor como a nossa feira ecológica da praça jose bonifacio em porto alegre.
januario

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