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domingo, 12 de abril de 2009

Exemplo de cidadania e solidariedade


A evidência

É fácil ter opiniões firmes sobre, por exemplo, o câncer (contra) e o leite materno (a favor). Já outros assuntos nos negam o conforto de pertencer a uma unanimidade, ou mesmo a uma maioria. São assuntos em que os argumentos contra e a favor se equilibram e sobre os quais a gente pode ter opiniões, mas elas estão longe de ser firmes. Até opiniões que você julgaria indiscutíveis - exemplo: nada justifica a tortura - são controvertidas, e basta ler as seções de cartas dos jornais para ver como a pena de morte, oficial ou extra-oficial, tem entusiastas entre nós. Em assuntos como aborto, cotas raciais nas universidades, etc. coisas como a religião, a formação, a ideologia e até o saldo bancário de cada um determinam as opiniões divergentes. E não vamos nem falar nos extremos opostos de opinião provocados por qualquer avaliação do governo Lula.

Mas há um assunto sobre o qual você talvez ingenuamente imaginasse que nenhuma discordância seria possível. A brutal evidência - geográfica, cartográfica, literalmente na cara, portanto independente de interpretação e opinião - da iniqüidade fundiária no Brasil, um continente de terra com poucos donos, era tamanha que durante muito tempo uma genérica "reforma agrária" constou do programa de todos os partidos, mesmo os dos poucos donos da terra. Era uma espécie de reconhecimento da injustiça inegavel que desobrigava-os de fazer qualquer coisa a respeito, retórica em vez de reforma. O aparecimento do Movimento dos Sem Terra acrescentou um novo elemento a essa paisagem de descaso histórico: os próprios despossuidos em pessoas, organizados, reivindicando, enfatizando e até teatralizando a iniqüidade, para contestar a hipocrisia. A evidência insofismável transformada em drama humano.

Pode-se discutir os métodos do MST, e até que ponto as invasões e a violência não dão razão à reação e não desvirtuam o ideal, além de agravar a truculência do outro lado. Mas sem perder de vista o que eles enfrentam: não só a injustiça que perdura, apesar de programas governamentais bem intencionados e de alguns avanços, como um Congresso recheado de grandes proprietários rurais, o poder político e financeiro dos agro-business e uma grande imprensa que destaca a violência mas sempre ignorou a existência de acampamentos do MST que funcionam e produzem - inclusive exemplos de cidadania e solidariedade. É a minha opinião.

Crônica de Luis Fernando Verísismo, publicada hoje no jornal O Globo.

26 comentários:

Anônimo disse...

A total evidêcia... da "INIQUIDADE" fundiária no Brasil!

INIQUIDADE, O QUE É?

Talvez é preciso consultar o dicionário para que a idéia de justiça social de Luis seja compreendida por mais leitores.

Iniquidade. 1. Falta de equidade.

Equidade.
1. Disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um.
2. Conjunto de princípios imutáveis de justiça que induzem o juiz a um critério de moderação e de igualdade, ainda que em detrimento do direito objetivo.
3. Sentimento de justiça avesso a um critério de julgamento ou tratamento rigoroso e estritamente legal.

# Desculpe pelo hábito de consultar o dicionário. É uma mania de professora.
Nelly

Anônimo disse...

Dois pontos para meditar e dialogar a partir do artigo de Verissimo:

Primeiro: a identificação do "aparecimento do MST como um novo ator de intervenção social nessa paisagem de injustiça histórica."

Segundo: a identificação da ignorância da grande mídia sobre a existência de acampamentos do MST QUE FUNCIONAM E PRODUZEM - INCLUSIVE EXEMPLOS DE CIDADANIA E SOLIDARIEDADE.

É também a minha opinião!

Maria Cecília

Anônimo disse...

Grande Veríssimo, uns dos poucos colunistas que se pode ler no Brasil

Anônimo disse...

"Verísismo"?

Anônimo disse...

PARA REFLETIR:

"A imprensa brasileira usa o termo "suposto" ao se referir aos piores criminosos, tipo assim o "suposto chefe da quadrilha de mensalão". Mas alguém já leu por ai, alguma vez, a expressão "suposto agricultor ligado ao MST", quando todos sabem que o movimento é um antro de marginais que nunca pegaram no cabo da enxada? "

Procurem os créditos .

Obrigado pela visita!

Anônimo disse...

Verissímo, um raio de luz, de luminosidade, de lucidez!
Alice

Eduardo disse...

