Os homens não perguntam mais pela verdade
O neoliberalismo foi um esforço para deslocar da cena moderna o projeto socialdemocrata e a teoria keynesiana. Implica, também, em rever os ideais iluministas de democracia formal, igualdade pelo direito e justiça social, como forma de legitimação precária e instável do conflito, no proclamado Estado de Direito.
A idéia de cidadania se já era pálida e incompleta, agora fica indeterminada no ambiente poluído de coisas e alienação. O ideal do direito burguês de cidadania, hoje, está comprometido no déficit político-institucional da sociedade da mercadoria, está alienado ao poder do dinheiro. A cidadania da forma-mercado é uma lúmpen-cidadania.
O sempre mitigado projeto democrático burguês se nunca foi muito caudaloso, hoje, é um simples córrego que paulatinamente ameaça inverter o seu fluxo de direitos civis, haja vista os retrocessos sob Bush nos Estados Unidos. A democracia como ideologia cede, presentemente, seu lugar à ciência; que assume cada vez mais funcionalidade orgânico-mecânica, tanto na base econômica, quanto na superestrutura das sociedades pós-industriais.
Se a socialdemocracia apresentou-se politicamente em módulos nacionais, privilegiadamente nos Estados nacionais, referenciada pelas formações sociais e culturais da história localista dos povos; o neoliberalismo, ao contrário, impõem-se como fenômeno transnacional, onde as conexões ocorrem por exclusiva relação econômico-monetária.
A socialdemocracia é um fenômeno de classe, de relações de classes, marcadas por um compromisso nacional hegemônico, dentro das fronteiras políticas de um Estado dado.
O neoliberalismo é um fenômeno não mais de relações de classes, mas do próprio capital que define as classes. É a autonomia do capital e do dinheiro como ordenadores fetichizados da sociedade humana. As coisas e o dinheiro como sujeitos; o homem como objeto. A quintessência da inversão marxiana. A teologização profana da mercadoria como divindade vulgarizada das coisas.
Se os mitos e as religiões são os modos primevos de os homens submeterem-se a algo que eles mesmos criaram; na pós-modernidade do capital as criações dos homens (as mercadorias e o equivalente geral, o dinheiro) submetem-no a ponto de comprometer a própria existência da vida. Subtraindo tudo do homem, só lhe resta a própria vida, na forma de um corpo sem vontade, sem liberdade, sem direitos. Uma desumanidade, assim, é quase uma animalidade – como previu Marx.
A cada dia o homem imola fragmentos da sua humanidade alienada na pósmoderna religião do mercado.
Se à modernidade corresponde a ascensão hegemônica da burguesia que se manifestou politicamente através da democracia representiva e do Estado liberal-socialdemocrata, a pósmodernidade corresponde à radicalização liberal que se despoja das veleidades democráticas (e com isso da socialdemocracia) para atender com exclusividade aos desígnios reificados do capital.
Deve-se entender, pois, que, como afirma o australiano Peter Beilharz, "a modernidade não é o que vem depois da tradição, ela é uma nova forma de tradição". E como tradição, é só memória: é ânimo pelo passado e desânimo pelo futuro. Pelo futuro nada se pode fazer, o passado já se encarregou dele – esta é a índole das tradições puras. Neste sentido, quando a modernidade faz-se só tradição, impedindo o movimento das contradições e querendo estancar as indeterminações desafiadoras do futuro, ela faz-se reacionária e anacrônica. Apesar das aparências em contrário.
A burguesia, via neoliberalismo, quer terminar a sua revolução, que julga incompleta. A rigor, quem quer terminar a sua revolução é o capital; completar-se por toda a extensão do globo – globalizar-se. Por isso, a globalização é uma designação do capital, e uma resignação da burguesia industrial. A burguesia como fenômeno de cultura nacional dá lugar a uma nova classe monetária transnacional embalada numa cultura de simulacros, tendo como suporte ideológico a legitimidade da ciência e das novas tecnologias. A forma dos Estados nacionais perdem a sua consistência na construção das justificações do Direito e da ideologia. A cientificização e a tecnologização da vida social e política ao mesmo tempo que justifica a Ordem, propõem a vertiginosa reprodução ampliada do sistema.
