
Ex-deputada afegã, Malalai Joy, dá entrevista a jornal espanhol Público
"Não sei quantos dias de vida me restam" - disse num fio de voz Malalai Joy (foto), "mas até que me matem denunciarei aqueles que governam o Afeganistão com as mãos manchadas de sangue".
Admirada por uns, odiada por outros, esta corajosa defensora dos direitos humanos se converteu, com 31 anos, na pessoa mais jovem do Parlamento afegão. Mas, desobedecendo a vontade popular, a Assembleia expulsou-a dois anos depois por acusar alguns deputados de serem narcotraficantes, corruptos e misóginos [aversão às mulheres]. Hoje [terça-feira passada], recebe em Madri o Prêmio Juan María Bandrés pela Defesa do Direito de Asilo e a Solidariedade com os Refugiados.
Público: Será possível evitar os erros do primeiro turno, agora no segundo? Se ganhar, Karzai terá legitimidade?
Malalai Joy: Não. Estas eleições não serão consideradas legítimas pela maioria dos afegãos, nem com um turno, nem com dois, nem sequer com dez turnos, porque está se realizando sob a vigilância das armas, sob o império das drogas, da corrupção e do crime. Bem antes, tínhamos claro que o resultado das eleições não iriam mudar nada. Como dizemos no Afeganistão, quem for o escolhido será o mesmo burro com uma nova cadeira, porque o que importa não é quem vota, mas sim quem elege, quer dizer a Casa Branca.
Há diferença entre Karzai e Abdullah?
Quase nenhuma. Os dois representam o mesmo. Milhões de afegãos não votaram por estarem decepcionados, não só porque tinham medo das ameaças dos talebans. Outros, não se dispõem a votar enquanto não tem comida para levar a boca, quando estão dispostos a entregar seus filhos por dez dólares, porque não podem alimentá-los. Karzai não fez nada por eles. A comunidade internacional está perdendo dinheiro e derramando sangue no Afeganistão, respaldando um governo de criminosos corruptos e misóginos, e seguindo interesses dos Estados Unidos.
Que interesses têm os EUA?
Interesses econômicos e estratégicos relacionados com os recursos naturais e a repartição de áreas de influência com China e Rússia. A opinião pública espanhola tem que se opor a que seu dinheiro vá financiar uma ocupação interessada, que além disso mantém criminosos e narcotraficantes no poder em Kabul. A maioria dos afegãos queremos paz e democracia, mas não é possível impor isso a ponta de pistola.
Nunca pensaste em abandonar o Afeganistão?
Passei a minha infância e a minha adolescência em campos de refugiados no Irã e no Paquistão, mas voltei porque queria ajudar a construir um Afeganistão em paz, unir-me aos milhares de afegãos que já estavam lá, arriscando diariamente suas vidas pela paz. A esses é que deveriam dar o prêmio Nobel, não ao presidente Obama.
Íntegra da entrevista aqui (em espanhol).
3 comentários:
É que o Obama foi no crediário. Essa moça já seria o caso de precatório.
Quem acredita que os EUA são contra as drogas, acredita em Boitatá/Saci?José Serra.
É a democracia "made in USA" sendo levada aos afegãos.
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