As estrepolias e espertezas protagonizadas por Daniel Dantas e caterva simbolizam com nitidez e definição de formas como de fato se desenvolve e prospera o capitalismo no Brasil. Como os ideais do velho liberalismo estão mortos e enterrados na cova rasa da ignorância da burguesia, subsiste apenas o negócio, o business, e este geralmente colocado sob o signo da vigarice, como muito bem apontou uma vez Ernst Bloch.
No Brasil não tivemos uma revolução burguesa do tipo clássico, embora o País tivesse se inserido desde cedo no modo de produção capitalista, sempre de forma subordinada.
Assim, a burguesia sempre foi dependente, ora do Estado, ora das economias hegemônicas. Por ser subordinada e sócio menor, nunca foi revolucionária, no sentido de protagonizar com originalidade a renovação de velhos padrões pré-capitalistas. Permanentemente conviveu com o arcaico e o tradicional, em detrimento daquilo que era vanguarda na matriz do próprio sistema do qual era periferia.
Getúlio Vargas é o nome da revolução burguesa no Brasil. Sentindo a mediocridade burguesa, ele tratou de dotar o Estado de instituições que fizessem o papel e a fala da modernidade burguesa, na falta desta. Mas Getúlio era um só e não podia tudo.
Portanto, ficou faltando aquilo que nos países que fizeram a revolução burguesa têm de sobra (ou tinham, pelo menos até o advento do neoliberalismo dinheirizante):
1) uma sólida cultura de classe dominante, que hegemonize a cena pública e privada nas diversas esferas da vida social;
2) um ethos social próprio da classe mas capaz de informar e formar traços psicológicos e morais também nas classes dominadas;
3) uma ética burguesa tout court, que fale para si – como classe – mas sobretudo para a sociedade como um todo, sobre prescrições comportamentais, normas civilizatórias, valores iluministas e exortações republicanas.
A tragédia ética do Brasil é muito motivada, pois, por essa completa ausência de espírito revolucionário (no sentido burguês mesmo) das nossas medíocres elites econômicas. Neste País, todo o burguês é um usurpador. Chegou aonde se encontra – no topo da pirâmide – sem nunca ter feito qualquer esforço social, intelectual ou econômico para justificar a sua condição de classe dominante. Chegaram ali – todos – ou por força de vantagens adquiridas junto ao aparelho de Estado, ou por serem sócios menores de interesses geopolíticos das economias centrais.
Daniel Dantas é apenas e tão-somente o herdeiro mais fiel e bem sucedido de uma longa tradição da nossa burguesia brasuca.
21 comentários:
Perfeito, cara.
Feil, parabéns, em poucas linhas você definiu o Pindorama e sua burguesia ignorante, ladra e sem lideranças.
DD é o típico burguês do Brasil, sempre nas sombras (nos dois sentidos), mas mamando todas do Estado e com sócios estrangeiros muito bem posicionados. Essa quadrilha que foi presa recebia informação clandestina até do FED e da cozinha da política economico-financeira dos States.
É mole?
Como é que Naji Nahas conseguia informações privilegiadas do FED??Depois dizem que o FED pertence aos EUA...Que piada!O FED é da AIPAC!
Brilhante,Feil!!!
Grande Tóia, ótimo texto.
Feil,
Será que o Britto passa ileso por essa?
Ex governador que vendeu (ou doou) a CRT para o banco Oportunity, e depois de sair pela porta dos fundos do "Pirata" foi correndo para os braços do Dantas e virou DIRETOR do banco in questoin!
e agora, joseph?
Guto
O Gilmar Mendes acaba de negar o pedido de soltura do Dantas. A coisa tá ficando preta, tomara que acabe em brigas entre esses pilantras.
Bom artigo, será que o prof. Franz Neumann leu?
Coitado tão doente e o momento tão palpitante.
Será que o prof. José Bento Monteiro visitou o Prof. Neumann?
Cristóvão se souberes algo nos informa.
O Britto não vendeu a CRT para o Dantas. Quem ganhou a licitaçaõ da CRT foi a Telefónica de Espanha, RBS e Citibank. RBS se desentendeu com a Telefónica e essa foi obrigada a vender a CRT para a Brasil Telecom, administrada na época por Dantas, em valor menor do que ela (Telefónica) adquiriu do Estado do RS. O artigo do Cristóvão é bom, pena que ele generaliza. Como se todos fossem exatamente assim. Não são.
Para rememorar: a Telefónica pagou 1,09 bilhão de dólar ao Estado do RS pela venda das ações da CRT, nos anos 1996 e 1997. E a Telefónica vendeu a CRT para a Brasil Telecom, no ano 2.000, por 850 milhões de dólares. E depois dizem que o Estado do RS vendeu a CRT a troco de banana. Foi um grande e monumental negócio
Antônio Britto, o porta-voz, quase destruiu o Rio Grande do Sul! Hoje está dando conselhos para Yeda!
E o FHC, será que está consguindo dormir direito com Dantas na cadeia e Cacciola a ser extraditado???
Tudo se encaixa como um lego. O cidadão Antônio Britto, após deixar o governo de Estado, arrumou uma boquinha no Opportunity.
E o "presidente supremo" Gilmar Mendes deu, como era esperado, o HC ao DD. É um acinte. Um escracho.
A justiça continua desmoralizada porque tem medo de julgar os poderosos, medo de tratar e de investigar os poderosos como cidadãos comuns.
armando
Ora, todos sabem que foi a Telefónica que comprou a CRT, mas tbm é sabido que a Telefónica era a empresa laranja. E logo após ter adquirido a repassou à Dantas/Oportunity.
Britto Fº foi diretor do Banco, e isso ninguem comenta.
Salta aos olhos a falcatruagem.
Guto
Caro Armando:
Discordo quando dizes que a justiça tem medo dos poderosos, não é medo, é solidariedade de classe, compromisso com as falcatruas e a vontade escrachada de desrespeitar a Polícia Federal.
um abraço
Carmelita
Tem medo, tem solidariedade de classe, tem a compra de sentença também, não é mesmo?
e tem a convicção de que exerce o poder absoluto. Quem contesta a STF?
Carmelita
Bem depois da aula do Busatto ao Feijó de como fazer política, só faltava a aula do Mendes de como fazer justiça, ou sei lá o que ele acha que é justiça, ou quem sabe ele pensa que a justiça é dele, ou ainda que ele é a justiça.
AH! A Suiça é deles...
Claudio Dode
o grande negócio foi só para os apaniguados que se apossaram das teles.
O povo não acredita, nem pode, até pelo péssimo serviço que prestam.
Tem uma pesquisa, que o Maia não tem como negar, provando que a população não acredita "nelles":
Na época da privataria as teles correspondiam a 56,7 % do volume de ações negociadas na bolsa. Hoje eles conseguem só 6,17%. A credibilidade do capitalista está indicando...
Claudio Dode
Postar um comentário