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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008


Contra-reforma agrária marca 2007

O ano de 2007 foi marcado por uma contra-reforma agrária. A avaliação é do integrante da coordenação nacional do Movimento Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile (foto). Em entrevista à Radiogência NP, Stédile explica como a ofensiva do capital – neste ano encabeçado principalmente por grandes investimentos de empresas internacionais - foi responsável por uma maior concentração dos meios de produção no campo e um menor acesso à propriedade da terra. João Pedro Stedile também faz uma análise dos diferentes interesses no governo Lula, e do resultado das mobilizações lideradas pelo MST e movimentos ligados à Via Campesina.

Qual avaliação que você faz do processo de Reforma Agrária durante o ano de 2007?

JPS: Infelizmente o balanço que o MST faz do processo de Reforma Agrária durante o ano de 2007 é negativo para os camponeses e para a classe trabalhadora em geral, porque na essência, Reforma Agrária significa democratização do acesso à propriedade da terra. Já o que nós assistimos ao longo desse ano é que as forças do capital e as empresas capitalistas avançaram mais sobre a agricultura, compraram mais terra, controlaram mais a produção e os bens da natureza, isso gerou um processo de maior concentração da propriedade da terra nas mãos de menos pessoas.

E como você julga o desempenho do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) durante este ano?

JPS: O Incra, por diversas razões, como ter enfrentado agora o primeiro ano do segundo mandato [do governo Lula] a greve dos servidores [do Incra], [esses fatores acarretaram no que] talvez tenha sido o ano em que menos desapropriou fazendas nos últimos doze anos. Então, mesmo que tenham sido assentadas de 20 a 30 mil famílias, isso é insignificante diante da ofensiva que o capital fez sobre a compra de terras e sobre o controle da produção.

Quais as conseqüências da política energética do governo Lula que dá prioridade para a produção de etanol com vias de exportação?

JPS: Durante o ano de 2007 nos assistimos a uma ofensiva do capital internacional que veio ao Brasil para comprar usinas e controlar a produção de agrocombustívies, em especial a produção do etanol, do álcool para exportar aos EUA e Europa. Estima-se que a produção de cana-de-açúcar vai dobrar, passando de cinco para dez milhões de hectares. Isso também trará grandes conseqüências para a expulsão das pessoas do campo. O aumento do monocultivo da cana que destrói outras formas de biodiversidade vai atingir a renda dos trabalhadores porque diminui o emprego, e também vai expulsar a produção de alimentos para regiões mais distantes, e com isso, o preço de alimentos, como já aconteceu em relação ao milho e ao leite, devem aumentar devido a essa ofensiva dos capitalistas.

Fale sobre o governo Lula.

JPS: O governo Lula, mais do que no primeiro mandato, se transformou em um governo ambivalente. Dentro dele há forças do capital que é favor da monocultura da cana e das exportações, e tem um outro setor que é a favor do camponês e da agricultura familiar. Então, a correlação de forças dentro do governo Lula também é favorável ao agronegócio, e essa relação desfavorável só vai ser rompida quando conseguirmos aumentar nossas mobilizações na sociedade em geral.

E o que o MST fez durante 2007 para mudar essa correlação?

JPS: O MST e todos os movimentos da Via Campesina do Brasil, fizeram grandes mobilizações durante o ano de 2007. Mas essa nossa mobilização teve apenas vitórias políticas, de conscientizar a população e alertar para esse perigo de desnacionalização de nossa agricultura. Infelizmente, nós não conseguimos avançar na resolução dos problemas concretos da classe trabalhadora. No balanço terminamos o ano em negativo. Embora isso não signifique que não valha a pena lutar. Nós esperamos que as mobilizações para o ano que vem aumentem e que essas mobilizações conscientizem o próprio governo Lula.

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