A midiatização do sofrimento
Como classificar um indivíduo que midiatiza e espetaculariza o sofrimento de um jovem filho com o objetivo - mesmo que inconsciente - de obter reconhecimento e notoriedade públicas?
Foi a pergunta que me assaltou hoje ao ler que o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) acompanhou a vitória do Inter em Dubai, ao lado do filho de 18 anos, em tratamento prolongado para curar-se de grave doença. A nota - com fotografia - está na coluna de Rosane de Oliveira, jornal Zero Hora, de hoje. Certamente foi remetida pelo próprio pai do valente rapaz (acima). Lá está o pai eufórico, fazendo um gesto teen de positivo, com o dedo mindinho em direção oposta ao polegar. Como sabemos, euforia é também um sintoma patológico de descompressão.
Up to date, o deputado! Tão up to date que não consegue separar a sua vida pública do mundo particular e reverente do drama familiar que sofre, não sem grande dor e lacerações várias. Expressar em público o drama pessoal ou familiar exige mediações muito sofisticadas e reflexões não-espontâneas. É como mexer com eletricidade em alta voltagem, se se fizer ligações muito diretas, um curto-circuito pode queimar o sistema. O deputado cometeu essa ligação direta, vulgarizando e banalizando um drama mórbido em nome da publicação de uma foto no jornal, nada mais.
Inúmeros autores escreveram páginas caudalosas e sofridas sobre o tema doença/morte/eu/família. Lembro agora de pronto: Kate Kollwitz (através das esculturas e crayons de sua mãe morta), Susan Sontag, Simone de Beauvoir (sobre sua mãe e sobre seu companheiro, Sartre), Darcy Ribeiro, Carlos Heitor Cony, e tantos outros. Nenhum deles, entretanto, espetacularizou o seu drama como compensação mórbida para o agudo sofrimento psíquico.
Como classificar um indivíduo que midiatiza e espetaculariza o sofrimento de um jovem filho com o objetivo - mesmo que inconsciente - de obter reconhecimento e notoriedade públicas?
Foi a pergunta que me assaltou hoje ao ler que o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS) acompanhou a vitória do Inter em Dubai, ao lado do filho de 18 anos, em tratamento prolongado para curar-se de grave doença. A nota - com fotografia - está na coluna de Rosane de Oliveira, jornal Zero Hora, de hoje. Certamente foi remetida pelo próprio pai do valente rapaz (acima). Lá está o pai eufórico, fazendo um gesto teen de positivo, com o dedo mindinho em direção oposta ao polegar. Como sabemos, euforia é também um sintoma patológico de descompressão.
Up to date, o deputado! Tão up to date que não consegue separar a sua vida pública do mundo particular e reverente do drama familiar que sofre, não sem grande dor e lacerações várias. Expressar em público o drama pessoal ou familiar exige mediações muito sofisticadas e reflexões não-espontâneas. É como mexer com eletricidade em alta voltagem, se se fizer ligações muito diretas, um curto-circuito pode queimar o sistema. O deputado cometeu essa ligação direta, vulgarizando e banalizando um drama mórbido em nome da publicação de uma foto no jornal, nada mais.
Inúmeros autores escreveram páginas caudalosas e sofridas sobre o tema doença/morte/eu/família. Lembro agora de pronto: Kate Kollwitz (através das esculturas e crayons de sua mãe morta), Susan Sontag, Simone de Beauvoir (sobre sua mãe e sobre seu companheiro, Sartre), Darcy Ribeiro, Carlos Heitor Cony, e tantos outros. Nenhum deles, entretanto, espetacularizou o seu drama como compensação mórbida para o agudo sofrimento psíquico.
Resumo da ópera: o "querido" conseguiu me estragar o dia.
18 comentários:
é, o cabra pisou na bola. feio!
sorte e saúde pra todos!
pra mim esse sujeito sempre foi um oportunista barato.
O grande Cazuza - hoje nome de praça no Baixo Leblon -- de certa forma espetacularizou sua doença. E que bom que espetacularizou, porque tornou público um grave problema. E o Brasil acompanhou de perto seu sofrimento. Um dos melhores shows que vi na vida foi o último do Cazuza em Porto Alegre, ali no Teatro Presidente (hoje templo da Igreja do Bispo). Foi de emocionar o coração de qualquer vivente. Grande Cazuza.
Cristóvão,
Triplo desespero:
1) Ele acredita em pesquisas de opinião;
2) O resultado da pesquisa colocou-o abaixo do cu do cachorro;
3) Ele quer porque quer ser prefeito de POA.
Agora, tu que conheces melhor, poderia postar algo específico sobre ele. Afinal de contas, o cara ficou com uma fama muito boa como secretário de Transportes do tio Olívio e, nessa área, PARECE ser competente.
Jeito de picareta ele tem. Mas o que está entre o lado picareta e o lado APARENTEMENTE competente pra se fazer uma média, hein?
[]'s,
Hélio
O lirismo mórbido da morte emociona mesmo, seu Maia. Pra quem tem espírito de porco é prato cheio.
Prezado Hélio, acho que não devemos gastar pólvora em chimango (ou maragato, como quiseres).
O cara é conceitualmente um deputado, segundo Weber. Esses caras só jogam no "quero-meu". Por isso, o sistema representativo é uma farsa. Esse tipo é o espelho da sociedade do espetáculo - uma coisa reflete a outra, ad infinitum.
