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terça-feira, 29 de janeiro de 2008


Dossiê: A crise financeira mundial

Vale a pena ler esse dossiê sobre a crise financeira dos Estados Unidos, já agora uma crise mundial do sistema. Os artigos estão publicados aqui, no jornal eletrônico Esquerda de Portugal.

Tem um artigo, por exemplo, sobre os efeitos da crise imobiliária norte-americana na população negra, preferencialmente, que nos EUA está mais empobrecida que nos tempos de Martin Luther King (potencializando talvez a candidatura Obama).

E tem, também, um ótimo artigo de um economista francês que mostra didaticamente as raízes da crise. Partindo do seguinte dado: há vinte anos acontece um fenômeno mundial de aumento da taxa de mais-valia e conseqüentemente da queda das massas salariais no mundo todo, isso permite uma super-liquidez de moeda que busca frenética e insanamente remunerações extravagantes para si. Ao fim de algum tempo, a finança autonomiza-se, impondo a sua própria lógica, e esquecendo que o volume de valor disponível depende do grau de exploração (do trabalho vivo) e que este não pode, apesar dos esforços dos capitalistas, crescer de forma exponencial. As crises financeiras são, por conseguinte, manifestações cíclicas da velha e marxiana lei do valor.

Para imprimir, ler e guardar.

14 comentários:

Omar disse...

Por Roberta Paduan

EXAME

Há quatro anos, o valor de mercado do banco de investimento Merrill Lynch era seis vezes maior que o do Bradesco, o maior grupo privado do setor financeiro no Brasil. No começo de 2007, a relação de forças entre as duas instituições tinha mudado, mas o banco americano ainda valia 84 bilhões de dólares, mais que o dobro do brasileiro. Nos últimos meses, a situação se inverteu diametralmente. Hoje, o valor em bolsa do Bradesco é quase 20% superior ao do Merrill Lynch. Também o Itaú deixou o americano para trás. Mais do que uma conseqüência do crescimento dos brasileiros -- que é consistente, sem dúvida --, essa reviravolta revela toda a extensão da atual crise da economia americana. O horizonte por lá, que já era desanimador desde o estouro da bolha do setor imobiliário no ano passado, ficou ainda pior neste começo de 2008 com a divulgação dos resultados dos bancos. O Citi teve um prejuízo de quase 10 bilhões de dólares no último trimestre de 2007, o maior em um único trimestre em 176 anos de existência. E o Merrill Lynch, que tem um terço do tamanho do Citi, também anunciou perdas de 10 bilhões de dólares no terceiro trimes tre. Nessa sucessão de anúncios infelizes, o que mais chocou os analistas foi a impressão de que a crise desencadeada por calotes no segmento de subprime -- os empréstimos imobiliários de alto risco -- ainda não bateu no fundo do poço. Somente nos últimos quatro meses, as perdas dos 17 maiores bancos do mundo totalizaram 91 bilhões de dólares.

ETC.

Anônimo disse...

Aconteceram aí dois movimentos simultâneos, Omar. Um: caiu a remuneração financeira norte-americana pelos motivos sabidos. Dois: cresceram as remunerações financeiras e bancárias no Brasil, graças a política de fada do Banco Central do Brasil, totalmente hegemonizado pelos próprios bancos.
Nos EUA o mercado conspirou contra os bancos, no Brasil o mercado (e o governo Lula) trabalhou para os bancos.

Carlos Eduardo da Maia disse...

A crise imobiliária e mobiliária dos EUA não tem nada a ver com mais valia. Certa esquerda não lê e não entende absolutamente nada sobre os mercados, despreza os aspectos econômicos da vida e insiste na tola idéia de que a humanidade é movida pela gasolina da ideologia. A crise americana é cíclica, como tudo no capitalismo, e é resultado de uma bolsa especulativa no setor mobiliário (ações) e imobiliário (imóveis). O valor desses bens estão muito acima do valor real. Sugiro, para melhor compreensão, a leitura de um texto do David Leonhard exatamente sobre este assunto: http://depositomaia.blogspot.com/2008/01/bem-vindo-nova-moderao-david-leonhardt.html., publicado no New York Times e na Folha na semana passada.

Carlos Eduardo da Maia disse...

errata. onde se lê bolsa especulativa, leia-se bolha especulativa.

Anônimo disse...

Se é cíclica sai de debaixo. A crise de 29 começou justamente a partir da especulação imobiliária. Se o Maia esta certo o ciclo é descendente e a crise é das brabas.

Anônimo disse...

MAia,

Sinceramente não entendi a diferença. Simplesmente a tua explicação é identica, só que superficial.
Como e pq se cria essa bolha especulativa?
Pq a necessidade do crédito barato?
Sub-consumo?

