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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007


Crê ou morre

O mandamento disjuntivo do "crê ou morre" é o imperativo dogmático primordial das religiões monoteístas. Das religiões monoteístas. Mas alguns ainda insistem que deva fazer parte do mundo pagão da política terrena e secular de nossos dias e noites.

Me explico: tenho recebido mensagens que tentam me convencer que estou pegando pesado com o presidente Lula e o PT, etc. neste modesto blog de província. A pressão é lícita, tudo bem.

Fui eleitor de Lula inúmeras vezes, na derrota e na vitória, na alegria e na tristeza, mas como não casei com o sapo barbudo, suponho que tenho a liberdade de discordar de Sua Excelência quando vejo contradições antagônicas sendo entronizadas como verdade absoluta na atual gestão governamental.

A agudização da luta de classes (algo positivo no governo Lula) faz com que caminhemos diariamente sobre um fio de navalha. É difícil distinguir com absoluta precisão e nitidez os inimigos de classe, os aliados de ocasião, os companheiros de jornada diária, os camaradas de toda a vida, e os imprescindíveis fazedores de História. Ora, a coruja de Minerva só alça vôo ao entardecer, e nós estamos apenas no mezzogiorno da luta. Para agravar, quando o sol está a pino, as sombras ficam tão pequenas!

Quero dizer que Lula não é - pelo menos para mim - um líder religioso. Votar em Lula, não me fez lulista. Não abro mão - em hipótese alguma - do meu espírito crítico (e autocrítico). Por isso estou vivo (bem) e penso (mal). O lulismo, o peronismo, o getulismo, etc., são religiões seculares, para o qual este incorrigível iconoclasta não está preparado para votar créditos de imorredoura fé, crença e esperança sagradas. Como disse santo Tomás de Aquino, a verdade religiosa é sobrenatural e suprarracional, e Pascal declara que a obscuridade e a incompreensibilidade constituem os verdadeiros elementos da religião. Estou fora. O mundo já é obscuro o bastante para eu usar essa burca lulista na frente das minhas cansadas retinas.

Os lulistas quando quiserem dialogar sobre política, por favor, me procurem, sou parceiro. Mas enquanto estiverem falando de religião enfatizo com lápis vermelho que estou fora.

Compreenderam, ou querem um esquema espacial na lousa?

14 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Esse é o grande problema, a esquerda espartaquista só admite conversar sobre política para falar de assuntos mofados: idelogia, estratégias de lutas de classes, fazer a determinada história, carregar na fraude do materialismo histórico. E os espartaquistas caem sempre na mesma armadilha. Basta um franciscano (responsáveis diretos pelo atraso do Brasil) fazer greve de fome que todos acham lindooooo.

Anônimo disse...

Caríssimo Tóia, quero aproveitar a deixa para reconhecer tua contribuição crítica fundamental, não fundamentalista. Discordo de muitas opiniões tuas, mas nunca deixo de ler o diário de um gauche na vida. Pena que a parte que me cabe deste latifundigital (improdutivo, no meu caso), o micro, não me permite aprofundar o assunto. Só acho que devo deixar claras algumas das minhas posições. Sou, ou melhor, tento ser, espírita e cristão essencial (que a mão direita não saiba o que faz a esquerda, sem duplo sentido). Acho que as igrejas em geral, incluindo o movimento espírita, desperdiçam energia vital demais com preocupações materiais. Incluindo prédios, transposições de rios, aliados de classe, especialmente a dominante, e as velhas contradições da falibilidade humana,comuns em todas as organizações terrenas, de católicos a socialistas espíritas, passando pelos evangélicas. Também acho que devemos todos admitir que o único discurso é a prática, o resto é pensamento alto com a finalidade de conquistar votos para não errar sozinho, o que aumenta ainda mais o erro até torná-lo um crime. Nunca pertenci ao "Partido Comunista de Ipanema", mas sempre tive o cuidado de não esquecer que a qualquer momento poderia ter me filiado a ele. Até agora, tenho sido coerente. Portanto, índio velho, respeita sim as críticas, como é do teu feitio, mas nunca deixa de criticar o que bem entenda. É dessa massa crítica que sai o antídoto para o analfabetismo político do Brecht e para o analfabetismo intelectual, do carteiro do poeta (guardadas as proporções). Sem isso o senso comum vira órfão de pais e país relapsos, que só se preocupam com o prazer que dá enfiar as sementinhas nos buracos, mas não querem nem saber dos resultados, como se não soubessem nada de biologia ou política. Há bração e "não te mixa enquanto te mexe", como diz o "Zé Díaco", um filósofo tosco que vive na "taipa" (não na barranca) do rio Uruguai.

Cristóvão Feil disse...

Abraço, Carteiro do Poeta!

Viva o Mar...tinez!

Anônimo disse...

