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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Le Monde considerou "histórico" o acordo Brasil-Turquia-Irã


"Guardem essa data" - frisou o jornal francês

"Os livros de história vão guardar essa data, segunda-feira, 17 de maio, quando o Brasil e a Turquia propuseram à ONU um acordo negociado com Teerã sobre uma parte do problema nuclear iraniano".

A avaliação é do jornal Le Monde, na edição da última quarta-feira (19/5), fac-símile acima.

As palavras do editorial de um dos mais respeitados jornais europeus defende o direito de os países emergentes serem ativos em uma área que, até agora, era monopolizada pelas decisões das grandes potências tradicionais: a proliferação nuclear no Oriente Médio e os conflitos nesta região-chave para a Europa e os Estados Unidos.

Assim, esse acordo tripartite muda tudo, analisa o artigo, considerando que as potências emergentes invadem, de forma concreta, o campo reservado aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia.

A mensagem do presidente Lula e do premiê turco Recep Erdogan é clara e sem equívocos: "Neste ano de 2010, vocês não vão reger sozinhos uma ordem internacional em que o peso das nações evolui a favor de países como os nossos". O Brasil e Turquia puseram "os pingos nos is", reivindicando fazer parte do grupo dos 5 + 1 , o Conselho que tem o mandato da ONU para tratar do caso nuclear iraniano.


Para o jornal francês, as ambições políticas dos países do Sul são legítimas e devem ser acolhidas de forma positiva. Mas, neste caso específico, o ceticismo do quinteto é justificado, mesmo se reconhecem que o acordo foi "um primeiro passo rumo a uma boa direção".

Le Monde explica por que acha que os cinco têm razão: o documento turco-brasileiro propõe que somente uma parte do urânio enriquecido seja guardado no exterior em troca de combustível nuclear enriquecido de forma a servir somente para uso civil.

Isso, porém, não impede que o Irã continue fabricando, a longo prazo, matéria susceptível de servir à fabricação da bomba atômica. E isso legitima a decisão de aplicar novas sanções no dia seguinte ao anúncio do acordo.

A França, mesmo preocupada em não contrariar o Brasil, é favorável à proposta de novas sanções, o quanto antes. Já os Estados Unidos, querem essas sanções custe o que custar, diz o Le Monde.

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Entrementes no Brasil, o PIG joga pedra e debocha de um acordo histórico (o acordo em si pode ir para as cucuias), mas a iniciativa diplomática desses três países está marcada com tinta indelével nos anais da geopolítica internacional.

4 comentários:

alex disse...

OBAMA DISSE EM CARTA A LULA QUE ACORDO DO IRÃ CRIARIA CONFIANÇA
sexta-feira, 21 de maio - 15:49 BRT

Por Natuza Nery- Agência Reuters

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou em uma carta ao seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva que o acerto de troca de combustível nuclear com o Irã criaria "confiança" no mundo, segundo trechos do documento obtidos pela Reuters nesta sexta-feira e enviado há 15 dias, antes do acordo de Teerã.

O Brasil, que mediou com a Turquia o acordo com o Irã, alega que a carta de Obama inspirou a maioria dos pontos da Declaração de Teerã, por meio da qual a "República Islâmica do Irã concorda em depositar 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido" na Turquia. Em troca, o país receberia 120 quilos de combustível para um reator de pesquisas médicas localizado na capital iraniana.

A Reuters teve acesso a trechos da correspondência--enviada a Lula há cerca de duas semanas--e comparou alguns de seus pontos com o acordo assinado na última segunda-feira.

Nela, Obama retoma os termos do acordo que o Grupo de Viena havia proposto no ano passado, cujos principais elementos constam no acerto entre Brasil, Turquia e Irã.

"Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano" de LEU (urânio levemente enriquecido na sigla em inglês), diz Obama, segundo trechos obtidos da carta.

Após o anúncio do acordo, no entanto, os Estados Unidos anunciaram que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Grã-Bretanha, França, China, Rússia) concordaram com um esboço de resolução contendo novas sanções à República Islâmica.