Vendo um sujeito desses, que é um caco invertido da realidade, se entende por que a reforma política não passou no Congresso. Eles querem ser as "personas" do teatro fuleiro do Congresso, fazendo um simulacro de democracia, e cujo único compromisso é com as luzes e com os seus financiadores.
Essa gentalha dá náusea.
Abraço!
Leitor Maia,
o cazuza espatacularizou a vida inteira dele, este é um caso a parte, o sujeito era um roqueiro já na midia.Ele fazia sexo sem proteção, acho legal ele falar sobre a aids depois de doente. Este político é indecente, pior que isto foi uma mulher que perdeu as pernas e no dia seguinte, pasmem, no dia seguinte estava no Faustão, grotesco. Eu vi uma mulher na CNN cuja neta foi assassinada e após a entrevista emocionada, ela chorando dizia o número da conta bancária. O fim da decência.
Tóia, sou pai de quatro e sei que jamais faria o que o Dep. Beto ousou fazer. Alguns outros mandam até publicar nascimento de netos. Mas, no caso, acho que a motivação do pai foi fazer um agrado ao filho doente. Abç.
ou seja, Trindade, a bisca quis desenhar um canário e saiu um urubu, não é isso?
Ei Cristóvão,
você poderia linkar um assunto interessante que está na caros amigos hoje:
http://carosamigos.terra.com.br/nova/ed130/vale_apena_ler_perkins.asp
Abç.
caro gauche
vc tocou na bola mas, de leve. No Brasil é longa a história de misturar o sofrimento pessoal, privado, em coisa pública -- o que o torna um martírio. O sofrimento de Tancredo Neves, bem explorado pela mídia, produziu um governador gaúcho! Sobre as consequências (até os dias de hoje, anos depois) desse fato, os gaúchos têm melhores condiçoes de avalar. Mario Covas, um homem honrado tornou-se uma figura patética quando quase inválido, deveria ter-se recolhido à sua vida privada, à sua família. Desserviu o público e em meio a terrível sofrimento, foi utilizado por FHC & Cia. Seria interessante discutir esse costume na cultura política brasileira. Aqui seria impossível pensar um ministro renunciar ao ministério para cuidar da saúde da companheira, com uma doença grave, como ocorreu recentemente na Alemanha. Talvez até ocorresse o contrário, usar o sofrimento da mulher como arma política na vida pública. A doença na família, na pessoa é um assunto privado digno do maior respeito e não deveria ser exposto. Qualquer político tem direito a viver (e morrer, se esse for o caso) dignamente, ao lado da sua família. Aqui se produziu a noçao oposta, da direita à esquerda, o martírio rende votos -- e até respeito. Já algumas responsabilidades deixam de ser assumidas, e as contas a prestar ao público e á história sáo jogadas para debaixo do tapete, o homem (ou a mulher) é um mártir, não precisa prestar contas dos seus atos, basta sofrer para
ter seus erros justificados e suas responsabilidades relevadas...
abraço, 2008 começa bem.
zeca
Maia...o quê o Cazuza tem à ver com o Beto ????? Não entendi !
Se ele estivesse doente,claro que não faria isso,mas É O POBRE DO FILHO...
Faço votos que esse guri fique bom . (senão a gente vai ter que ver todas as fotos do enterro***tá exagerei,mas foi irresistível !!! )
Faço votos messssmo que o guri fique bom !
É que o espetáculo substituiu a vida...
O eterno postulante do PSB à Prefeitura, Beto Albuquerque, achou uma maneira deplorável de aparecer na mídia gaudéria.
Quantos não tem filhos inválidos, pessoas da família com graves doenças e, discretamente, vão vivendo a vida e tratando de seus problemas.
Político desta estirpe, usa a paixão clubística e a doença do filho como propaganda de seu ego e futura candidatura.
Para que aja identificação e certa piedade.
Na candidatura derrotada do PT ao governo do Estado(perdeu para Rigotto)este senhor teve suspeitas levantadas em seu desempenho na Secretaria de Obras.
Não posso afirmar que seriam verdadeiras, mas não foram investigadas.
Eu, particularmente, jamais votaria nele.
Ricardo Maineiri
Olha Armando... tb concordo contigo,mas o Maia..."raramentíssimamente coerente"
comparou a doença como meio de informação.Tá certo com o Cazuza,mas do quê sofre mesmo o filho do Beto???
(QUE NÃO TEM CULPA DA DOENÇA E MUITO MENOS DO PAI QUE TEM " )
Assim não é informação é Propaganda Eleitoral !
Maia ,tu sabe o nome da doença do guri???
Espero,juro pela minha família e por meus cachorros e gatos,e todas as outras pessoas que amo ,que esse guri fique bom!!!
Este patricinho sempre digno de coisas deste porte. Vá se danar ele. E Saúde ao guri.
Pro Palanque do Blackão :
Adoro essa do cachorro ,mas tem bem melhor,ops...bem pior...
*********************
" ABAIXO DO CÚ DA COBRA "
é muito rasteiro mesmo...
abraços prá tu e o Cris...leio SEMPRRREEE VCS !
"Expressar em público o drama pessoal ou familiar exige mediações muito sofisticadas e reflexões não-espontâneas. É como mexer com eletricidade em alta voltagem, se se fizer ligações muito diretas, um curto-circuito pode queimar o sistema." Seu Gauche e suas "mediações muito sofisticadas"..." reflexões não-espontâneas (santo deus!)e "ligações muito diretas.." poderia aprender a escrever, né? Sabe tudo, acusa e julga e condena todo mundo. Igual seu heroi, o capitão do Tropa de Elite.
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