MAs como? Segundo o teu guru "os consumidores americanos aumentaram seus gastos gerais a cada trimestre". Ora, crédito. Senãoo vejamos:"sobretudo porque as famílias usaram sua riqueza recente, muitas vezes tomando empréstimos para suplementar a renda".
Pq? Aumento da mais-valia, e dificuldade da realização do capital

MAs é óbvio: "o mercado de ações está supervalorizado em 10% em relação aos lucros corporativos e às taxas de juros".
Ai entra uma boa dose de expectativas e principalmente de financeirização, valorização fictícia para compensar a tendência de queda das txs de lucro. Já que, como bem coloca o Tóia, existe um limite na ampliação da mais-valia, tanto absoluta qto relativa.
Mas, afinal, assim caminha a humanidade. Sob o jugo do capital.

Antes de falar q os outros reproduzem uma "ideologia", ou uma "utopia", aliás, uma visão social de mundo nada mais, apresente argumentos para justificar a sua... A diferença de Marx para os Classicos é essa. Enquanto uns analisam a superfície, outros escavam as entranhas.

Anônimo disse...

É de phoder a paciência, quando alguém trata das questões políticas e econômicas, como se estas não estivessem dentro de uma matriz ideológica!!! E ataca qualquer discussão contra-hegemônica a respeito do capital, tentando desqualificá-la como "ideológica", querendo fazer crer que o sistema capitalista e os riscos do mercado não fazem parte de uma ideologia!!!

Carlos Eduardo da Maia disse...

É dificil discutir com pessoas que consideram o mercado não como fato social, mas como ideologia. E se a escola prepara as pessoas para o mercado, que é um de seus papéis fundamentais, além de construir a cidadania, vêm essas mesmas pessoas dizer que a escola é ideológica. Segundo essa lógica, tudo é ideologia, até o suspiro do Bispo.
Mais valia está associada à força de trabalho e essa bolha especulativa em relação aos imóveis e ações nos EUA não está necessariamente ligada à força de trabalho: é valor de bens mobiliários e imobiliários acima do real.

Anônimo disse...

Fato social. Boa. Mas estas se referindo ao Durkheim ou estas considerando "o mercado" como algo inquestionavel. Aliás, cabe lembrar que mercado e economia de mercado são coisas distintas. Mercadoria como única forma de valor, força de trabalho como mercadoria "sui generis" e talz. Mas essa discussão não cabe pro sr. Maia.

Anônimo disse...

Descobri o x da questão então, o Maia é positivista. ´´E dos defensores da ciência social axiologicamente neutra...Por isso os sites de milicos no seu blog.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Fernando, mercado não é inquestionável, mas ele existe, está ai. Não é deus, mas é fato e fato social. É impensável imaginar hoje em dia uma sociedade sem mercado ou um mercado completamente controlado por um Estado.

Anônimo disse...

O processo especulativo surge como "exuberância", quando se dissocia do mundo real, vale dizer das formas de acumulação com base na mais valia (hoje profundamente sobredeterminada pela inserção tecnológica).Quando surgem impasses na realização da mercadoria (vale dizer tem que ser consumidas)a mais valia desdobra-se em outras formas , em paricular sob forma financeira (isto vem desde os anos 80, as crises desde 1982 mostram as dificuldades de realização do capital... )A especulação é ao mesmo tempo resultado e negação da realização da sobre acumulação.Somente uma mentalidade positivista , que trabalha por processo mental de exclusão (A não é B)não compreende a lógica do capital. Esta mentalidade é necessária à eterna aceitação do capitalismo como o fim da história. em que pese crises cíclicas.Estas crises já em número de cinco desde a década de oitenta no âmbito financeiro tem sido compreendidas como resultado apenas da corrupção ou da falta de informações (ver nesse sentido as opiniões da intelectuais mediáticos e de liberais já perdidos no tiroteio).A crença de que se trata de algo apenas no âmbito finacceiro está aquêm inclusive da visão pragmatica do FED que timidamente tomou algumas medidads no sentido de reaticular a demanda - vale dizer realizar po capital , via baixa de juros e de impostos.Isto até Keynes compreendeu. Es lebt Marx!!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Franz, seja razoável. O capital almeja o lucro. Isso é certo, mas não é só isso. A lógica do capital não é só essa. Nenhuma sociedade conseguiu se desenvolver econômica e socialmente desprezando o mercado. A crise soviética está intimamente ligada a sua economia exacerbadamente planejada e seu mercado burocratizado que não conseguiu vencer a revolução científico tecnológica. E o castelo de cartas do mercado socialista real desabou completamente e nada sobrou. É que são instituições montadas artificialmente pelo poder político. A história é sempre a mesma para quem acha que é possível criar mercado com canetaço e sangue ideológico. Não sei se este é o fim da história, porque uma das coisas que mais detesto é cair na síndrome de Nostradamus.

Anônimo disse...

O Maia isse

"É dificil discutir com pessoas que consideram o mercado não como fato social, mas como ideologia"

Só um mentecapto pode dissociar o mercado de uma ideologia, enganadora como o próprio Maia.

Claudio Dode

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