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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O atrevido editorial de Zero Hora




Pede menos ideologia ao presidente Lula no caso Battisti

Maquinista de um bojudo e fuliginoso trem ideológico, o jornal Zero Hora, em seu editorial de hoje, se atreve a exigir do presidente Lula "mais sensatez, menos ideologia" no que se refere ao pedido de extradição do prisioneiro brasileiro Cesare Battisti.

Pelo que se depreende do editorial de ZH, aliás, grafado em texto confuso, mal escrito e onde há mais sofismas do que vírgulas, a expressão "sensatez" poderia ser traduzida como "estrito cumprimento das exigências do Estado democrático".

Todas as vezes que algum veículo da RBS invoca a palavra "democracia" soa tão falso quanto um coelho (sem ser o de Alice) pronunciar sílaba por sílaba a palavra pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (vocábulo de 46 letras, que seria segundo o dicionário Houaiss, a maior palavra da língua portuguesa). Enquanto a RBS não fizer a já tardia autocrítica por ter apoiado e - sobretudo - se beneficiado do golpe civil-militar de 1964-85, haverá uma permanente (e incômoda) interdição cívico-moral sobre a autenticidade de suas convicções democrático-republicanas. Ponto.

Dos sofismas: "...Lula recebe agora uma carta extra de pressão: nunca na história deste país um presidente brasileiro deixou de seguir uma orientação do Supremo Tribunal Federal" - consegue dizer o editorial.

O editorialista de ZH, por algum deficit cognitivo irrecuperável, ainda não entendeu o que se passou no âmbito do STF relativamente ao caso Battisti. Como não é possível - aqui - usar o recurso lúdico-pedagógico do desenho com canetinha infantil hidrocor, vamos resumir de forma bem esquemática, o que foi exarado pelo STF, dois dias atrás: quatro Excelências votaram pela não extradição do ex-ultra italiano; cinco Excelências votaram pela devolução de Battisti à Itália. Muito bem, só que aqueles quatro primeiros - os adeptos da não-extradição acrescido do ministro Ayres Britto, portanto, cinco agora, portanto, formando maioria, optaram por não decidir nada, passando o ananás-do-mato com recheio de pregos para o presidente Lula. Assim, o STF decidiu que nada estava decidido, a decisão é do presidente da República. Foi isto.

Eis o sofisma grosseiro de ZH, o pai cascudo de tantos outros sofismas-júniors espalhados pelas linhas e entrelinhas do editorial de hoje: o STF não deu "orientação" alguma ao chefe do Poder Executivo. Aliás, chama a atenção o comportamento dos ministros do STF, durante quase um ano examinaram o caso Battisti e decidiram que nada decidiriam, tingindo o judiciário brasileiro com o sinal amarelíssimo da pusilanimidade e omissão. Ademais, os votos textuais dos senhores ministros são um primor de primarismo na interpretação do Direito, sejam aqueles contra, sejam aqueles a favor da extradição.

De resto, o editorial da Azenha serve para a RBS provocar (de forma rebaixada, oportunista e eleitoreira) o ministro Tarso Genro, candidato petista à sucessão do yedismo de fracassos, no qual ZH tem saliente protagonismo e indisfarçada influência. Mas quem deve ser "sensato" e evitar a "ideologia" é o presidente Lula.

Vá entender.

Imagem: fac-símile parcial da página 3 de ZH, edição de hoje. O desqualificado garatujador de sinais, um certo MA, bem que poderia ilustrar o editorial de hoje, uma vez que estão nivelados em atrevimento e desprezo, tanto à ética quanto à estética. MA, aliás, é a imagem que a RBS faz de si própria - a realidade em traços borrados, ignorância e as piores intenções.

13 comentários:

Noiram disse...

Eu entendo que o voto de minerva de GM para extradição não deveria ser proferido. Como entregar aos leões Bastitti se havia dúvida quanto a sua situação de refugiado, tanto que deu empate. GM era para ter declarado o "in dubio pro reu" e negado a extradição.

Katarina Peixoto disse...

Gente, só um celenterado para acreditar que foi Lula quem pariu Sarney. Que coisa surreal, eu, hein.

Anônimo disse...

Claro, o assunto aqui é essa porcaria chamada zh, mas vou opinar sobre o STF.

Penso que o STF marcou jurisprudência ao votar pela extradição do Battistini, considerando que seus crimes não são políticos porque cometidos numa DEMOCRACIA - o que era e é hoje a Itália.

Anteriormente o STF deu uma decisão de legalidade à extradição do torturador Manoel Cordeiro,da Operação Condor, declarando que seus crimes não se caracterizavam como políticos.

São dois passos importantes para a revisão do artigo 1º da Lei de Anistia - que fala em crimes políticos e conexos - retirando dessa qualificação os crimes de tortura e desaparecimento de prisioneiros políticos durante a DITADURA militar brasileira.

Flics

GEOVANE disse...