O MST é o "Ticket Dourado" que o Brasil tem para ser uma potência maior e mais rápido do que virá a ser em 2030.
Não existe potência militar e social sem minifúndio, sem a democratização da propriedade e sem o acúmulo de capital de uma classe média de pequenos produtores.
Poderíamos passear por todo o Brasil e encontrar em cada canto a pujança da serra gaúcha, que se assenta no minifúndio.
A começar pela triste metade sul do Rio Grande que é um desolado e subdesenvolvido deserto de gente.
Como em uma história de Dickens, os homens e mulheres do MST lembram aquelas crianças pobres e cheias de potencial que são escorraçadas das oportunidades de progresso avaramente guardadas por uns poucos mesquinhos e sem visão, e que poderiam florescer na mão de muitos.
Esse "Ticket Dourado" é escorraçado e perseguido pela sociedade urbana ignorante gaúcha. Se a FIERGS tivesse um tiquinho de tutano capitalista, e audácia para abandonar seus dogmas ideológicos, se aliava com o MST para criar um poderoso mercado interno gaúcho para seus produtos.
O Brasil é um drama cômico, com a esquerda precisando empurrar e obrigar os capitalistas, entre contrariados e medrosos, no sentido de crescerem e vencerem as etapas do desenvolvimento capitalista, para não ficarmos todos mofando no lado pobre e medíocre do capitalismo.

Anônimo disse...

FIERGS, FEDERASUL, FARSUL, essa gente só tem projeto para garfar o próximo ano de arrecadação estadual e federal em forma de subsídios.
O GRANDE JOGO, fazer um "puta" reforma agrária e ver esse Rio Grande crescer feito louco, isso essa gente não sonha, não imagina.
Não imaginam enriquecer em um jogo social que não controlem diretamente, como é o caso de um cenário de licitação dirigida.

Ruy disse...

Bleaaaaaaarrrrrgggggg!

Eta burrice destes comentaristas!

Anônimo disse...

O Verissimo toca no ponto nevrálgico quando diz "pode-se até discutir os métodos do MST". Pois é justamente isso que a maior parte da população brasileira, que é contra o MST, questiona.

Que a distribuição de terra no Brasil é um absurdo de desigual, ninguém tem dúvida. A questão é: é correto tentar resolver isso esmagando a lei, à força, passando por cima da democracia? Quando um de nós se sente injustiçado, pega uma foice e vai pra cima de uma pessoa ou procura as vias legais, como manda o Estado democrático de direito? Fica a questão para reflexão.

Anônimo disse...

Pois é anônimo das 22:23.
Se tem lei para Reforma Agrária, se Reforma Agrária é impulsionador de um capitalismo moderno e dinâmico de "grande classe média", e mesmo assim o movimento existe e precisa lançar mão desses meios para "aparecer", conclui-se que a sociedade urbana brasileira dorme o sono regressista dos mil anos e sem algum estrondo não vai acordar para seu próprio progresso.
Ou tu queres esperar para daqui a 300 anos essa terra ser desenvolvida, não queres vivenciar o progresso que ela tem guardada enquanto ainda caminhamos sobre ela?
Não se trata de injustiça, mas de oportunidade desperdiçada.

Nelson Antônio Fazenda disse...

O MST, que completou, recentemente, 25 anos de existência, optou, desde sua criação, pela não-violência em suas lutas. As ocupações se dão em terras improdutivas que, conforme reza a lei maior do país, a Constituição, devem ser destinadas à Reforma Agrária.
Há quantas décadas, ou mesmo séculos, a sociedade brasileira espera que seja feita a Reforma Agrária? Se não existisse o MST e sua valorosa luta, haveria alguma dessas desapropriações de terra que temos visto nos últimos anos?´ É certo que não. Sem pressão, não há mudanças, não há evolução.
Aliás, se a luta dos trabalhadores rurais sem terra não pode se coadunar com a democracia, como muitos afirmam, é preciso perguntar: que tipo de democracia é esta, então?
Que o MST comete seus erros, não há dúvidas. Nem poderia ser diferente, pois o movimento é feito de gente como a gente, pessoas que, imperfeitas, cometem erros. Contudo, os trabalhadores rurais sem terra conseguiram construir um movimento que é um exemplo a ser seguido pelos demais trabalhadores e pelo povo brasileiro em geral.

Nelson Antônio Fazenda disse...

"Os políticos latino-americanos já descobriram a melhor forma de não fazer a Reforma Agrária: reivindiá-la todos os dias". Assim escreve, em seu célebre livro As Veias Abertas da América Latina, o escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano.
E, salvo algumas honrosas exceções, assim tem sido na história de nuestra América.
O MST é uma consequência disso. É efeito, não causa.

cilon disse...

Artigo 35 da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, que diz o seguinte:

“Quando o governo viola os direitos do povo, a revolta é para o povo e para cada agrupamento do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres”.

A “Declaração” foi promulgada no dia 24 de junho de 1793, na França.