A ciência, assim, revela-se luminosamente na sua insuspeita lei dual: a parcela força produtiva, e a parcela ideológica. Desdobrando-se numa exaustiva dupla jornada: de dia, trabalha na produção, como operária do capital, às vezes como capital e trabalho morto; e à noite, tece um fino e transparente véu ideológico que serve de invólucro para os homens e as mercadorias. O selo científico substitui a verdade, representando a verdade. E os homens não perguntam mais pela verdade, mas pela ciência e os produtos da ciência; mal sabendo que os produtos da ciência são filhos dos próprios homens. Mas cegos, alienados, não os reconhecem, acham-se estranhos àqueles produtos, consumindo-se em irrazão e má consciência.
O neoliberalismo foi um esforço para deslocar da cena moderna o projeto socialdemocrata e a teoria keynesiana. Implica, também, em rever os ideais iluministas de democracia formal, igualdade pelo direito e justiça social, como forma de legitimação precária e instável do conflito, no proclamado Estado de Direito.
A idéia de cidadania se já era pálida e incompleta, agora fica indeterminada no ambiente poluído de coisas e alienação. O ideal do direito burguês de cidadania, hoje, está comprometido no déficit político-institucional da sociedade da mercadoria, está alienado ao poder do dinheiro. A cidadania da forma-mercado é uma lúmpen-cidadania.
O sempre mitigado projeto democrático burguês se nunca foi muito caudaloso, hoje, é um simples córrego que paulatinamente ameaça inverter o seu fluxo de direitos civis, haja vista os retrocessos sob Bush nos Estados Unidos. A democracia como ideologia cede, presentemente, seu lugar à ciência; que assume cada vez mais funcionalidade orgânico-mecânica, tanto na base econômica, quanto na superestrutura das sociedades pós-industriais.
Se a socialdemocracia apresentou-se politicamente em módulos nacionais, privilegiadamente nos Estados nacionais, referenciada pelas formações sociais e culturais da história localista dos povos; o neoliberalismo, ao contrário, impõem-se como fenômeno transnacional, onde as conexões ocorrem por exclusiva relação econômico-monetária.
A socialdemocracia é um fenômeno de classe, de relações de classes, marcadas por um compromisso nacional hegemônico, dentro das fronteiras políticas de um Estado dado.
O neoliberalismo é um fenômeno não mais de relações de classes, mas do próprio capital que define as classes. É a autonomia do capital e do dinheiro como ordenadores fetichizados da sociedade humana. As coisas e o dinheiro como sujeitos; o homem como objeto. A quintessência da inversão marxiana. A teologização profana da mercadoria como divindade vulgarizada das coisas.
Se os mitos e as religiões são os modos primevos de os homens submeterem-se a algo que eles mesmos criaram; na pós-modernidade do capital as criações dos homens (as mercadorias e o equivalente geral, o dinheiro) submetem-no a ponto de comprometer a própria existência da vida. Subtraindo tudo do homem, só lhe resta a própria vida, na forma de um corpo sem vontade, sem liberdade, sem direitos. Uma desumanidade, assim, é quase uma animalidade – como previu Marx.
A cada dia o homem imola fragmentos da sua humanidade alienada na pósmoderna religião do mercado.
Se à modernidade corresponde a ascensão hegemônica da burguesia que se manifestou politicamente através da democracia representiva e do Estado liberal-socialdemocrata, a pósmodernidade corresponde à radicalização liberal que se despoja das veleidades democráticas (e com isso da socialdemocracia) para atender com exclusividade aos desígnios reificados do capital.
Deve-se entender, pois, que, como afirma o australiano Peter Beilharz, "a modernidade não é o que vem depois da tradição, ela é uma nova forma de tradição". E como tradição, é só memória: é ânimo pelo passado e desânimo pelo futuro. Pelo futuro nada se pode fazer, o passado já se encarregou dele – esta é a índole das tradições puras. Neste sentido, quando a modernidade faz-se só tradição, impedindo o movimento das contradições e querendo estancar as indeterminações desafiadoras do futuro, ela faz-se reacionária e anacrônica. Apesar das aparências em contrário.