Um dia vai acabar o pedestal dessa gente e eles não terão mais lugar em todas as direções! Aí a porta será estreita !!

Juarez Prieb disse...

Flics, esta é mais uma prova do papel nefasto e golpista do presidente Gilmar Mendes. Com a decisão do STF se mata dois coelhos com uma paulada só. Qualquer um que lutou contra a ditadura, agora por decisão do STF, cometeu crime comum e portanto passível de ser julgado como criminoso comum. Um retrocesso odioso.

Anônimo disse...

Prieb:

O STF, tempos atrás, negou a extradição, pedida pela Colômbia, de um membro das farc's.

A diferença que eu quis mostrar está na palavra DEMOCRACIA. Por isso é que eu acho que se abre uma jurisprudênciano artigo 1º da Lei de Anistia, permitindo no futuro julgar os torturadores da DITADURA militar brasileira. Porque quem lutou aqui no Brasil lutou contra uma DITADURA. O que não foi o caso dos grupos armados italianos.

Claro, para que essa revisão aconteça é preciso mais coragem e vontade dos agentes políticos, principalmente do poder executivo.

Na revista Caros Amigos, tem uma entrevista com boas informações sobre isso.

Bueno... sou engenheiro não advogado. Portanto apenas una pequena "opinião" e, claro, não é nenhuma defesa do Gilmar. Como diz o ditado "tem males que vem prá bem".

Flics

Anônimo disse...

LEONARDO? putz, além de mau chargista e mau caráter, é um baita de um ignorante!!!!
E essa coisa ainda se diz "artista"? bah, o miguelito véio, depois dessa, se arrevirou no túmbalo...

Anônimo disse...

E a parcela gaúcha que acredita nesse lixo gráfico não se dá conta que estamos marcando passo e regredindo no PIB brasileiro. Interessante, o RS começou ir para atrás depois que esse lixo passou a mandar nas coisas do Rio Grande e o pior, com o consentimento desse povo que se diz politizado.
Luis Carlos

Anônimo disse...

Você gastou seu vocabulário para criticar um veículo de comunicação que continua sólido pós PDT, PMDB, PT e continuara pós PSDB. Uma cortina de fumaça sobre o caso Battisti, criminoso italiano protegido do sr. Tarso Genro. Espero que Lula ouça a voz e o sentimento do povo que quer ver bandido na cadeia e não pelo sabor de uma ideologia.

Anônimo disse...

A justiça brasileira não tem moral para entregar Batistti. Enquanto os criminosos da ditadura não forem levados ao banco dos réus no Brasil, esses ministros deveriam se envergonhar da decisão tomada. Se eles não reconhecem esse direito aos brasileiros,(de julgar os criminosos que mataram e torturaram durante a ditadura) por que achar que Batistti precisa pagar por crimes que no Brasil foram anestiados? Lula deveria seguir esta mesma linha "tradicional" do Brasil. Aqui ninguém foi condenado por isso.
Mariah

Spock disse...

São torturadores não arrependidos, que anseiam pela volta da ditadura.
Querem continuar torturando e aprisionando alguém nem que seja o Batisti.
A lei Fleury, feita de encomenda para não prender um celerado torturador até hoje atormenta as pessoas comuns que querem ver seus assaltantes, os assassinos de seus familiares presos.
Hoje essa galera que reclama da justiça "lenta", mas se obriga a fingir que não vê ou não sabe que a lei Fleury que as atormenta tem precisamente sua origem na condescendência para a tortura.
Hoje esse pessoal libertador de bandidos torturadores quer que se cometa uma ilegalidade, que a tortura continue para Batisti.
E se Batisti for par a Itália, esse vermes covardes vão se trancar de novo em seus apartamentinhos gradeados, porque não podem andar pelas ruas, dado que a marginália está livre por causa da lei feita para livrar o torturador Fleury.
Num mundo paralelo, Fleury teria sido preso, tortura deixaria de ser modo válido de se fazer política, o império da lei estabelecido em 1968, a guerrilha teria se esvaziado diante da democracia fática, não teríamos uma lei de encomenda para OAB e policiais se tornarem sócios de marginaizinhos, a limpeza de nossas polícias que só corregedorias prestigiadas podem fazer teria começado em 1980, não em 2012, e esses reacionários não precisariam tantas grades e tanto medo para caminharem nas ruas.
É que falta coragem para os reacionários enfrentarem seus medos fundamentais, mas se fosse de outro modo eles não seriam conservadores.

Ricardito disse...

chapa apartidária de direita ganha eleições para o dce da ufrgs, chora esquerdalha

Anônimo disse...

"As decisões do STF, certas ou equivocadas, nunca prevaleceram.
Em 1894, o marechal Floriano negou habeas corpus a dois oficiais reformados, como tinha determinado o Supremo. Alegou que as decisões eram “contrárias a todas as leis e imemoriais estilos militares”.
O STF reagiu... deixou de conceder habeas corpus aos militares."

http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=5440

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