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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008


Diante de democratas como os Clinton e seus prepostos, quem precisa de inimigos republicanos?

Jogos sujos

Charles Dickens compreendia o fenômeno: pessoas que supõem estar fazendo o bem e não conseguem perceber as verdadeiras conseqüências de suas ações. Mrs. Jellyby, em "Bleak House", era uma dessas senhoras, tão preocupada com atividades caritativas exageradas que negligenciava sua numerosa família. É, portanto, triste, mas não surpreendente, que o rosto feio do racismo tenha surgido na campanha presidencial dos Estados Unidos, e por obra dos Clinton.

Tudo começou na primária de New Hampshire. Bill Clinton alegou que o senador Barack Obama [na foto, com Hillary Clinton em segundo plano] estava perpetuando "um conto de fadas". A alusão era suficientemente ambígua, bem à maneira de Clinton ("tudo depende do que o verbo 'é' queira dizer", como ele afirmou em momento que se tornou famoso durante o caso Monica Lewinsky), calculada de forma a lhe deixar alguma margem para recuo posteriormente. Clinton explicou que ele não estava se referindo às aspirações de mudança que Obama representa de maneira tão clara para muitos eleitores democratas, e sim à alegação de Obama de que sempre havia mantido a consistência em sua oposição à Guerra do Iraque.

Depois foi a vez de Hillary Clinton, que uma vez mais fez afirmações que deixavam margem para um posterior recuo e negativa do significado implícito de suas palavras. "Esperança" não basta, ela disse. Martin Luther King precisou de um presidente, Lyndon Johnson, para tornar seu "sonho" realidade, com a lei que garantiu os direitos eleitorais dos negros norte-americanos, em 1965.

As coisas se tornaram ainda mais desagradáveis dali por diante.

Robert L. Johnson, ao apresentar a senadora Clinton a uma audiência negra no Estado da Carolina do Sul, cenário de uma primária crucial, na qual o eleitorado democrata é formado majoritariamente por negros e onde Obama disparou diante de Clinton nas pesquisas, deu a entender que Obama, filho de mãe branca e pai africano, não era negro o suficiente. Johnson, velho aliado dos Clinton, é o bilionário fundador da Black Entertainment Television, muitas vezes classificada como a "rede da exploração negra" e severamente criticada por suas novelas violentas e pela misantropia de sua cultura rap. Johnson insinuou que, na prática, enquanto Clinton estava lutando pelo bem dos negros, Obama estava experimentando drogas no South Side de Chicago. Ao ser confrontado com essas declarações, ele respondeu que "nós sempre dissemos que era necessário um candidato negro perfeito, de oratória impecável e formado em Harvard, para provar que transcendemos a questão racial". Os comentários, é desnecessário acrescentar, não tinham objetivos elogiosos.

Diante de democratas como os Clinton e seus prepostos, quem precisa de inimigos republicanos?
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Artigo do historiador Kenneth Maxwell, publicado hoje na Folha.

9 comentários:

Anônimo disse...

e o pior é que essa sonsa guampuda vai ganhar

pena!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Hillary não tem nada de sonsa.

Anônimo disse...

Os dois, Hillary e Obama, são frutos da mesma árvore envenenada, nada os separa, tudo os une.

Assim, como entre republicanos e democratas, quando se trata dos interesses do império, acabam as diferenças.

armando

Carlos Eduardo da Maia disse...

Armando, assim como existe uma diferença imensa entre o governo Clinton (que sempre participou das grandes cimeiras sobre problemas da globalização e nunca recusou a debater sobre os problemas) e o governo do troglodita do Bush, há uma diferença imensa entre democratas e republicanos e, sobretudo, na política externa.

Anônimo disse...

Armando, o fato de serem iguais politicamente, Obama e Hillary, não dá o direito à senhora Clinton de fazer as insinuações racistas que fez.

Só por isso já estaria definido meu voto nos EUA, não voto em belicista (que ela é, ao declarar apoio à invasão do Iraque) e racista. Por eliminação fico então com o rapaz negro. Para perder, porque o establishment jamais irá engolir um "negrinho que não conhece o seu lugar".

Anônimo disse...

Aqui em Pindorama na época do 2º reinado, tinha um bordão que dizia "nada mais igual a um conservador, do que um liberal no poder". Mutatis mutandis, vale para os EUA. Democratas e Republicanos representam a força política de gente fundamentalista, imperialista e superiores, sejam loiros, morenos, baixos, altos, jovens ou velhos. Nixon, republicano e falcão, reviu as relações com a China de Mao, então isolada. O liberal e pomba Clinton, manteve e reforçou o boicote contra Cuba. Mas, um e outro mantiveram os interesses guerreiros e dominadores no mundo, reforçando as 69 base norte-americanas (até 2002)espalhadas pelo mundo (símbolos do domínio gringo). As contradições não param aí. O falcão e fundamentalista Bush é o que mantém a melhor relação com o Brasil, mas em compensação esgana o resto da América Latina, fora a Colombia por interesses óbvios.

As diferenças só comprovam as semelhanças. E no caso, dos candidatos, incluindo os republicanos, todos governarão para os interesses do império sobre a desgraça do mundo.

armando

Carlos Eduardo da Maia disse...

Seria muito bom para o mundo e para os EUA um governo Obama.

Anônimo disse...

A gente sabe que o programa "Demo" de "cracia" estadunidense funciona com um partido único e duas siglas: o partido único A, "republicano", fica responsável pelo incremento das exportações dos produtos de sua maior indústria, a da guerra: armas. O partido único B, "demo-crata", assume para fazer de conta que o país mudou e os culpados pelas guerras mercadológicas e sanguinárias, que injetaram trilhões de dólares na economia vampira, não estão mais no poder. O primeiro promove conflitos para desovar seus armamentos, o segundo gasta tudo quanto pode até limpar os cofres. Depois volta o primeiro e oxigena a economia de novo e o círculo vicioso é mantido. Até quando?

Anônimo disse...

Não costumo dar corda para os maias da vida, mas tem hora que dá pena. O pinta se esforça em querer parecer um progressista e não saca que, aqui, ninguém engole esse papinho da diferença entre partido republicano e democrata!
Ninguém melhor definiu a democracia estadunidense do que o Gore Vidal: um sistema de partido único com duas alas de direita.

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