Para quem lê várias opiniões sobre vários temas da política, em vários "sítios", externadas por vários perfis, sabe que o redator deste blog se esforça em apresentar os temas de forma a desafiar os chegados e os não convidados. Misturar boas informações com opiniões divididas entre a sabedoria e a ironia, o que é coisa pra poucos. As críticas de lulistas recebidas pelo redator são pra lá de normais, afinal, estar com sintomas de uma espécie de transtorno bipolar não deve ser fácil de esconder.Gente muito boa no PT tem vontade de "riscar fora",derrubando "panelas e prateleiras", todavia,quando balanceada a possibilidade, há o recuo pois há muita coisa em jogo. Para aqueles que já derrubaram toda a "cozinha", sobra críticas muitas vêzes com doses de forte recentimentos, autoritárias e meramente defensivas, evitando ir no centro do problema, fazendo a tal pergunta:"Era pra fazer isso que chegamos a presidência da república?"

Anônimo disse...

É isso aí Tóia. Quem precisa de 'enviado de deus'?

Anônimo disse...

Cristovão, continue na sua toada, opinião própria e independente, estou com você, apesar de discordar de algumas posições, como no caso do Bispo e a novidade é que tem um cidadão na Paraíba, fazendo greve de fome pela transposição, um homem do povo, apesar de discordar da sua atitude, agora quero ver a repercussão para este caso, afinal o Cappio é Bispo, uma "otoridade", vixe..Digo claramente, sou a favor da vida
Um forte abraço
Cido

Anônimo disse...

Amigo Tóia, quando alguém como tu, exerce um trabalho intelectual de alto brilho, com toda a crítica e autocrítica, sem meias palavras, certamente incomoda muita gente, mas segue o teu caminho, com zelo, competência, e a acima de tudo, coragem, porque Voltaire já dizia: " Posso não concordar com nenhuma das palavras que dizeis, mas defenderei até a morte teu direito de dizê-las." do teu amigo, Peralta

Anônimo disse...

mas que o cappio é chantagista e fundamentalista delirante, lá isso é...

abraço, armando

Eduardo Martinez disse...

Se bem que a idéia de "um esquema espacial na lousa" não é de todo ruim. A julgar pela qualidade do texto, imagino que sua representação infográfica estaria no mesmo nível. Hehehe...

Anônimo disse...

lousa ou loisa

Anônimo disse...

Cristóvão

Se precisares, desenho esse esquema para q tu possas melhor esclarecer certas posições - ñ só tuas - diante de certos fundamentalismos que andam soltos por aí. Se os petistas d carteirinha andam t cobrando qualquer coisa, isso é meio estranho, já q se o partido tolera esse tipo d coisa, por exemplo, - http://dialogico.blogspot.com/2007/12/enquanto-o-governo-lula-perde-batalha.html - pode tolerar tudo, principalmente as críticas fundamentadas.

Anônimo disse...

Obrigado, Eugênio.
Abç.

Anônimo disse...

Nem ao norte, nem ao sul....
Nao nos iludamos...nao haverá "tomada do poder pelo povo" seguindo este esquema burgues de "democracia".Não só porque o momento historico nao permite, mas porque a elite contamina as tentativas..
Daí a desconstituir os aspectos positivos e o que LULA fez de bom para o país, aí sim reside o crê ou morre...
Se as mudanças são pequenas,e são, pelo menos aconteceram e melhoraram a situação de muitos.Dividir a esquerda e protestar tomando cerveja em uma mesa não é encarar a realidade.
Se alguem achava que a vitoria de LULA automaticamente traria a revolução proletaria, sinceramente, é de uma ingenuidade de dar pena...
Talvez estes mais criticos achem que os PSTU,PCO e PSOL da vida tenham alguma consistência além de latir enquianto seus donos deixam, e depois, dão a patinha por uma entrevista na RBS da vida....
És un govierno de mierda,mas és nosso govierno.

Anônimo disse...

Nem ao norte, nem ao sul, muito antes pelo contrário, o que é isso Grazziotin? Parece que nós estamos sempre procurando uma boa desculpa para poupar os nossos, enquanto denunciamos aquilo que não gostamos nos outros. Aqui, ninguém acha que a revolução vai acontecer amanhã, nem que o povo esteja preparado para isso. E como és um freqüentador desse blog, sabes tb que ninguém acredita que o PSOL, PSTU e PCO são alternativas para qualquer coisa. Agora, achas que é demais cobrar do PT, por exemplo, que ele tenha um mínimo de critério na filiação de seus integrantes? Ou achar maravilhoso Hélio Costa e Jobim como ministros? O que adianta o Lula fazer algumas coisas boas, enquanto, por outro lado, dentro do próprio governo, articulam-se as políticas que destroem essas coisas boas? Tá certo que a revolução proletária não irá acontecer, mas que o Lula poderia fazer alguma coisinha a mais do que está fazendo isso poderia. Ou a menos, como não nomear figurinhas carimbadas da direita para o conselho curador da TV Pública. Achas que isso é pedir demais? Eu, modéstia à parte, mesmo não sendo um bebedor de cerveja, numa mesa de bar, teria nomeado um conselho bem melhor do que esse.
Um gobierno de mierda não é consolo para mim, mesmo sendo o meu governo.

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