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sexta-feira, 5 de março de 2010

Editorial da Folha perde o ânimo com Serra


E classifica o governo Lula de "cesarismo"

O jornal paulistano Folha de S. Paulo é sabidamente um diário serrista, ou melhor, era serrista. Hoje, em editorial, o jornal da família Frias "derruba os braços", como se diz, com o tucano José Serra. Derruba os braços, desanima, desacorçoa, murcha, perde o ânimo. A Folha está dizendo à Serra: - Te larguei, magrão! E o faz em tom lamentoso e quase cético em relação a uma possível modificação deste quadro de apatia tucana, pelo menos até outubro próximo.

Do governador paulista, a Folha constata o seguinte: "Se grandes reservas de astúcia e de cautela são necessárias a um bom político, é também verdade que não há liderança concebível numa atitude de permanente aversão ao risco e à clareza de compromissos".

E acaba sobrando também para o presidente Lula: "Serra ou não Serra, Aécio ou não Aécio, os nomes perdem em importância; o que ressalta, acima de tudo, é o modo com que a vida política no Brasil parece distante dos padrões de uma democracia moderna. De um lado, surge uma candidata inventada pelo cesarismo presidencial [grifo DG]; de outro, ambições pessoais se desfazem em picuinhas e sussurros, sem nada de significativo a apresentar para a população".

As uvas estão verdes. Como o cenário eleitoral de 2010 se tolda cada vez mais para a direita - do qual a Folha é vanguarda - o parecer sobre o universo é pessimista: "a vida política no Brasil parece distante dos padrões de uma democracia moderna". O que é mesmo paradigma de "democracia moderna"? A gestão tucana de São Paulo? De Minas Gerais? Do Rio Grande do Sul? Ou seria "moderna" a gestão do meio-tucano-meio-Dem José Roberto Arruda no Distrito Federal?

Igual absurdo é chamar o governo Lula de "cesarismo". Cesarismo é sinônimo de despotismo, autocratismo e autoritarismo. Nem o mais empedernido reacionário da direita brasileira ou o mais isolado dos esquerdistas chamaria o presidente Lula de autocrático. Ele tem muitas falhas, a ideia fixa na conciliação como método político, joga com pau de dois bicos no subproletariado e no capital financeiro e seus aliados de classe, mas ninguém que não seja portador de má consciência pode classificar Lula de praticante de cesarismo.

A rigor, o que a Folha está querendo dizer, mas não tem coragem de pronunciar (e admitir de público) com todas as letras é o seguinte:

- Perderemos mais uma vez, tigrada!

4 comentários:

Anônimo disse...

Este é o verdadeiro movimento "Cansei".


O Serra cansou a sua turma.

A alegria e a confiança que o Lula exala é o oposto do governador paulista: depressão e melancolia.

A SABESP deveria diluir uns Prozac na água que vai ao Palácio dos Bandeirantes.

Nelson Antônio Fazenda disse...

Para a Folha de São Paulo e demais órgãos da mídia hegemônica e seus (de)formadores de opinião, democracia moderna padrão é aquela em que os governantes se transformam em meros gerentes dos negócios do grande empresariado.
Nessa democracia, presidentes, governadores, prefeitos, secundados pelos parlamentares, devem se ocupar apenas em viabilizar a pujança dos negócios privados e a maximização de seus lucros (com recursos publicos, é óbvio). Detentores de cargos políticos devem dar atenção apenas às "pessoas que importam"; à patuléia eles devem distribuir, vem em quando, algumas migalhas para que fique quietinha em seu canto.

Anônimo disse...

Caro Cristóvão Feil
Eu tenho medo deste oba-oba, deste já ganhou. Isto parece aquela fábula da lebre e a tartaruga. De tão certo que venceria, a lebre aproveitou a dianteira e literalmente deitou nos louros da vitória, deixando a tartaruga ganhar a corrida.
Assim parece esta eleição. Temos uma oposição atrapalhada e incapaz de oferecer um contra-ponto, apresentando um projeto (ou algo digno deste nome) que possa ser debatido e mostrado ao país, fazendo o papel da tartaruga de um lado. E do outro o lulismo e sua candidata representando a lebre.
Devemos lembrar que não existe jogo jogado. O que me consola e me assusta as vezes, é que o lulismo conseguiu agradar aos dois extremos da pirâmide: a burguesia rentista e os extremamente pobres, sobrando a classe média que egoísta e invejosa, é cortejada por este arremedo de oposição.
Outra coisa que as vezes me anima, é o fato de que os interesses em jogo vão muito além de um resultado favorável em outubro. O que está em jogo é um projeto de poder que o lulismo e seus aliados de ocasião perseguem com afinco. Você consegue imaginar a quantidade de cargos, sinecuras e mamatas que mudariam de mãos se a oposição ganhasse? Para alguns felizardos pouca coisa mudaria, mas para muitos seria um longo e tenebroso inverno.
José Luís

Anônimo disse...

Creio que a Folha se referiu à discrição da campanha tucana, que mudará bastante após 30 de março, quando Serra irá se dedicar à campanha. Antecipar a campanha só beneficiaria a Dilma, candidadata sem biografia e experiência a altura do cargo que vislumbra.

Em relação aos comentários sobre Lula, não é justo chamá-lo de autocrático, seria melhor chamá-lo de algo a altura de sua compreensão. Por exemplo: cartola de time de futebol, aquele sujeito que não entende nada de bola, mas que acha que entende e insiste em comandar o time em direção ao campeonato... do ano passado.

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