"Nós observamos o Irã dar sinais de flexibilidade ao senhor e outros, mas, formalmente, reiterar uma posição inaceitável pelos canais oficiais da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)", acrescentou o presidente dos EUA.

"O Irã continua a rejeitar a proposta da AIEA e insiste em reter seu urânio de baixo enriquecimento em seu próprio território até a entrega do combustível nuclear", afirmou Obama na carta.

Segundo a Declaração de Teerã, "a República Islâmica do Irã expressa estar pronta a depositar seu LEU dentro de um mês".

Obama manifestava, ainda na carta, preocupação com a possibilidade de o Irã acumular, no prazo de um ano, estoque necessário para construir "duas ou três armas nucleares".

"Para iniciar um processo diplomático construtivo, o Irã precisa transmitir à AIEA um compromisso construtivo de engajamento, através dos canais oficiais, algo que não foi feito até o momento. No meio tempo, insistiremos na aprovação de sanções."

A Declaração de Teerã deixa claro, ainda, que o acordo para a "troca de combustível nuclear é um ponto de partida para o começo da cooperação e um passo positivo e construtivo entre as nações".

Após o anúncio do acordo mediado por Brasil e Turquia na segunda-feira, autoridades iranianas afirmaram que o país manterá suas atividades de enriquecimento de urânio, ao que Estados Unidos e outras potências ocidentais se opõem.

Segundo a Declaração de Teerã, O Irã se compromete a notificar à AIEA, por escrito, por meio dos canais oficiais, sua concordância com os termos do acordo em até sete dias a contar da data do documento. Esse prazo se expira na próxima segunda-feira.

fonte: http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE64K0G220100521

Unknown disse...

Estava mais do que na hora do Brasil e os paises que foram "colonizados" comecarem a tomar o seu lugar, gostando ou nao os supostamente mais poderosos. Parabens a diplomacia brasileira: sem ambicao nao se consegue nada nesta vida.

Porem, como menciona o texto do Feil, com o acordo nao fica impossivel ao Ira fabricar a bomba, mesmo com o acordo aprovado.

Sou cientista e ate agora nao entendo por que o Ira quer porque quer obter uranio enriquecido. Se for para "pesquisas", bem, nao se tratariam de pesquisas que valem tanto a pena. Nao sao fundamentais e nao vao ajudar a desenvolver o Ira e tirar seu povo da miseria. Para que pagar um preco tao alto a troco de ganhos tao pequenos? As propriedades do uranio enriquecido e etc. todo mundo conhece, se trataria de pesquisa obsoleta, irrelevante.

Fica entao a pergunta que nao quer calar: para que o Ira quer Uranio enriquecido? Obviamente que nao e' para desenvolver cientificamente o pais, nesta nao da' para crer...

elektrofossile disse...

Reparem bem! Não é o Diplô do FSM! É, somente, Le Monde. Lá de Paris. Do Sarkozy fachistóide.

Unknown disse...

Os EUA sabotam a paz

O acordo com o Irã é uma vitória histórica da diplomacia brasileira, quaisquer que sejam seus desdobramentos. A mídia oposicionista sempre repetirá os jargões colonizados de sua antiga revolta contra o destaque internacional de Lula.
O governo de Barack Obama atua nos bastidores para destruir essa conquista. É uma questão de prestígio pessoal para Obama e Hillary Clinton, que foram desafiados pela teimosia de Lula. Mas trata-se também de uma necessidade estratégica: num planeta multipolarizado e estável, com vários focos de influência, Washington perde poder. E a arrogante independência do brasileiro não pode se transformar num exemplo para que outros líderes regionais dispensem a tutela da Casa Branca.
Em outras palavras, a paz não interessa aos EUA. E, convenhamos, ninguém leva a sério os discursos pacifistas do maior agressor militar do planeta. Será fácil para os EUA bloquear a iniciativa brasileira, utilizando a submissão das potências aliadas na ONU ou atiçando os muitos radicais de variadas bandeiras, ávidos por um punhado de dólares. Mas alguma coisa rachou na hegemonia estadunidense, que já não era lá essas coisas.

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