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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Moacyr e o Monoteísmo




Três são os monoteísmos - cristianismo, judaísmo e islamismo. Mas eu acrescentaria um quarto, o stalinismo. O dogmatismo sub do marxismo vulgar transformado em seu contrário. Hoje é uma religião de catacumbas subterrâneas, mas muitos são os seus catecúmenos recalcitrantes. O dogma fundado pelo coveiro do socialismo teve vigência plena a partir da segunda metade da segunda década do século 20 até o ano de 1956, quando a burocracia do Kremlin resolveu denunciar seus crimes mas, a rigor, continuou trilhando os caminhos traçados pelo famigerado guia genial dos povos, qual seja, a construção de uma sociedade de mercado com o carimbo (fake) do socialismo. Mais falso que Papai Noel de shopping.

O escritor brasileiro Jorge Amado, hoje poucos lembram dele, foi um dos catecúmenos convictos do dogma stalinista brasuca. Dedicou a sua pena e o seu suor proletário à escrita edificante do realismo socialista - o horroroso jdanovismo - uma espécie de estética à muque imposta pelo Estado burocrático. Zélia Gattai, mulher de Jorge Amado, em Jardim de Inverno (se não estou enganado) relata de forma viva e amena a vida do casal na velha Tchecoslováquia, no início da década de 50. Ela conta a projeção que o marido ganhou no mundo das letras internacionais fomentado que foi pelo Kominform (Oficina de Informação Comunista, mas atenção, não levem a expressão "comunista" a sério, neste caso), que substituiu o velho Komintern, como organismo instrumental de difusão cultural do esquemático socialismo de almanaque da URSS, seus satélites e partidos espalhados pelo mundo. Jorge Amado foi lançado mundialmente como um produto da nova sociedade stalinista. No Brasil, escreveu uma hagiografia constrangedora de Luiz Carlos Prestes e artigos acríticos sobre o dogma espiritual que orientava a sua carreira de escritor festejado.

Tudo isso - há muito - se desmanchou no ar, como se sabe. De Jorge Amado, restam algumas poucas obras de autêntico valor literário e artístico. Poucas.

Entretanto, o método de fazer da literatura uma forma de instrumento de propaganda político-cultural ainda persiste. O Estado de Israel e a poderosa comunidade de milionários judeus de Nova York, do alto de suas instituições públicas de natureza cultural e científica, são adeptos deste expediente: usam a arte e a cultura como pontas de lança de suas divulgações étnicos-religiosas, mesmo que sob capas e invólucros seculares e aparentemente universais. Assim, o monoteísmo judaico se projeta no mundo sob a forma multifacetada da música (pop e erudita), da literatura, do jornalismo hegemônico, das novas tecnologias, da arte clássica e contemporânea, e do pluralismo cultural fragmentado das manifestações urbanas de nossos dias. Acho perfeitamente legítimas essas expressões étnicas e religiosas. Só discordo dos véus que encobrem a sua perfeita e nítida identificação pelos diferentes públicos espalhados pelo mundo.

O escritor Moacyr Scliar é um braço cultural deste esforço hegemônico dos atuais mandatários do "povo eleito" de Israel. Sua presença na literatura brasileira é pontuada de referências à condição de judeu, que não a oculta, e o faz muito bem, diga-se de passagem. Escreveu obras de grande qualidade literária, para além das suas convicções pessoais. Contudo, não é sempre que consegue manter a firmeza da mão que faz arte e literatura, por vezes desanda em volutas e saltos mortais encharcados de reacionarismo e atraso. Foi o caso da crônica de ontem, publicada no jornal Zero Hora (aqui).

A pretexto de comentar os recentes acontecimentos da guerra contra o tráfico carioca, o monoteísta hebreu resvala para comparações indevidas e até grosseiras. Vítima de velhos fantasmas anticomunistas, Moacyr não consegue reprimí-los, deixando-os escapar do fundo escuro de suas reminiscências achatadas pelo tempo e pelo medo de classe. Agora, Moacyr mistura tupamaros uruguaios com traficantes cariocas, mais Farcs colombianas, acrescido de Khmer Vermelho cambojano. Conclui, finalmente, sem que ninguém entenda seu passeio peripatético de braços dados com tantos fantasmas impróprios para o momento, assim: "não é queimando carros, ou jogando bombas, ou intimidando gente pacata que se vai mudar o país ou o mundo. Para isso, temos a democracia, temos o voto".

