
Saí ontem para levar um relatório ao comissário do exército, na casa de um padre foragido. Na cozinha, fui recebido por pani Eliza, a governanta do jesuíta. Ela me serviu um chá cor de âmbar e biscoitos. Tinham cheiro de crucifixo. Havia neles o sumo traiçoeiro e a aromática fúria do Vaticano.
Na igreja ao lado da casa, troavam os sinos, tangidos por algum sineiro desvairado. Era uma noite coalhada de estrelas de julho. Sacudindo os cabelos grisalhos e bem cuidados, pani Eliza me oferecia biscoitos e eu me deliciava com o manjar dos jesuítas. [...]
Pani: senhora, em polonês.
Trecho breve de "O Exército de Cavalaria", de Isaac Bábel (1894-1941). Bábel foi um dedicado militante do socialismo de Estado, na versão stalinista, mas nem por isso deixou de ser perseguido, sequestrado, preso, torturado e morto na prisão de Lubianca, pela KGB, em 1941, vítima do chamado "Grande Expurgo" de Stálin, sob a acusação de ser trotskista. De origem judaica, foi jornalista, escritor e roteirista de filmes de propaganda soviética. Trabalhou com o legendário cineasta Sergei Eisenstein, sempre fazendo roteiro de filmes.
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