A burguesia, via neoliberalismo, quer terminar a sua revolução, que julga incompleta. A rigor, quem quer terminar a sua revolução é o capital; completar-se por toda a extensão do globo – globalizar-se. Por isso, a globalização é uma designação do capital, e uma resignação da burguesia industrial. A burguesia como fenômeno de cultura nacional dá lugar a uma nova classe monetária transnacional embalada numa cultura de simulacros, tendo como suporte ideológico a legitimidade da ciência e das novas tecnologias. A forma dos Estados nacionais perdem a sua consistência na construção das justificações do Direito e da ideologia. A cientificização e a tecnologização da vida social e política ao mesmo tempo que justifica a Ordem, propõem a vertiginosa reprodução ampliada do sistema.
A ciência, assim, revela-se luminosamente na sua insuspeita lei dual: a parcela força produtiva, e a parcela ideológica. Desdobrando-se numa exaustiva dupla jornada: de dia, trabalha na produção, como operária do capital, às vezes como capital e trabalho morto; e à noite, tece um fino e transparente véu ideológico que serve de invólucro para os homens e as mercadorias. O selo científico substitui a verdade, representando a verdade. E os homens não perguntam mais pela verdade, mas pela ciência e os produtos da ciência; mal sabendo que os produtos da ciência são filhos dos próprios homens. Mas cegos, alienados, não os reconhecem, acham-se estranhos àqueles produtos, consumindo-se em irrazão e má consciência.
Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo.
10 comentários:
O NEOLIBERALISMIO ESTÁ FALIDO É SÓ VER O QUE O MADOFF FEZ COM O DINHEIRO DOS OUTROS !! FALCATRUA QUE NÃO GERAVA UM EMPREGO !!! NASDAQ ?? CAPITALISMO SELVAGEM E ESCRAVIZANTE ( veja C&A em S.Paulo)! Quando produz é assim procurando escravizar !!!
A social democracia ( e eu me considero um social democrata) nasceu de um contexto específico do pós guerra e da reconstrução da Europa. Era e é fundamental a participação do EStado (este Ente que não vai nunca fenecer, como acredita o jurássico do Meszarós) como indutor da economia. Mas essa realidade de pós guerra não mais se justificava e era necessário sim que o Estado concedesse aos cidadãos e as empresas mais autonomia e liberdade. Alguns chamam isso de neoliberalismo, mas os liberais entendem que isso está muito longe de ser liberalismo. Eu até hoje não sei o que significa neoliberalismo. Esse termo está mais para chavão da mediocridade. O socialismo real - derrubado pelo povo unido que jamais será vencido - demonstrou que o Estado (qualquer Estado) por si só não tem condições de prestar aos cidadãos todos os serviços. O socialismo nunca foi além do estatismo. Este é o seu limite, mas as viúvas choram. E suas lágrimas (de crocodilo??) correm soltas por ai, como bem se vê. Coisa da vida.
Amigo Cristóvão,
Excelente aplicação de Max Weber aos tempos modernos.
Abraço
André Passos
Belo artigo Cristovão, entretanto este Carlos Maia deveria experimentar umas Zillertal.
Sugiro que assistam Zeigteist Addendum. Sequência de Zeitgeist, refere-se ao principal problema discutido no filme anterior - o sistema econômico global corrompido - fornecendo novas evidências, e oferecendo alternativas.
http://www.zeitgeistmovie.com/add_portug_brazil.htm
Beleza o artigo.
Dá uma olhada: http://doomar.blogspot.com/2009/01/walden-bello-novo-consenso-capitalista.html
Maia, não beba antes de comentar.
Belo artigo, camarada Tóia.
O Maia correu tirar suas bobagens. Ali acima onde tem um "comentário excluído" era do Maia. Disse tanta bobagem que se arrependeu.
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