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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Modelo de Lula não sobrevive sem ele


A luta política foi levada para dentro do Estado e é arbitrada por uma única pessoa

O potencial destrutivo de um modelo que é baseado na ideia de convivência numa "comunidade fraterna", onde todas as demandas são consideradas legítimas e o Estado arbitra os ganhos de cada classe, é bastante alto. "O Lula está ameaçando a todos com sua atuação. Vamos entrar num conflito de todos contra todos depois do seu governo", disse o cientista político. Na sua avaliação, nem a candidata do presidente à sua sucessão, Dilma Rousseff (PT), nem qualquer outro postulante à Presidência, governista ou oposicionista, tem condições de manter essa conjunção de forças. E essa não é uma construção em que basta ter a ajuda de Lula nos bastidores: é necessário o seu protagonismo.

"O modelo é de uma fragilidade espantosa. É uma peça de gênio que não permite que o autor descanse nunca", afirma. A figura invocada por Werneck Vianna é a do equilibrista que mantém os pratos sobre as varetas e tem que permanentemente girar as varetas para que os pratos não caiam. O estrago seria menor, segundo ele, se Lula assumisse outro papel, o de um "grande prestidigitador" que mantivesse um mínimo de contraditório na sociedade enquanto incorpora "políticas sociais de verdadeiro alcance". Isto é: se deixasse de nivelar interesses e conflitos de classe.

O modelo Lula de desenvolvimento é produto de aproximação progressiva com a "tradição republicana brasileira", que admite "a prevalência do Estado, do público, como uma forma do todo subsumir as partes, definindo o destino das partes" e concebendo a sociedade como uma "comunidade". Nela, todos os interesses são legítimos, "inclusive os da alta burguesia, desde que cumpram uma agenda social". O exemplo é a pressão direta exercida pelo presidente Lula sobre o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, com indicações de que obrigações a empresa deveria assumir.

"O Estado tem o papel protagônico", afirma Werneck Vianna. Esse protagonismo não foi um cálculo, mas o produto de "acidentes e incidentes de percurso", ao final dos quais foram legitimadas e incorporadas "tradições de um repertório antes estigmatizado", como, por exemplo, o organismo sindical corporativo. O ciclo de desenvolvimento do governo Lula está sendo conduzido, portanto, sob uma tradição renegada não apenas pelo PT, mas pelo próprio PSDB, na constituição desses partidos, reabilitada na crise e mantida sob o gênio de Lula.

"A luta política foi sendo trazida para dentro do Estado e tudo hoje é arbitrado por uma única pessoa. Só existe um político hoje no Brasil e ele se chama Luiz Inácio Lula da Silva", disse Werneck Vianna. Disso decorre que a política fica sem espaço na sociedade.

O "triunfo da ordem burguesa" sob o governo Lula não foi prosaico, diz o cientista político, mas "grão-burguês". Recuperou funções do Estado tradicional - inclusive a de mediador da luta política - e símbolos do passado, como o do Brasil-Potência, que remetem ao nacional-populismo de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek e ao nacional-desenvolvimentismo de Geisel. No caso do atual governo, "é um nacional sem popular, abduzido pelo Estado", disse Werneck Vianna.

"Do Bradesco, passando por Paulo Skaf e Blairo Maggi, indo para as grandes agências como Finep e CNPq, e terminando na massa de despossuídos desse país, todas essas forças passam pelo Estado - e são capilarmente articuladas pela intelectualidade, via Anpocs, ONGS, sindicatos etc", disse o cientista político.

Para a esquerda, à qual ele se filia, é necessário fortalecer a esfera pública. "É preciso que os partidos políticos se autonomizem e construam uma esfera pública rica, mesmo que isso importe a desaceleração de algumas políticas", disse.

Artigo da jornalista Maria Inês Nassif, publicado hoje no diário Valor.

6 comentários:

Anônimo disse...

Mas certamente na opinião da ilustre (quem?) jornalista, qualquer modelo seria ótimo com Serra na cabeça. O PIG tem muitas caras.

rodrigues disse...

Vai te informar anônimo imbecil. A Nassif é irmã do Nassif, tem uma formação sólida e para tua decepção é de esquerda. Ela está apenas reportando a opinião do Werneck Vianna um dos grandes intelectuais brasileiros. Tu pode ser lulista roxo mas não fique burro e nem perca o espírito crítico, seu bolha.

Tim disse...

Rodrigues, não adianta criticar, o cara é religioso.

Lótus disse...

Rodrigues,
você tem razão em criticar o anônimo, todos sabem que a jornalista é de esquerda. Mas mudando a pergunta, o Werneck propõe o que mesmo hem??? Porque filosofar na universidade eu acho lindo, mas vai fazer política no Brasil. E oposição, nós já temos uma que domina a mídia, acho que no blog precisamos de soluções construtivas, você não acha?

Tupamaro disse...

O Estado brasileiro sob Lula ainda é, como sempre foi em toda história de nossa nação, um estado dominado pelas forças de direita. Não é, logicamente, o Estado da ditadura militar e dos 8 terríveis anos do (des)governo FHC. Hoje, temos um Estado de direita minimamente civilizado, não é um Estado escandinavo, mas ao menos progredimos em relação ao estado de coisas anterior. Mas, que continuamos dominados pelas forças de direita não há dúvida. A Justiça tem como seu expoente máximo um STF direitista para não dizer de extrema-direita(vide Gilmar "dantas" Mendes), o Legislativo está sob a batuta da dupla Temer/Sarney, e o governo Lula está recheado de direitistas notórios em cargos importantes
: Defesa(Jobim), Comunicações (H.Costa),Minas e Energia(Lobão), Agricultura (Stephanes), BACEN que equipara-se a um ministério, (Meirelles).
Assim, não é surpresa alguma o governo Lula penar para aprovar a inclusão da Venezuela no Mercosul, não conseguir aprovar os novos índices de produtividade na área rural, adiar a votação de aumentos iguais para todos aposentados, ver contestado pelo Judiciário o asilo concedido pelo Ministério da Justiça ao cidadão italiano acusado de crimes comuns, quando na verdade seus crimes são claramente de natureza política e, portanto, o asilo é perfeitamente compreensível.
Os mínimos avanços (redução dos juros estratosféricos, mas que continuam elevados demais; Bolsa Família; Prouni; política externa; relativo sucesso no setor econômico), no entanto, não são reconhecidos pela mídia, totalmente dominada pela direita, ou melhor extrema-direita, que apesar de todo o perfil acima traçado não dá descanso ao governo Lula, produzindo factóides um atrás de outro, na tentativa desesperada de minar o governo que melhor administrou o país para a burguesia, que nunca lucrou tanto como hoje (vide os balanços dos últimos anos do setor financeiro e de outros setores da economia).
A dúvida de W. Vianna quanto a possibilidade de o indicado de Lula para a sua sucessão(Dilma ou quem quer que seja) poder governar nesta situação, procede.
No entanto, onde não pode pairar dúvidas entre as forças progressistas e de esquerda é que não há alternativa ao sucessor indicado por Lula, ou melhor há e nós (brasileiros e gaúchos, especialmente) conhcemos muito bem: FHC, Serra, Ieda e que tais.

Anônimo disse...

Rodriguo, tu podes ter razão, mas precisas usar "imbecil" e "bolha" para explicar?

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