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sexta-feira, 28 de maio de 2010

Memória da ditadura: a diferença entre Brasil e Argentina


Lá, se faz justiça. Aqui, se permite que o Exército deboche da democracia

O Ministério de Educação da província argentina La Pampa estuda tomar medidas severas contra a professora Susana Orn, do município de General Campos, que cometeu o seguinte erro cívico: no ato do Bicentenário da Independência, a 25 de maio, a professora do ensino fundamental incluiu por conta própria o ex-ditador general Leopoldo Galtieri e o ex-presidente Julio Roca, ambos como personagens destacados da pátria, e o segundo ainda como alguém que exterminou os índios de La Pampa, que para ela teve um sentido edificante. A diretora da escola - segundo matéria de capa do diário portenho Página 12, edição de hoje - Ana María Fransante, assegurou que o ministro de Educação, Néstor Torres, "quase desmaiou quando escutou a professora".

Vejam como são as coisas. Enquanto isso no Brasil, o portal web do glorioso Exército brasileiro faz encômios e loas ao golpe de abril de 1964, reinterpretando-o como "Revolução Democrática de 1964" (ver post de ontem, abaixo). E não acontece nada. E o ministro da Defesa, responsável pelas armas militares, Nelson Jobim, faz olho branco. No Congresso não se ouve uma referência sequer à provocação e à desfaçatez dos militares.

Na Argentina, uma professorinha protofascista manifesta sua admiração por dois genocidas, Galtieri (ditador entre 1981/82) e Roca (exterminador de 20 mil índios mapuches, no século 19), e é motivo de justa indignação na imprensa e entre as autoridades federais. No Brasil, o Exército debocha de forma provocativa do próprio governo democrático - a qual deve respeito e disciplina constitucional - e tudo permanece como se nada tivesse acontecido.

Observem como é importante uma ação de governo no sentido de abrir o debate sobre o passado ditatorial. Na Argentina, mesmo os governos liberais, como o de Alfonsin e De La Rua, passando pelo casal Kirchner, houve uma preocupação com o exame acurado dos graves fatos acontecidos durante a repressão militar. Essa decisão - correta e elogiável - ilumina o debate nacional. Hoje, na Argentina, dois ex-ditadores estão presos e são oficialmente considerados torturadores/genocidas, pelo Poder Judiciário, Reynaldo Bignone e Rafael Videla. O oligarca José Alfredo Martinez de Hoz , uma espécie de mescla de Otávio Gouveia de Bulhões/Delfim Netto/Golbery do Couto e Silva, está preso. Ele tem, hoje, 85 anos de idade, e é acusado de genocídio, corrupção passiva e ativa e de atos de traição à pátria por ter alienado bens públicos de forma irregular e temerária.

No Brasil, temos que ouvir o som político das flautas zombeteiras dos quartéis.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mas aqui, a CF feita pela maioria de centro-direita e conservadora (é pleonamo, mas necessário) estabeleceu no seu artigo 142 que são as forças armadas que "guardam" a democracia e os 3 poderes, ou seja se resolverem dar um golpe, dirão que estão defendendo os valores democráticos, etc. E o governo do campo democrático que elegemos não fez nada para alterar o malfadado artigo 142.


armando do prado

Anônimo disse...

Lá houve ditadura, aqui houve contra-golpe

Anônimo disse...

Olá Feil. Pois é ontem acredite ou não ontem estava assistindo o documentário Jango do Silvio Tendler, acho que todos deveriam assistir. Me pergunto, como ainda as Forças Armadas conseguem não ver o que aquela armação e golpe tirou do Povo Brasileiro, tirou tudo o que havia de mais promissor para nós, os Brasileiros. È desanimadora a sensação as vezes em ver que a Caserna ainda continua cultuando uma turma que desbancou a Democracia deste País, que planejou tudo com muitos anos de antecedência tudo, que através de truques e armadilhas e muita conivência de certos setores da sociedade nos levou à pelo menos 20 anos de uma vida (desculpe o termo) amerdalhada e pequena. Mas hoje desejo sinceramente que se livrem dos dinossauros e que os coloquem em museus, museus estes que mostrem a maneira errada de como desenvolver uma nação. Abraços

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