O MST faz apenas o que manda a declaração de 1793 - uma demanda ainda burguesa. Pra se ver como o Brasil é socialmente atrasado.

Anônimo disse...

Óiem, o Rolf Barbaespetada diz que o Brasiu tem 80 milhão de hectar de assentamento. Mais u Brasiu tem 800 milhão di hectar di terra. Logo, us assentamentus somam 10% (DEIZ POR CENTO) do território nacionau. Então acho que a reforma agrária tá feita. O Veríssimo não entende nada. Além disso, iscreveu isso nos jornal do PIGUI, então é lorota da direita.
ZeMané

miguel disse...

Eventualmente recebo emails desconhecidos, com textos absurdos, racistas, preconceituosos, e no fim do "suposto" artigo vem assinado Luis F. verissimo. Pois é, estes comentarios sectarios acima só comprovam minha tese. Os pesudos donos da verdades e Democratas ( grande autopiada do PFL) só aceitam artigosd que apoiem sua opiniao. Agora desconstituem o LVF, pois ele ousou ter uma "opiniao perigosa"..os NAZISTAS querem só jornalistas adestrados, que repitam a cartilha Neoliberal, quem outro a se atrever será demitido...LFV é engolido no seco, ppois a PRBS nao tem culhao para demiti-lo .....
Triste democracia esta...

Anônimo disse...

Sempre achei que é muito fácil acabar com o MST. Metade do caminho estaria andado com um mínimo de atenção séria às suas propostas. Zilhões de estudiosos tem dito que o Brasil pode aumentar em larga escala sua produ~ção agrícola sem tocar em um metro a mais que seja de seus biomas intactos. Com tecnologia adequada, de que a agroecologia já dispõe, seria possível recuperar a fertilidade das terras degradadas e proporcionar milhões de postos de trabalho(na forma de empregos ou de criação de pequenas propriedades rurais). Mas o Brasil burro teima em empurrar gente para acampamentos de beira de estrada...

Por outro lado, o MST está carecendo de autocrítica. Como seus dirigentes explicam o expediente de "alugar" militantes para sindicalistas urbanos corruptos, para pressionar empresas com os quais estes tem discordâncias? Não faz muito tempo, uma horda dessas invadiu um supermercado de uma cidade do interior, aterrorizando funcionários e dando um show de incivilidade, ao pegarem mercadorias como bolachas e chocolates, deixando as embalagens jogadas no chão. A coisa toda envolvia questões trabalhistas locais, que não tinham absolutamente nada a ver com o MST, mas os arruaceiros usavam uma série de identificações, inclusive camisetas, dando a entender que a ação tinha apoio do MST. Se não quer ser indicado como bicho-papão para as criancinhas, o Movimento teria de se autodepurar.

Felipe

Anônimo disse...

Um adendo: esse povo que fica a matraquear sobre os assentamentos deveria primeiro conhecer o que fazem. Para ter uma amostra dos benefícios que produzem, é só dar uma olhada nas bancas que mantem nas feiras ecológicas em Porto Alegre.

Felipe

Anônimo disse...

Com o Versíssimo dá uma sensação mais agradável de pensar em Rio Grande do Sul, e prova que ainda há inteligência no pampa.

Claudio Dode

Remindo disse...

Que me desculpem a cambada do agronegócio, mas a reforma agrária é fundamental.

O LFV é o maior gênio do país. Só o Juremir não acha (leiam a coluna dele de hoje).

Nesta da ReformaAgrária até o Lula está devendo.

Cristina Zubaran disse...

E porque o Cel não se manifesta aqui?Tem medo que mexam nos seus biomas?

Cel disse...

Pois é Cristina Zubaran!

Aquí, neste post, tem quase a totalidade de comentaristas "doutores" no assunto MST.

Teve um comentarista que fez um sinal de vômito. E disse que os comentários eram burrice.

Concordo com ele. MST já era. O que tem no MST são pessoas "não-agricultoras" manuseadas por agitadores que só querem mamar nas tetas do governo.

E tem muito mais falcatruas, mas tenho que parar. Eu trabalho diariamente, das 7:30 às 18:00 horas.

Até!

Cristina Zubaran disse...

.
A questão não é o MST.É a concentração de terras na mão de poucos.No inicio eram 15.Lembram das Capitanias Hereditàrias?

Anônimo disse...

Bah Cristina como tu é véia! (brincadeira)Como professores, temos mesmo que demonstrar a origem do problema. Mas não devemos omitir que é reponsabilidade do governo a manutenção desse sistema -inclusive o MST, que está sob o controle do Estado.
Daniel.

Ary disse...

Anônimo (22:23): é o movimento que faz a justiça.

Anônimo disse...

O Cel trabalha até às 18:00 horas, depois das 18 não sai do parcão. Mas nem morta

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