Confesso que não entendi. Será que ele está pensando que os traficantes cariocas estavam queimando carros na via pública para - ato contínuo - quererem mudar o país?

A todas essas não importa mesmo entender o monoteísta hebreu em si, nesta pequena e desvalida crônica confusa. Apenas registrar o esforço dos monoteísmos em continuarem propagando as suas matracas ideológicas com mais estridências do que significâncias.

O diacho é que ficam esses testemunhos insólitos - Jorge Amado com o seu Cavaleiro da Esperança (1944) e Scliar com as suas atuais croniquetas protojudaicas - dependurados nas biografias de escritores que poderiam ser mais dignos da arte e da literatura universais.

14 comentários:

Anônimo disse...

O Moacyr é um chato, o Chatotórix desta tribo gaulesa.

É um Davi Coimbra em ponto grande.

Demetrio disse...

O que esperar da "Real Big Shit" ("RBS")?

Mudando de assunto: somente pude ler agora a entrevista que vc postou com o Tariq Ali. Está excelente. Esse cara é fera na análise de conjuntura. Acho que esse tipo de assunto poderia ter mais presença no seu blog.

Abraço.

Juarez Prieb disse...

excelente, a rede mundial pró Israel está de vento em popa

Anônimo disse...

Podia ser: Moacyr e o sionismo

Udo disse...

Uma referência de leve à obra de Freud "Moisés e o Monoteísmo"?

Anônimo disse...

Texto de extrema direita.Achei que por engano havia entrado num blog neonazista.

Orson disse...

O Scliar, digamos, é o "bom judeu", jamais levanta a cabeça quando na presença dos poderosos, dos opressores. Sublinhe-se que é um ótimo escritor, vide "Max e os Felinos", na minha humilde opinião, um dos melhores livros em lingua portuguesa. Mas, sempre vem o mas, não dá pra entender no Scliar esta "subserviência". O que foi aquele prefácio naquela porcaria de livro do Mário Sabino. Será que ele assim procederu porque o Sabino é editor da "Veja"?

guima disse...

bom escritor, mas rastejante

Anônimo disse...

Pois é. O Scliar é o Scliar de sempre, por isso a esquerda entrou nesse texto como "Pilatos no Credo".

Raul.

Anônimo disse...

Acho que o referido escritor se confundiu muito quando escreveu este texto.Houve misturas que não se completam, situações completamente diferente.Tenho opinião que o mesmo estava com algun fumo de bananeira quando escreveu este texto.O Johnbim deve ser muito amigo dele.

Miguel Graziottin disse...

Moacyr é judeu, o que nao ha´de que falar, mas é SIONISTA, e como tal deve ser combatido à todo custo!

Fernando Coelho disse...

Sionista e chato.

Anônimo disse...

ô ô ô, devagar aí, gente. Ser judeu, negro, índio ou alemão é irrelevante. Valemos pelo que somos e pensamos, não pelo nossos genes ou 'raça'. Não concordo com a crônica do Scliar, mas ficar martelando judeu-judeu-judeu coo se isso fosse determinante também está errado - se ele fosse negro, ficaríamos repetindo negro-negro-negro? Assim parecemos nossos adversários - é só dar um rolé pelos blogs da óia ou da fôia.Wendigo

Anônimo disse...

eu sempre achei chato, uma escrita sem vida, mas pensei que fosse uma unanimidade gaúcha, não entendia bem por quê, terra de érico veríssimo, quintana e tal. Bom saber que não era picuinha minha...
Nada a ver com ser ou não judeu, se bem que ele é que frisa sua identidade a todo momento. Parece um cara indicado para escrever naquelas antologias de "escritores médicos", coisas que o cara escreve depois do expediente, uma boa terapia mas que não seduz a quem está de fora.

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